Intervenção de Miguel Tiago na Assembleia de República

"A única coisa que sai do país não é a troika mas sim as riquezas produzidas pelos portugueses"

Intervenção de Miguel Tiago na Assembleia da República, no debate agendado pelo PCP em torno do Documento de Estratégia Orçamental (DEO)
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Sr. Presidente,
Sr.ª Ministra,
Ouvindo a sua intervenção, de facto, ficamos a questionar-nos sobre a seriedade com que encara este debate e a seriedade com que encara, inclusivamente, a situação que os portugueses atravessam.
Na sua intervenção, a Sr.ª Ministra fala em proteger os mais fracos, os mais frágeis, em assegurar a todos o direito à saúde e à educação quando o que vemos é, precisamente, no momento em que vivemos, o contrário, ou seja, a concentração da riqueza, a proteção dos grandes grupos económicos, a consolidação dos monopólios e o prejuízo das camadas trabalhadoras da população.
Sr.ª Ministra, o que nos disseram ao longo dos tempos foi que os sacrifícios, os cortes nos salários e nas pensões, a carga de impostos e de contribuições seriam para terminar nesta altura e que, agora, seriam devolvidos os salários e as pensões aos trabalhadores.
Todavia, no Documento de Estratégia Orçamental o Governo aquilo que se diz é que, depois dos três anos e meio de cortes nos salários e nas pensões, aquilo que tem para os portugueses são mais cortes nos salários e nas pensões.
Dizem que haverá uma reposição gradual dos salários e das pensões quando, na verdade, não existe nenhuma reposição; o que existe é, ao invés de devolverem aquilo que roubaram ao longo destes últimos anos, um novo corte principalmente sobre os salários e pensões.
Ao mesmo tempo, aumentam a carga de impostos sobre os portugueses, aumentam as contribuições, e isso vai diminuir o rendimento disponível dos portugueses, ou seja, continua o rumo do empobrecimento como solução de acordo com o Governo.
Sr.ª Ministra, sobre o tal milagre do crescimento, da recuperação económica, que tarda em mostrar-se, importa fazer alguma reflexão: a quem serve esse crescimento de que a Sr.ª Ministra e o seu Governo falam? Um crescimento à custa dos vencimentos e dos salários dos portugueses, à custa do desemprego? Um crescimento que é apenas o de uma parcela de riqueza que fica nas mãos dos grandes grupos económicos? A quem serve esse crescimento? Este é o crescimento dos lucros e é a diminuição dos rendimentos do trabalho.
Sr.ª Ministra, quero colocar-lhe ainda uma questão sobre a ideia da saída da troica, da saída limpa ou de qualquer outra saída. A única coisa que sai do País, de facto, não é a troica, Sr.ª Ministra; são as riquezas dos portugueses a 21 milhões de euros de juros da dívida por dia…!
Aliás, a única coisa que fica limpa são os bolsos dos trabalhadores, porque a troica, essa fica cá e não há nenhuma saída.

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