Intervenção de Fátima Messias, Encontro «Os comunistas e o movimento sindical – uma intervenção decisiva para a organização, unidade e luta dos trabalhadores»

A luta das mulheres trabalhadoras

A luta das mulheres trabalhadoras

Há lutas que duram mais de cem anos. É o caso da igualdade entre mulheres e homens.

Esta não é uma luta só de mulheres; a existência de causas comuns a todas as mulheres, não significa que todas as mulheres se identifiquem com as mesmas causas.
E muito menos, esta é uma luta que oponha mulheres e homens; as condições sócio-económicas definem o papel e o lugar de cada um e de cada uma na sociedade.

O acesso das mulheres a cargos de decisão – que não pode ser discriminatório – poderá alterar o estilo da gestão, mas não garante a alteração da natureza da exploração.

Que é como quem diz, não é pelo facto de Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal ter deixado o lugar na administração para a sua filha, Paula Amorim, que as operárias corticeiras deixaram de ser discriminadas.

As mulheres trabalhadoras confrontam-se com a igualdade conquistada e consagrada na Constituição e na lei, mas não efectivada no trabalho e na vida.

Constituem a maioria dos sindicalizados e estão em maior número entre os delegados sindicais eleitos nos locais de trabalho.

São uma força activa que se torna evidente nos plenários, nas greves, nas manifestações, nas pequenas e grandes lutas pela valorização e dignificação do trabalho e em tempos de combate à pandemia, nos hospitais, nos lares, nas escolas e creches, nos serviços de atendimento ao público, no comércio, nas limpezas e em muitas indústrias.

São, geralmente, as primeiras a ser despedidas ou a não verem o seu contrato renovado, em especial, as jovens com vínculo precário e as grávidas; a serem colocadas em trabalho domiciliário a que chamam teletrabalho, muitas vezes forçado; a ficarem com a actividade parada e os rendimentos suspensos.

São elas que maioritariamente recebem o salário mínimo nacional e que ganham menos comparativamente com os seus companheiros de trabalho, alimentando o lucro patronal.

São as mulheres que, em média, trabalham mais horas, seja nas tarefas profissionais, seja nas tarefas de casa, às quais se junta o tempo gasto em transportes que lhes reduz o descanso e a participação na vida familiar e social. Agravado pelo crescimento, entre as mulheres, do trabalho em regime de turnos, nocturno e ao fim-de-semana.

Por outro lado, a tentativa de generalização do teletrabalho, com todos os retrocessos que encerra, designadamente na individualização da relação de trabalho, no isolamento social e na saúde mental, vem desenterrar velhas ideias de remeter as mulheres para casa e para o seu duplo papel de cuidadoras, com prejuízos no enquadramento e evolução profissional e na sua própria emancipação.

Quando as situações de intimidação patronal, de violência e de assédio se abatem sobre os trabalhadores, com as mulheres em maior número, são também elas que resistem e não desistem de reclamar os seus direitos e garantias, muitas vezes de forma individualizada mas nunca sozinhas, numa luta que passa a ser de todos e para todos.

E quando os ritmos de trabalho apertam, os movimentos repetitivos se acumulam e as pausas desaparecem, é o momento das doenças profissionais se instalarem, em particular, as lesões músculo-esqueléticas, que afectam maioritariamente as mulheres, logo seguidas das doenças do foro-psíquico derivadas do stress e do assédio laboral.

Estes são alguns dos principais problemas com que se debatem actualmente as mulheres trabalhadoras; para todos eles, temos propostas, soluções e resultados positivos já alcançados.

A igualdade é, mesmo, uma luta de todos os dias!

Que convoca todos os comunistas no movimento sindical, homens e mulheres, a permanecerem na linha da frente desta batalha secular contra a exploração, a opressão e a discriminação.

E a participarem activamente na Semana da Igualdade entre 8 e 12 de Março, sob o lema: Defender a saúde – Dignificar o trabalho – Avançar na igualdade!

Porque enquanto as mulheres forem discriminadas, nenhum homem será verdadeiramente livre.

E como comunistas que somos, lutamos por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.

  • Trabalhadores
  • Central