Intervenção de João Silva, Encontro «Os comunistas e o movimento sindical – uma intervenção decisiva para a organização, unidade e luta dos trabalhadores»

Os quadros – recrutamento, formação, acção e militância

Os quadros – recrutamento, formação, acção e militância

1 – Sobre o recrutamento de Quadros

A unidade, a coesão interna e o dinamismo das organizações sindicais, a capacidade de sindicalizar, organizar e dirigir a luta dos trabalhadores, dependem em grande medida da quantidade, qualidade e militância dos quadros sindicais.

Por isso, a política de quadros, a começar pelo recrutamento, a sua inserção no trabalho colectivo, desde logo nas comissões sindicais e intersindicais, a atribuição de tarefas e responsabilidades e a formação teórica e prática, têm que estar sempre presentes na vida e na gestão das nossas organizações.
Por maioria de razão, os quadros comunistas, como primeiros interessados em garantir o presente e o futuro do movimento sindical unitário e de classe, têm uma responsabilidade acrescida nesta tarefa.

Sabemos que não é fácil, ainda mais nos tempos que correm. Conhecemos bem as limitações que dificultam o recrutamento e as causas, objectivas e subjectivas, que afastam muitos potenciais quadros, em particular os mais jovens, da militância sindical.

Mas a dialéctica revolucionária obriga-nos a ver o outro lado da situação. A mesma ofensiva neoliberal que limita a actividade sindical, também potencia o descontentamento, estimula a acção reivindicativa e leva ao surgimento de novos quadros, forjados na luta. O confronto directo com o patronato nos locais de trabalho, eleva a consciência da exploração capitalista e reforça a necessidade da sindicalização, da unidade, da organização e da luta, para defender direitos e conquistar melhores salários e condições de vida e de trabalho. É uma questão de tempo, persistência, esclarecimento e mobilização.

Estando os trabalhadores comunistas entre os mais combativos e com maior consciência de classe e política, é natural que estejam na primeira linha para serem eleitos como representantes dos trabalhadores. Mas a experiência mostra que nem sempre isso é possível, seja por indisponibilidade dos próprios, por debilidades da organização do partido na empresa, ou ainda por falta de comunicação com as organizações locais do partido. Temos de continuar a trabalhar para melhorar esta articulação e o objectivo de conseguir mais 100 células de empresa, é um passo importante nesse sentido.

A experiência mostra que o melhor campo de recrutamento é sempre o campo da luta, de entre aqueles que revelam maior combatividade e consciência de classe; que se destacam na capacidade de liderança e são prestigiados entre os trabalhadores.

Com a sua inserção nos colectivos sindicais, atribuindo-lhes tarefas e responsabilidades, trabalhando com fraternidade e sem sectarismo, existe a possibilidade real destes quadros virem a reforçar as fileiras do partido.

2 - Sobre a militância sindical

Permitam-me que comece por citar Álvaro Cunhal, do Partido com Paredes de Vidro.

“A actividade militante é a atitude característica do comunista na sociedade e na vida. É simultaneamente uma atitude política e uma atitude moral”.

A actividade sindical, é e deve continuar a ser, uma actividade militante. Quando a militância se perde ou enfraquece, ficam em causa o conteúdo de classe e os princípios e objectivos que orientam a CGTP-IN e todo Movimento Sindical Unitário.

Os quadros comunistas, cuja tarefa principal é a intervenção nos órgãos dirigentes da estrutura sindical a todos os níveis, desde a organização no local de trabalho, têm uma responsabilidade acrescida, como exemplo de dedicação e firmeza na defesa dos trabalhadores e das suas organizações de classe.

A militância, enquanto atitude política, obriga-nos a trabalhar para levar o mais longe possível a elevação da consciência de classe, social e política dos trabalhadores. Obriga-nos a combater a ideologia dominante; a valorizar as vitórias alcançadas; a combater o desânimo quando os resultados não são alcançados; a transmitir confiança na construção de um futuro melhor.

Enquanto atitude moral, a militância expressa-se na forma de estar perante os trabalhadores e os colectivos sindicais, como igual entre iguais, sem arrogância e sem sectarismo, recusando privilégios ou recompensas, que não sejam a satisfação do dever cumprido.

Enquanto método de trabalho, a militância valoriza o trabalho colectivo e, neste, a contribuição individual de cada um. Obriga a respeitar o funcionamento democrático dos órgãos, a ser vigilante no cumprimento dos horários. Implica disponibilidade para ouvir e aprender com os trabalhadores e para os apoiar nas reivindicações e nas lutas. Implica estudo e a elevação do conhecimento, para enfrentar os problemas, cada vez mais complexos que o mundo do trabalho enfrenta.

3- Sobre a formação dos Quadros

Se o recrutamento de quadros é uma questão estratégica, a sua formação é determinante para consolidar e elevar a sua consciência social e política, aumentar a eficácia da acção sindical e garantir o futuro do movimento sindical de classe e revolucionário.

Esta não é uma tarefa que se resolva com improviso, ou com medidas pontuais, apenas quando não há outras tarefas.

A formação deve ser orientada para ajudar a superar as pressões ideológicas, económicas sociais e até afectivas, que condicionam a acção dos quadros, a sua forma de estar e a sua intervenção nas empresas e na sociedade.

Deve ajudar a procurar respostas práticas e formas de intervenção eficazes, para enfrentar os problemas cada vez mais complexos no mundo do trabalho.

Deve contribuir para afirmar os valores que orientam o movimento sindical de classe, consubstanciado na CGTP-IN, valorizando as suas raízes e a sua actualidade.

Deve destacar as conquistas históricas do movimento operário e da Revolução de Abril e a sua contribuição para a emancipação dos trabalhadores como classe.

Deve contextualizar a luta de resistência em curso, num quadro de relação de forças desfavorável; reafirmar a importância da luta de massas para romper com as políticas de direita e transmitir confiança na conquista de novos avanços, rumo a uma sociedade sem classes.

Deve servir para afirmar o sindicato como uma construção colectiva dos trabalhadores e como organização de classe e de massas, contrariando o conceito individualista, de associação utilitária e imediatista, que os ideólogos do capital pretendem passar.

O desafio é grande, mas é também empolgante. Com trabalho colectivo e a determinação dos quadros sindicais comunistas, é possível e vamos conseguir, fazer mais e melhor, na acção e na luta pela emancipação dos trabalhadores.

Viva o PCP!
A luta continua!

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