Intervenção de Paulo Sá na Assembleia de República

A estrutura acionista da banca nacional

Sr. Presidente,
Srs. Deputados,
Sr. Deputado Carlos Costa Neves,
O controlo cada vez maior da banca nacional pelo capital estrangeiro é um problema. É um problema porque significa o controlo dos centros de decisão nacionais pelo estrangeiro e é ainda mais grave quando se trata de um setor estratégico como a banca.
Sr. Deputado, o problema é a banca nacional estar entregue a grupos económicos e financeiros que a gerem não em benefício de Portugal e dos portugueses, mas, sim, na ótica da maximização dos lucros. Esse problema, Sr. Deputado, apenas se resolve com o controlo público da banca.
O setor bancário privado não serviu, nem serve, os trabalhadores, as populações, as empresas, os produtores, a economia nacional, nem serviu, nem serve, o País. Pelo contrário, prejudicou-os.
Por isso, Sr. Deputado, o que é preciso é que o Estado assuma o controlo da banca. É aqui que reside a resposta ao problema! É preciso dar esse passo e garantir que a banca portuguesa, controlada pelo Estado, passe a estar ao serviço dos interesses nacionais.
O Sr. Deputado Carlos Costa Neves veio aqui hoje lamentar o crescente controlo da banca nacional por capital estrangeiro. Este lamento, Sr. Deputado, cheira a hipocrisia, a profunda hipocrisia política!
Então, o PSD não se assumiu sempre como o defensor do controlo do setor bancário pelo capital privado?
Então, não foi o PSD que, no anterior Governo, juntamente com o CDS, obrigou a Caixa Geral de Depósitos a vender parte dos seus ativos, nomeadamente no setor segurador, enfraquecendo o único banco público português?
Então, não foi o Governo do PSD que vendeu ao desbarato o BPN e tentou entregar de bandeja o Novo Banco a capitais privados?
Por acaso, não é o PSD um acérrimo defensor da união bancária, um processo que tem como objetivo central a concentração da atividade bancária em meia dúzia de megabancos das principais potências capitalistas da União Europeia?
Por acaso, não defende o PSD a livre circulação de capital, em particular do capital financeiro?
Por acaso, Sr. Deputado, não tem o PSD aplicado uma política de favorecimento dos grandes interesses privados, nomeadamente no setor bancário?
O anterior Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho nem sequer se preocupou em esconder o seu contacto com José Maria Ricciardi, mantendo-o à frente do BES Investimento, já depois do escândalo BES/GES, assumindo essa ligação de promiscuidade entre o poder político e o poder económico.
Sr. Deputado Carlos Costa Neves, a sua declaração política é um hino à hipocrisia. Não venha agora «chorar lágrimas de crocodilo», quando o PSD teve sempre um papel determinante nas opções que levaram a banca nacional à situação em que se encontra.

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