Intervenção de Miguel Tiago na Assembleia de República

"Governo castiga e insiste em destruir os direitos daqueles que têm pago sempre, com o seu trabalho, a riqueza dos que destroem o País"

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Sr.ª Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Sr.as e Srs. Deputados:

Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, se corre tudo bem — é o que a troica e o Governo nos dizem —, então porque é que não param de vir sugerir ou, aliás, impor cada vez mais exigências e cada vez mais golpes nos direitos dos portugueses?

Se dizem que tudo corre bem, quando o desemprego atinge níveis recorde e coloca já mais de 1,3 milhões de portugueses sem trabalho, porque é que dizem que é preciso continuar a cortar nos salários? Porque é que a troica tem o descaramento de vir ao Parlamento dizer que Portugal não tem de se dar ao luxo de ter hospitais modernos e que devia encerrá-los e que não tem nada que ter uma rede pública de cuidados continuados, porque isso até é uma grande despesa? Se tudo corre bem, das duas uma, Sr. Secretário de Estado: ou os resultados esperados eram estes ou estão a enganar-nos, porque se tudo corre bem com o País nesta situação, então o Governo deve muitas clarificações ao povo português.

Já agora, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados que sustentam o Governo, é importante que nos digam qual é a vossa postura perante estes golpes que têm vindo a ser desferidos por diversas vozes contra os direitos dos portugueses, nomeadamente contra os salários, quer seja pelos senhores da troica, quer seja até por António Borges, consultor do Governo, que vem dizer que mais do que uma política é uma medida urgente cortar os salários dos portugueses.
Trata-se de uma campanha que este Governo e os grandes patrões e a banca em Portugal levam a cabo para salvaguardar os seus interesses, contra os trabalhadores portugueses.

Os senhores do Governo, do PSD e do CDS fazem esta campanha porque sabem — e sabem já tão bem como o PCP sabe — que esta dívida é impagável nestes termos, porque o rumo que o País está a seguir é precisamente o rumo da bancarrota, é o rumo da destruição da capacidade de recuperação do nosso País, é o rumo da recessão e de castigar precisamente os mesmos que não têm qualquer responsabilidade na crise que estamos a atravessar.

Para salvar os bancos, para salvar os grandes interesses económicos, este Governo castiga e insiste em destruir os direitos daqueles que têm pago sempre, com o seu trabalho, a riqueza dos que destroem o País.

Porque é que insistem, Srs. Membros do Governo, PSD e CDS, neste rumo de destruição e não na renegociação da dívida? Porque não agora, ainda de cabeça erguida, renegociar a dívida em termos que sejam favoráveis ao País? Porque não renegociar agora, em vez de insistir no rumo de destruição?

Srs. Membros do Governo, o rumo que a Grécia toma, com um ano de avanço sobre Portugal, demonstra bem o que nos espera. E, lá, a renegociação foi imposta a um povo, foi imposta nos termos dos credores, prejudicando ainda mais, numa renegociação já de joelhos.

É para aí que querem conduzir o povo português, Srs. Membros do Governo?

Uma última nota: este Governo teima muito — e também o PSD e o CDS — em ridicularizar a necessidade de renegociação, que é uma evidência que se afirma a cada dia que passa ao olharmos à nossa volta, aos vermos o desemprego a crescer, a produção a diminuir, o consumo interno a decair, ao vermos a receita fiscal e as contas públicas a desequilibrarem-se. Essa é uma evidência cada vez mais forte, mas o Governo insiste em dizer que é preciso cumprir os compromissos. É preciso cumprir os compromissos com os patrões, com os bancos, com os criminosos da banca, que levaram bancos e bancos à falência e que levaram o País a enfiar 8000 milhões de euros só num banco, em poucos meses.

Os mesmos que dizem que é preciso cumprir esses compromissos são aqueles que não hesitam em rasgar os compromissos com o povo português, com os trabalhadores, a cada dia que passa, nas suas costas, unilateralmente e sem negociação alguma. Este é um Governo servil a esses mesmos interesses e é um Governo que fala muito grosso para baixo, que usa a coragem contra os mais pequenos e contra os mais fracos, contra os trabalhadores, mas que fala sempre muito fininho para cima.

Disse.

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