Intervenção de Paula Santos na Assembleia de República, Debate com o Primeiro-Ministro sobre política geral

O compromisso do Governo é com os grupos económicos sacrificando salários e pensões e fazendo regressar a fome

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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

Sr. Primeiro-Ministro,

No início deste ano, o senhor Primeiro-Ministro, considerou que o aumento da inflação “é como é”, como se fosse uma espécie de fatalidade e não houvesse nada a fazer, procurando justificar a inação do Governo para travar o aumento especulativo dos preços de bens e serviços essenciais.

Passados dois meses, a situação económica e social agravou-se, cresceram as dificuldades das famílias e a pergunta que lhe fazemos é se “é como é”, e, portanto, continuará a não haver qualquer resposta do Governo para valorizar salários e pensões nem controlar e fixar preços de bens essenciais? Se o Governo vai manter a opção de continuar a recusar as soluções que são necessárias para evitar o empobrecimento de quem vive do seu trabalho e de quem trabalhou uma vida inteira? 

Sabe a quanto é pago por um quilo de pera rocha ao produtor e a quanto é vendido nos supermercados? Nós dizemos-lhe. Há três anos um quilo de pera rocha era pago a 15 cêntimos ao produtor, hoje é pago a 25 cêntimos, mas há três anos era vendido a 1,49 euros e agora já foi atingiu 2,49 euros. Os produtores ficam com mais 10 cêntimos e a grande distribuição fica com mais 1 euro. Quem fica com a parte de leão?

As famílias estão a cortar na alimentação. Se há redução na procura, como explica que os preços continuem a aumentar? Alguém se está a aproveitar e não são os produtores. 

Foram identificadas margens de lucro especulativas em diversos bens alimentares.

Os lucros da Sonae aumentaram 27,7% em 2022 e da Jerónimo Martins aumentaram em 29,3% nos primeiros nove meses de 2022.

A inflação não resulta do aumento da procura, mas da sim do aumento das margens de lucro.

E perante isto o que faz o Governo? Espera para ver como afirmou o Ministro da Economia? Acha mesmo que é com um observatório de preços e com um selo que os preços dos bens alimentares vão baixar? Que se resolve com medidas policiais ou com pedagogia à grande distribuição?

A questão está em saber se o Governo vai continuar a deixar incólumes os interesses dos grupos económicos e os seus lucros ou se de uma vez por todas vai adotar as soluções que se exigem e definir preços máximos para os bens alimentares e demais bens essenciais, considerando os custos de produção e os custos da logística, removendo as componentes especulativas? 

E não venha dizer que é preciso deixar o mercado funcionar, está à vista o resultado, os preços sempre a subir. Nem se ameace com prateleiras dos supermercados porque vazias estão a ficar as das casas das famílias. Por exemplo, o preço das máscaras foi fixado e não faltaram.

Escusa de enganar o povo para justificar o compromisso do Governo com a salvaguarda dos interesses dos grupos económicos, mesmo que para isso sacrifique salários e pensões ou faça regressar a fome. 

O que tem o Sr. Primeiro-Ministro a dizer aos milhares e milhares de trabalhadores, de reformados, de jovens, que este fim-de-semana, presentes na extraordinária ação de luta, convocada pela CGTP, que daqui saudamos.

Trabalhadores e reformados a quem sobram dias todos os meses, porque o salário e a pensão são curtos, não sabem até quando conseguirão pagar a casa e a pôr comida na mesa em todas as refeições, contrasta com os escandalosos lucros dos grupos económicos.

Trabalham, criam a riqueza deste país, portanto mais do que apoios pontuais, os trabalhadores e os reformados precisam é que os salários e as pensões sejam aumentados.

 

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