Declaração de João Oliveira, Presidente do Grupo Parlamentar e membro da Comissão Política do Comité Central, Conferência de Imprensa

Novo conjunto de propostas no âmbito da especialidade do Orçamento do Estado para 2021

Novo conjunto de propostas no âmbito da especialidade do Orçamento do Estado para 2021

A proposta de Orçamento do Estado que está em discussão é marcada pelo carácter claramente insuficiente das respostas que admite face à visível degradação da situação económica e social. A opção primeira do governo é a de continuar a trabalhar para o défice das contas públicas em vez de olhar para os problemas do País.

Com a redução do défice que está prevista já para o próximo ano, o País prescinde de utilizar cerca de 6 mil milhões de euros. Temos feito essa denúncia mas o Governo persiste, mesmo quando não está obrigado, em limitar a despesa social, em conter o investimento público, em impedir o reforço dos serviços públicos essenciais, quando eles mais fazem falta como é o caso da saúde.

Para o PCP a sustentabilidade das contas do estado deve fazer-se por via da recuperação económica, do investimento produtivo, do crescimento económico e, simultaneamente, com opções diferentes que permitam obter receitas onde elas existem e não sujeitas à justa tributação, a partir de critérios de justiça fiscal e de defesa do interesse público.

É com esse enquadramento que apresentamos hoje algumas das propostas que, introduzindo critérios de justiça fiscal na tributação de rendimentos mais elevados e de capital ou reduzindo a despesa do Estado com a transferência de dinheiros públicos para grupos económicos, permitiriam reforçar a justiça fiscal e contributiva e simultaneamente alargar a receita do Estado para responder ao muito que há para fazer e que aguarda resposta.

Do conjunto de propostas entregues hoje, destacamos as propostas para o aumento da receita que fixam:

- a obrigatoriedade do englobamento obrigatório para todos os rendimentos a partir de 100 mil euros em sede de IRS, pondo fim ao privilégio dos rendimentos de capital, face aos rendimentos do trabalho neste imposto;

- a eliminação de vários benefícios fiscais atribuídos ao grande capital e às actividades especulativas e que custam largas centenas de milhões de euros todos os anos;

- a taxação das transferências para os paraísos fiscais feitas pelos grupos económicos e a tributação em Portugal dos lucros e dividendos de grupos económicos como o Pingo Doce/Jerónimo Martins em vez da sua evasão para países como a Holanda;

- a criação de um escalão intermédio na derrama estadual, taxando os lucros entre 20 e 35 milhões de euros com uma taxa de 9%;

- o resgate das Parcerias Público Privadas, que custa ao País mais de mil milhões de euros todos os anos.

A acelerada degradação da situação com que se confrontam milhares de MPME, que já acusavam há muito problemas estruturais que foram agora expostos com inegável crueza pelos impactos da epidemia, coloca a necessidade de medidas urgentes, propostas pelo PCP, como o fim das limitações que sucessivamente têm sido impostas às MPME no acesso às medidas de apoio decididas ao longo dos últimos meses ou o apoio aos sócio-gerentes assegurando a sua efectiva implementação.

A defesa dos sectores produtivos, particularmente os que asseguram bens estratégicos como a alimentação do Povo português, num quadro de grande volatilidade internacional e em que o País precisa de diminuir dependências, criar riqueza e emprego, é também objecto da intervenção do PCP face à indiferença que a proposta do Governo lhes atribui. Destacamos neste âmbito:

- um vasto conjunto de medidas que dão conteúdo e eficácia ao Estatuto da Agricultura familiar com a mobilização de diversos recursos por via da criação de um Fundo Autónomo que lhes dê suporte;

- a criação de um regime de electricidade verde para a actividade agrícola;

- a criação de um regime extraordinário de regularização das explorações pecuárias;

- a valorização da Casa do Douro representativa dos vitivinicultores Durienses;

- a isenção de IMI para os baldios;

- a criação de um programa de indemnização aos agricultores pela destruição da produção por animais selvagens;

- um plano de defesa e valorização da floresta nacional;

- o reforço de estruturas públicas como a Inspecção Geral Veterinária e a Inspecção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e Ordenamento do Território;

- a criação de um Programa de Apoio à pesca de pequena escala, local e costeira e ao rendimento dos trabalhadores da pesca;

- verbas para investimento no conhecimento e investigação de recursos piscícolas;

- apoios à formação de mestres e outros profissionais para embarcações de pesca;

- um plano de intervenção nas barras e portos nacionais, dragagens e requalificação de lotas e postos de venda de pescado.

Articulada com a intervenção em torno dos sectores produtivos, propomos igualmente medidas urgentes de preservação dos valores ambientais, com destaque para a água enquanto recurso vital para o País. Propomos neste Orçamento do Estado assegurar o controlo público dos sistemas de gestão de resíduos urbanos, invertendo o processo de privatização negativo para os interesses do país, a par do lançamento de vários programas, designadamente de identificação e combate a espécies invasoras, um sistema de monotorização de recursos hídricos, o reforço do orçamento da Agência Portuguesa do Ambiente, um estudo do impacto das culturas intensivas e superintensivas, bem como a Avaliação Ambiental e Grandes Condicionantes para a Prospecção e Exploração de depósitos minerais.

Ainda na área dos transportes e da energia, que estão inegavelmente ligadas à dimensão ambiental, não podemos deixar de destacar a proposta de dotação de 40 milhões de euros para reforço da oferta pública de transportes que apresentamos no âmbito do ProTransp, bem como a regulação do preço do gás de botija, acabando com as inaceitáveis margens de lucro das empresas que controlam o sector e permitindo que, a par da proposta da redução do IVA, centenas de milhar de famílias tenham energia/gás mais baratos.

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