Comunicado do Gabinete de Imprensa dos Deputados do PCP no PE

Sobre as conclusões do Conselho Europeu de 1 de Fevereiro de 2024

As conclusões do Conselho Europeu ficam marcadas, uma vez mais, pela vergonhosa  ausência de qualquer referência à dramática situação na Palestina em consequência da brutal  agressão de Israel. Uma opção reveladora do cinismo e da hipocrisia de quem, noutras  ocasiões, é prolixo em proclamações e condenações sobre violações do direito internacional, dos direitos humanos e da democracia. Uma posição que traduz uma efectiva e indisfarçável  cumplicidade com os hediondos crimes, massacres e atrocidades cometidos por Israel contra  o povo palestiniano. 

A reunião do Conselho Europeu aprovou, como se previa, a revisão intercalar do Quadro  Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027 da União Europeia (UE). 

Esta revisão, envolvendo um montante total de 64,6 mil milhões de euros, é determinada não  pela necessidade de dar resposta aos reais problemas de cada país e de cada povo, mas sim  por interesses que são alheios e contraditórios com essa necessidade. 

Na verdade, as conclusões do Conselho Europeu evidenciam uma vez mais que na UE há  sempre mais e mais dinheiro para a guerra, mas não para resolver os problemas que os  trabalhadores e as populações enfrentam. 

A atribuição, até 2027, de 50 mil milhões de euros ao agora designado “Mecanismo para a  Ucrânia” – dos quais 33 mil milhões de euros em empréstimos e 17 mil milhões em  subvenções não reembolsáveis – traduz a insistência da União Europeia no prolongamento da  guerra e da confrontação e na rejeição da abertura de vias de negociação que visem alcançar a  paz.  

Aos 50 mil milhões de euros agora decididos poderá vir ainda a somar-se o resultante do  reforço do cinicamente chamado “Mecanismo Europeu de Apoio à Paz”, um instrumento que  visa continuar a alimentar a guerra. A este respeito, é sintomático que o Conselho Europeu  tenha reiterado o acelerar das entregas de mais armamentos, considerando que “contribuirão para aumentar a capacidade de produção da indústria europeia”. Uma confissão sobre que  interesses verdadeiramente serve a insistência na política de instigação e prolongamento da  guerra, com todas as suas dramáticas e gravosas consequências para os povos. 

O QFP 2021-2027, sendo o orçamento plurianual da UE, determina em grande medida as  suas prioridades de actuação, espelha as suas grandes opções políticas. As decisões agora  tomadas pelo Conselho Europeu vão no sentido oposto àquilo que seria necessário. Não  resolvem, antes contribuem para agravar problemas e dificuldades existentes. Ao invés de  decisões que acentuam a deriva militarista e a dinâmica de divergência no seio da UE, entre  países e dentro de cada país, é necessário travar e reverter este caminho. É necessário um  orçamento da UE que, tendo em conta as diferentes realidades económicas e sociais  nacionais, contribua, entre outros aspetos, para: a melhoria das condições de vida e o combate  às desigualdades e injustiças sociais; o incremento do investimento produtivo, priorizando os  países com défices produtivos persistentes; a melhoria e modernização dos serviços públicos;  a defesa da natureza, o combate às alterações climáticas e o uso sustentável dos recursos  naturais; a diminuição das assimetrias territoriais; a promoção da paz e da cooperação.

Refira-se ainda que em menor dimensão, a revisão intercalar do QFP 2021-2027 visa reforçar  também:  

- A “gestão de fronteiras” (em 2 mil milhões de euros) e a “externalização de fronteiras” (em  7,6 mil milhões de euros), intensificando uma política que é selectiva, repressiva e desumana  face aos migrantes, que subverte princípios do direito internacional em matéria de asilo, que  paga a países terceiros para travar e conter movimentos migratórios e que ignora as causas da  migração – consolidando uma política migratória e de asilo igualmente defendida pela  extrema-direita; 

- O “Fundo Europeu de Defesa” (em 1,5 mil milhões de euros), acentuando a deriva  militarista que absorve cada vez mais recursos, que faltam noutras áreas; uma deriva que  aproveita sobretudo ao complexo industrial-militar das principais potências europeias, as  mesmas que serão as principais beneficiárias da Plataforma de Tecnologias Estratégicas para  a Europa (STEP), para a qual são agora criadas condições de financiamento mais favoráveis  do que as previstas para os fundos estruturais e de coesão; 

- Os instrumentos de “flexibilidade” e “especiais” (num total de 3,5 mil milhões de euros),  incluindo os que visam fazer face a situações imprevistas, que se encontravam presentemente  exauridos, nomeadamente devido à sua mobilização para reforçar rubricas relacionadas com  o militarismo e a guerra. 

De forma inaceitável, para fazer face ao impacto do aumento das taxas de juro no pagamento  da dívida contraída para constituir o Mecanismo de Recuperação e Resiliência, confirma-se a  adopção de um “mecanismo de cascata”, que prevê o recurso à reafectação de fundos de  orçamentos futuros, inicialmente previstos para outras áreas, para o pagamento dos juros da  dívida contraída. Além disso, é certo que a revisão agora efectuada implica o corte de fundos,  entre outras, em áreas como: a cooperação e a ajuda ao desenvolvimento; o Programa-Quadro  de Investigação (“Horizonte Europa”); o Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização; a  gestão da Política Agrícola Comum e dos fundos de coesão; e o programa “UE pela saúde”.

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