Declaração de Álvaro Cunhal, Secretário-Geral, Conferência de Imprensa

Proposta do Partido Comunista Português para a solução da crise actual

[Extractos da declaração da Comissão Política do Comité Central do PCP, apresentada por Álvaro Cunhal, Secretário-Geral do Partido na Conferência de Imprensa realizada em Lisboa em 28 de Agosto de 1975 no Centro de Trabalho do PCP em Alcântara.]

A crise político-militar arrasta-se perigosamente (…) existe o perigo real de um avanço reaccionário e da formação de um governo de direita que, no imediato ou a médio prazo, ponha em causa as liberdades e as outras conquistas fundamentais da revolução, como as nacionalizações e a reforma agrária. (...)

Para os problemas políticos existentes é necessário encontrar, não uma solução de força, mas uma solução política. (…)

As forças revolucionárias (militares e civis), a classe operária e as massas populares estão dando firme resposta às violências, actividades, manobras, conspirações e preparativos de golpes das forças reaccionárias e conservadoras. (…)

A resistência, a luta consequente e a firmeza não bastam, na situação actual, é indispensável maleabilidade, iniciativa e sobreposição dos interesses superiores da política para o problema. (…)

O PCP, consciente da gravidade da situação, lança um veemente apelo a todos quantos querem impedir a instauração de uma nova ditadura terrorista em Portugal. A irredutibilidade e o extremar de posições entre forças e elementos que tem estado com o processo revolucionário aproveita à reacção fascista. A salvação exige que tudo seja feito para evitar confrontos armados entre sectores que tem estado com o processo revolucionário. Só existe um caminho para evitar o pior: Um esforço imediato no sentido de encontrar em comum uma solução política para a crise. (...)

O PCP propõe que seja considerada por todos os interessados a imediata realização de um encontro entre as delegações das principais forças e sectores que podem e devem procurar em comum uma solução para a crise designadamente:

A) Representantes oficiais das instâncias do Poder Militar e Civil (Presidência da República, Governo Provisório, Conselho da Revolução).

B) Representantes das principais tendências existentes no MFA - Esquerda Militar, Oficiais do COPCON, Grupo dos 9.

C) Representantes de Partidos Políticos; Partido Comunista Português, outros partidos e organizações participantes no projecto da criação duma ampla frente revolucionária, Partido Socialista.

Um tal encontro, para o qual todos os participantes fossem animados, não pela ideia de supremacia ou hegemonia, mas pelo propósito de se encontrarem soluções viáveis adaptadas à situação, poderia significar um passo decisivo para superar a crise.

O prolongamento da crise só à contra-revolução pode aproveitar. Chegou o momento de todas as forças, sectores e dirigentes políticos tomarem sem qualquer ambiguidade as suas responsabilidades. O que esta em jogo não é tanto o sucesso ou insucesso deste ou daquele grupo, sector ou personalidade, mas a vitória ou a derrota da revolução portuguesa.

  • 25 de Novembro de 1975
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  • 25 de Novembro
  • Álvaro Cunhal