Artigo de António Abreu na «Capital»

«Uma guerra inacabada, dois episódios e três pragas»

1. O suicídio (?) de David Kelly, os desmentidos de “seguras” informações de Bush e Blair sobre a perigosidade dos arsenais de Saddam Hussein, as dificuldades das tropas anglo-americanas no terreno, a mediática e mais que preparada liquidação de dois filhos do ditador, a visita de Berlusconi (não esquecer que a sua eleição interrompeu um processo que, certamente, o levaria à prisão por crimes económicos) ao seu amigo Georges no seu rancho do Texas, distinção só concedida aos “very special friends”, a ameaça de intervenção norte-americana na Libéria, são apenas mais alguns desenvolvimentos esclarecedores da natureza do império e de que a guerra está longe de ter terminado .

Em circunstâncias “normais”, o grotesco destas situações, a ilegalidade e a falta de ética, nelas presentes, seriam inaceitáveis.

Mas a lógica do império passa por que todo o mundo financie cada vez mais a economia norte-americana e o seu colossal deficite, por que este seja o fio condutor desta globalização neo-liberal. Que encontra resistências fortes e fortes lutas de classe, resistências de economias em processos de integração ou de potências regionais, mas gera enormes pressões, respostas brutais, incalculáveis sofrimentos, novas assimetrias.

O relançar da economia americana emperrou, não está a ser contido o deficite em que mais e mais investimentos, resultantes dos recursos aspirados avidamente de todos os cantos do mundo, substituem uma iniciativa privada virada para a contenção do consumo e do investimento produtivo, para a preparação de novas guerras e o aproveitamento das consequências de cada uma delas.

A instalação de centenas de milhares de homens no Golfo, Médio Oriente e talvez em África, preparam essa escalada.

Impõe-se uma mediana clarividência sobre o que está em curso, sobre a complexidade mas absoluta necessidade de alternativas, sobre os tiros que se não devem dar nos próprios pés, uma outra política, desamarrações de “inevitabilidades” que levem mais estadistas e camadas dirigentes a porem-se a jeito e na fila para novas visitas ao rancho do Texas.

A Feira Popular protestou. Afinal os interesses dos feirantes e respectivos trabalhadores não tinham sido acautelados. Como antes não tinha sido garantida a participação da Fundação “O Século” que gere o terreno para efeitos da obra social da Colónia Balnear.

Santana Lopes fechou a “saison” procurando consensos para que a infindável sequência de episódios do Parque Mayer entre de férias...até ao próximo episódio. Mas essa procura pode, contraditoriamente consolidar uma forma de ir fazendo política no município, por sucessivas aproximações, navegando à vista com muito nevoeiro, deixando por escrever muitas coisas para os episódios seguintes, pouco consentânea com a necessidade de consolidar expectativas e de rigôr daquilo que se aprova. Que tal preparar as decisões mais “a anteriori” do que tanto as ter que corrigir “a posteriori” ?

Ali para os lados da DREL, esta preparou a fusão das escolas secundárias da Cidade Universitária e Padre António Vieira, onde dei aulas no início dos anos 70.

Ambas as escolas votaram um novo nome de uma lista de “elegíveis” que não deveria integrar os nomes das anteriores. Desta forma, foram preteridos nomes de destacadas figuras da cultura portuguesa “menos votados” e desapareceu o Padre António Vieira.

Coisas destas não poderiam ser tratadas de outra maneira?

3. Revendo, em leitura de férias, algumas pragas, talvez centenárias, do Alvor, Montegordo e Fuzeta, hoje despidas daquele carácter de combate, de reacção desesperada ou de indignação e da aceitação supersticiosa pelos circunstantes, aqui me despeço com três delas sem destinatários, até porque as maleitas de carácter e os percursos sinuosos exigem bem mais do que palavreado.

Só queria que a língua dele crescesse tanto que chegasse aonde chegam os lampaços do farol da barra!

Havia de lhe dar uma dor tão grande, tão grande, que nunca mais parasse; que, quanto mais corresse, mais lhe doesse e, se parasse, rebentasse!

Havias de ir parar a um calabouço tão fundo, tão fundo, e havias de ter uma fome tão grande, tão grande, que todos os braços das alminhas do purgatório, atados com um fiozinho de guita, não chegassem para te dar um papo-seco!

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