Intervenção de Tiago Vieira, membro do Comité Central, X Assembleia da Organização Regional de Aveiro

«Um PCP mais forte é essencial para que consigamos envolver mais gente na construção da alternativa de que o País e o povo precisam»

«Um PCP mais forte é essencial para que consigamos envolver mais gente na construção da alternativa de que o País e o povo precisam»

Caros camaradas,
Estimados amigos,

Depois de meses de intensa preparação, aqui estamos na décima Assembleia de Organização Regional de Aveiro do nosso Partido, o PCP!

Estamos a culminar um processo em que se envolveram centenas de camaradas, em que debatemos fraternalmente em plenários e reuniões, em que não fechámos o Partido nos centros de trabalho, mas estivemos nas ruas a dar visibilidade às nossas posições, animando os trabalhadores e o povo a continuar a luta, em que nos reunimos em convívios a celebrar o 96.º aniversário do Partido, em que fizemos dezenas de contactos com vista às eleições autárquicas.

Antes de mais, a todos os que não estão hoje aqui presentes, por estarem a trabalhar ou impossibilitados, mas que foram e são parte desta construção colectiva que é a nossa Assembleia, deixamos uma saudação.

Da mesma forma, deixamos uma palavra de apreço e estima a todos os camaradas que desde a última Assembleia nos deixaram, não por abandonarem a luta, mas por que a inexorável marcha do tempo não permite que a lei da vida seja vencida. Dos que perdemos neste tempo, permitam-me destacar em particular um, o camarada António Bidarra Fonseca, ou como todos o conheciam, o “Marco”.

“Que os meus ideais sejam tanto mais fortes quanto maiores forem os desafios, mesmo que precise transpor obstáculos aparentemente intransponíveis, porque metade de mim é feita de sonhos e a outra metade é de lutas!”

Estas palavras são de Maiakovski, mas olhando para o incrível percurso do Marco – sempre alegre, sonhador e persistente, sempre militante – podiam muito bem ter sido escritas pelo nosso Marco e é por isso mais do que justa a nossa homenagem.

Camaradas,

Neste importante momento da nossa vida democrática, saudamos também os novos militantes, aqueles mais de 150 homens, mulheres e jovens que, desde a última Assembleia, deram o passo de se juntar a nós na luta. Que sejam muito bem vindos ao Partido!

Permitam-me deixar ainda uma palavra de agradecimento aos Bombeiros de São João da Madeira pela cedência das instalações e pela disponibilidade e simpatia com que nos acolhem hoje aqui.

Permitam-me ainda deixar uma saudação especial aos camaradas da organização concelhia de São João da Madeira, que com a sua dedicação militante, com o seu empenho, é uma peça fundamental do sucesso da nossa assembleia.

Caros camaradas,

Quando há três anos realizámos a IX Assembleia, apontámos o caminho da luta e do reforço do Partido como condição para derrotar o Governo PSD/CDS. Três anos depois, a realidade dá-nos razão.

Ao contrário de muitos que baixaram os braços, que queriam esperar pelas eleições, que achavam que “quanto pior, melhor”, continuámos na luta! Insistimos, batalhámos, em alguns casos fizemos das tripas coração, mas conseguimos e, por fim, a luta do povo português derrotou aquele que foi um dos mais reaccionários Governos após o 25 de Abril!

Mas o carácter determinante que temos na sociedade portuguesa não se esgotou à boca das urnas. Enquanto uns festejavam apesar de ter perdido a maioria, outros festejavam por terem um resultadão mas pouco se importando que a direita cantasse vitória, e outros baixavam os braços abrindo a porta à direita, o PCP soube ver na janela da História uma fresta de esperança e criou condições para que o tabuleiro fosse invertido e PSD/CDS fossem varridos do Poder.

Não, não inventámos a pólvora, mas não podemos deixar de sublinhar como o que fizemos foi essencial para criar condições para uma solução política que permitiu interromper alguns dos mais gravosos aspectos da política seguida pelo Governo da Direita, para repor, defender e até conquistar alguns direitos.

Camaradas,

Tal como afirmámos no XX Congresso e aqui reafirmamos, este é um Governo do PS, não um “governo de esquerda”, nem uma “coligação”, nem outra maquineta qualquer. As oportunidades que se abrem no actual quadro têm muito mais a ver com o facto de o PS ser minoritário na Assembleia da República, do que com uma qualquer inversão de fundo da sua política.

A submissão do PS às principais linhas do grande capital, incapaz de taxar as grandes fortunas, de bater o pé aos constrangimentos que decorrem da participação no Euro e na União Europeia, de renegociar a dívida, de interromper a sangria de milhares de milhões de euros para alimentar os desmandos dos banqueiros, são bem claros.

Esta linha política tem consequências bem claras por todo o País e no nosso distrito em particular. A ausência de uma política de verdadeiro investimento público e defesa das funções sociais do Estado encontra eco diariamente nas dificuldades sentidas pelos trabalhadores e pelo povo de Aveiro.

São estruturais os défices de um distrito que continua a ver as suas imensas potencialidades desperdiçadas enquanto o mar saliniza as terras aráveis do Baixo Vouga, enquanto os incêndios lavram à velocidade de um fósforo pela floresta, enquanto os agricultores e os pescadores a contam tostões para saber como vão alimentar a família, enquanto os trabalhadores de alguns dos maiores grupos económicos do país empobrecem a trabalhar e se perguntam se terão ou não trabalho no mês que vem.

O povo do distrito sabe bem demais o que é estar horas intermináveis na urgência dos hospitais, o que significa ter de percorrer cada vez mais quilómetros para chegar à escola, pagar cada vez mais caro para ter um serviço cada vez pior de transporte, ser portajado a preço de ouro para evitar as vias degradadas e perigosas que atravessam o distrito.

Camaradas,

O que este quadro nos diz não é que nada mudou, mas sim que há muito para mudar. Essa mudança não é apenas necessária, ela é possível e alcançável, assim haja força na luta dos trabalhadores e do povo para a impor!

É evidente que tal só se consegue mudando as políticas no plano nacional, veja-se aqui mesmo em São João temos exemplos dessas injustiças. Falemos da Faurecia. A unidade aqui existente contribui para os lucros e expansão do grupo, mas faz-se gato-sapato dos trabalhadores, com autênticas praças de jorna à porta da empresa, bancos de horas, para não falar na chantagem, na coação e no assédio diários que já levaram a situações muito para lá do aceitável!

Podíamos ainda falar do sector têxtil e do calçado, ou fora daqui de casos como o da LusiAves, da Nestle, da Prozinco, do Grupo Bosch, da Bi-Silque, do grupo Simoldes, da Molaflex, da Colep, da Ideias e Detalhes, da Ria Blades, da Flapesa, da Oliveira e Irmão, da OLI, da Pascoal, da Sorgal, da Vicaima, da Vista Alegre...

Camaradas,

É preciso ir à luta e encontrar nos avanços tímidos que se vão alcançando não um factor de resignação ou acomodação, mas antes um estímulo a ir ainda mais longe, a reforçar a intervenção pelo que é justo e, como é cada vez mais incontestável, necessário e possível!

Nessa luta, joga um papel fundamental o movimento sindical unitário e é por isso mesmo decisivo que os comunistas estejam organizados nos seus sindicatos de classe, contribuindo para o seu reforço, para que estes vão mais longe na defesa da luta pelos direitos e interesses dos trabalhadores!

Saudando daqui a União de Sindicatos de Aveiro e todos os sindicatos da CGTP pelo seu importante papel, deixamos um apelo muito claro a todos os jovens trabalhadores que participem no dia 28 de Março, na manifestação da Interjovem contra a precariedade, e a todos, todos sem excepção, que não faltem à manifestação do dia 1 de Maio em Aveiro!

Camaradas,

Uma vertente fundamental da continuidade da luta é o reforço do nosso Partido. Um PCP mais forte é essencial para que consigamos envolver mais gente na construção da alternativa de que o País e o povo precisam.

Desde a IX Assembleia demos importantes passos. Actualizámos a situação dos militantes do nosso distrito; aumentámos o número de militantes a participar em organismos e a pagar quotas; realizámos assembleias de organização em concelhos onde jamais o tínhamos feito; levámos mais longe o nosso Avante, chegando a mais camaradas e amigos; melhorámos e expandimos o espaço de Aveiro na Festa do «Avante!», como parte da grande campanha de aquisição da Quinta do Cabo; fomos capazes de ter uma intervenção mais próxima da realidade dos trabalhadores e do povo, tomando posição sobre muitas situações das mais graves que assolam o distrito.

Camaradas,

O reforço do Partido não é uma necessidade abstracta ou desligada das aspirações do povo. Que o digam os trabalhadores da Funfrap que depois da nossa iniciativa de denúncia da precariedade viram a administração ceder à comissão sindical e passar dezenas a efectivos; que o digam os trabalhadores da Tapeçaria Ferreira de Sá que viram o seu salário aumentado na sequência da nossa intervenção pública sobre a exploração naquela empresa.

É justo dizer que temos dado passos positivos e que isso se sente na vida do distrito, mas temos ainda um longo caminho pela frente. Precisamos de recrutar e enquadrar mais novos militantes, particularmente nas empresas e locais de trabalho, para termos mais bocas para exigir o que é justo; precisamos de vender mais avantes, para ter mais gente a ler e compreender o que é correcto; precisamos de recolher mais quotas para ter os meios para chegar mais longe; precisamos ter mais organismos com funcionamento regular para sermos capazes de intervir de forma mais atempada e acertada junto das populações, mobilizando-as para a luta!

Muitas vezes falamos do colectivo partidário, d’ “O Partido” como se fosse uma entidade abstracta que paira sobre nós. Mas desenganemo-nos, o Partido somos nós, tem para andar as nossas pernas, para ver os nossos olhos, para trabalhar os nossos braços, para pensar as nossas cabeças. É verdade que ninguém é insubstituível, mas somos todos e cada um indispensáveis no caminho que temos para percorrer!

Caros camaradas,

Teremos este ano uma tarefa particularmente árdua e importante, mas plena de potencialidades para o reforço do Partido e da luta de massas. O envolvimento nas eleições autárquicas deve ser encarado como uma oportunidade para convocarmos o povo trabalhador, os homens, mulheres e jovens do nosso distrito a reflectir e agir pela sua terra, pela sua vida, pelo seu futuro e, por essa via, a ter contacto com o Partido, com o nosso colectivo!

Também por isso temos de ir tão longe quanto possível. Para isso, todos e cada um devem envolver-se, participando nas listas, contribuindo na campanha e contactando os conhecidos para fazerem parte desse exaltante colectivo que é a CDU! Trabalhemos para fazer das autárquicas um poderoso elo de uma corrente em que todas as frentes se ligam e em que, com alegria e confiança, podemos dar passos para ficarmos mais fortes!

Camaradas,

Foi há cem anos que o Povo russo abalou o mundo e virou a ampulheta da História, deixando claro que jaz nos trabalhadores a possibilidade de passar do capitalismo ao socialismo. Essa vontade, até aí tantas vezes ensaiada sem maturidade táctica ou meios objectivos para vencer, vingou e provou-se como inolvidável experiência de construção de um país e um mundo livres do colonialismo, da opressão e da exploração.

Celebrarmos o 100º aniversário da revolução de Outubro não se trata de um exercício de nostalgia, nem da recolha de uns modelos para decalque. Trata-se de fazer justiça para com a História, tantas vezes triturada e distorcida numas abordagens pseudo-científicas de trazer por casa.

Levaremos o debate e a reflexão para a rua, para escolas, para colectividades e para onde mais queiram connosco pensar e debater. De resto, convidamos todos os presentes a comparecer na primeira grande iniciativa no nosso distrito – no final da tarde de dia 7 de Abril, na Capitania de Aveiro, para um debate sobre o impacto da Revolução de Outubro nas condições de vida dos trabalhadores e do povo.

Camaradas,

Em nós carregamos um insanável desejo de transformar o mundo e, ao mesmo tempo, a certeza que o mundo não será mudado por um golpe, num estalar de dedos e que isso significa que o que aqui andamos a fazer demora tempo, exige paciência e dedicação.

Desengane-se quem achar que nisto há alguma contradição. Ser revolucionário é isso mesmo: ser apaixonado pela mudança, mas ser sereno e firme como uma árvore centenária, seguro que o futuro é dos trabalhadores, que com a luta construiremos a paz, o progresso, a justiça e a igualdade, uma democracia avançada, como parte da construção do socialismo, rumo ao comunismo!

Concluo com as palavras de Nazim Hikmet, poeta comunista turco, que falava do amor como quem fala da transformação social, ou se preferirem que falava da transformação social como quem fala de amor:

O mais belo dos mares é o que ainda não vimos.
A mais linda criatura é a que ainda não nasceu.
Os nossos dias mais bonitos, ainda não os vivemos.
E o melhor de tudo o que tenho para te dizer, ainda não to disse!

Viva o PCP!