Intervenção de Gonçalo Oliveira, membro do Comité Central, Comício comemorativo do 94.º aniversário do PCP

Temos confiança de que conseguiremos mostrar ao povo do distrito do Porto que o País não está condenado ao rumo de declínio e retrocesso

Temos confiança de que conseguiremos mostrar ao povo do distrito do Porto que o País não está condenado ao rumo de declínio e retrocesso

Hoje, neste comício, realizamos aquela que é a principal iniciativa de comemoração do aniversário do Partido no distrito do Porto. Ao fazê-lo, juntamo-nos aos milhares de militantes que de variadas formas, um pouco por todo o lado, assinalam um ponto de viragem na história do nosso País: a fundação do Partido Comunista Português.

Juntam-se a nós, comunistas, muitos amigos que têm estado ao nosso lado nesta caminhada e para quem o significado desta data não passa despercebido.

São homens e mulheres sem filiação partidária, mas empenhados, também eles, em romper com esta política que afunda o país, desejosos, tal como nós, em construir uma alternativa política, patriótica e de esquerda; gente séria, que tal como o PCP, honra o que de mais nobre há na política: servir os interesses dos trabalhadores e do povo.

A eles, em particular, transmitimos o nosso apreço, dizendo que o seu empenho, a sua luta e voto valeram a pena, pois é também graças a eles que o PCP está mais forte.

Quando há um ano celebramos o 93º aniversário do nascimento do PCP, aqui neste mesmo local, denunciámos a propaganda e as mentiras do grande capital, que na altura pretendiam fazer crer que os sacrifícios do povo português tinham valido a pena.

A propaganda e as mentiras permanecem inalteradas, o seu objectivo continua o mesmo, mas as condições em que o povo do distrito vive, são bem distintas do que nos pretendem fazer crer.

Apesar das manobras que o Governo utiliza para esconder, ou até mesmo deturpar, os indicadores sociais e económicos, não consegue escamotear que o desemprego é um sério problema do país, que se sente de forma mais acentuada neste distrito, e que o IEFP diz ser de 16,2%.

Mas, se contássemos com os trabalhadores emigrados nos últimos 3 anos – a nível nacional foram cerca de 400 mil -, com os desempregados que foram arrumados em estágios profissionais ou noutras ocupações pelo IEFP - apenas para os “limpar dos cadernos” -, se contássemos com aqueles que desistiram de procurar trabalho, ou estão em situação de sub-emprego ou a falsos recibos verdes... então verificaríamos que no distrito são cerca de 300 mil os desempregados, o que revela a gravidade deste flagelo.

Para conhecer as condições de vida dos trabalhadores portugueses, na ausência de melhor método, basta prestar atenção ao mundo que nos rodeia. Nas conversas do dia-a-dia, por exemplo, os portuenses falam cada vez mais sobre o dinheiro que não chega para o que é necessário, sobre o emprego que é cada vez pior, sobre o endividamento, sobre o desemprego, sobre a falta de perspectivas, falta de serviços públicos, falta de apoios sociais, falta de quase tudo… menos de incertezas quanto ao futuro.

Simultaneamente, os que mais têm, os que vivem da exploração dos trabalhadores, os donos dos grandes grupos económicos e financeiros, esses, acumulam lucros gigantescos.

Tudo isto é fruto de uma política injusta e imoral, que impõe os maiores sacrifícios aos que vivem do seu trabalho ao mesmo tempo que atribui benesses ao capital. Austeridade para a enorme maioria, luxo para uma reduzida minoria.

É esta a matriz da política de direita.

A mesma política de direita que foi iniciada logo em 1976. Mudaram os protagonistas, mudou também a dimensão e intensidade do ataque, mas o objectivo dos sucessivos Governos tem sido o mesmo: devolver o poder ao grande capital financeiro.

Não admira, portanto, que surjam sondagens que apontam os portugueses como estando entre os povos mais pessimistas quanto ao futuro. Nem admira sequer que muitos, no seu desespero, influenciados pelos preconceitos disseminados pela classe dominante, embarquem na mistificação de que os partidos são todos iguais.

É neste contexto que o PCP desenvolveu o seu trabalho aqui no distrito do Porto e se afirmou como um partido que não é igual aos outros.

Marcamos a nossa diferença estando ao lado dos trabalhadores de empresas em processos de luta contra a fúria privatizadora da política de direita como a STCP, CP, EMEF e CTT.

Estivemos presentes, em solidariedade, nas lutas dos trabalhadores da Cofanor, da Groundforce, da logística da SONAE, da Controinvest, da Arco Têxteis, da Moviflor e de tantas outras…

E se em algumas dessas lutas sofremos ao lado dos trabalhadores que perderam os postos de trabalho, noutras, como foi recentemente o caso para os trabalhadores da Pizza Hut, alegramo-nos com a sua vitória.

Fomos ao encontro dos pescadores e dos produtores de leite e intervimos a favor dos seus direitos, tal como fizemos com os trabalhadores da Segurança Social que estão na antecâmara do despedimento.

Abordamos situações tão distintas quanto a diferença entre os problemas dos trabalhadores das pedreiras, e das amas da Segurança Social, cujo protesto ajudamos a organizar.

Lutamos ao lado das populações contra o encerramento de serviços públicos, tais como a Urgência do Hospital de Valongo. Ouvimos e ajudamos os moradores dos bairros sociais do IHRU. Reunimos com utentes do SNS e dos transportes públicos.

Promovemos iniciativas de esclarecimento sobre o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento entre a EU e os EUA, sobre a renegociação da dívida, sobre a nossa proposta de controlo público dos sectores estratégicos da economia.

Organizamos debates sobre os transportes públicos, sobre a situação política internacional.

Organizamos uma campanha de massas nas Eleições ao Parlamento Europeu, contribuindo decisivamente para o reforço da CDU ao alcançar mais 6600 votos no distrito.

Fizemos sessões públicas sobre as desigualdades sociais e pobreza.

Realizamos mandatos abertos e dezenas de visitas a locais do distrito com os deputados na Assembleia da República, porque os deputados eleitos pelo PCP são diferentes dos restantes. Estão cá, todas as semanas, a contactar com os trabalhadores, com os reformados, com os estudantes, com as colectividades, com os sindicatos. Os deputados do PCP honram a palavra dada e mantêm a sua ligação aos trabalhadores e ao povo desta região.

Os resultados desta actividade são como sementes que lançamos à terra, sem saber ao certo quando vamos colher o seu fruto. Porque, como bem sabeis, nem sempre se ganha quando se luta.

Mas o que dizer, camaradas, quando o antigo Regulamento Municipal de Propaganda da Câmara do Porto, após anos de trabalho da organização do Partido a denunciar a sua inconstitucionalidade e a lutar contra a censura que nos pretendia impor, foi finalmente derrotado?

E o que dizer também, camaradas, sobre a remoção dos resíduos perigosos que estavam ilegalmente depositados em São Pedro da Cova há cerca de 13 anos, após anos e anos dos comunistas estarem sozinhos a batalhar contra aquela ameaça à saúde pública?

Devemos dizer, que lutar vale a pena!

Devemos recordar todos aqueles que nos queiram ouvir, de que não há registo na história de algum direito que tenha sido oferecido aos trabalhadores. Tudo o que temos foi conquistado através da luta.

Aproveitamos por isso esta oportunidade para saudar os trabalhadores da Administração Pública que realizaram ontem uma bela jornada de luta, uma poderosa resposta à política de destruição dos direitos laborais. Muitos destes trabalhadores já estão a resistir e a lutar pelas 35 horas de trabalho à 611 dias! A forte adesão à greve nacional deu força às suas juntas reivindicações

Porque a luta é o caminho para a ruptura com a política de direita, o Partido sempre se empenhou na mobilização para as acções de luta do movimento sindical unitário, tais como a manifestação do passado dia 7 de Março, ou antes dessa, das manifestações de 13 de Novembro e de 14 de Junho.

Para os camaradas que já não se lembram de que manifestações foram essas, recordo que foram aquelas que encheram as ruas do Porto, mas que segundo alguns orgãos da comunicação social, tinham apenas algumas “centenas de pessoas”…

Tudo isto – recordamos – é apenas uma amostra do que o Partido conseguiu fazer no período de um ano, camaradas, e apenas com o recurso à militância.

Porque se há alguma coisa de que podemos ter certeza - mesmo neste período em que deixou de ser novidade ver altos dirigentes políticos a contas com a Justiça - é que dos cerca de 3 mil camaradas e amigos que estiveram connosco na realização de todo este trabalho, nenhum deles foi beneficiado. E isto camaradas e amigos, será prova bastante, para aqueles que ainda duvidam, que os partidos não são todos iguais!

Temos já em curso a preparação das eleições legislativas. Preparamos esta batalha com a confiança de que conseguiremos mostrar ao povo do distrito do Porto que o País não está condenado ao rumo de declínio e retrocesso, e que hoje, como em nenhum outro momento desde o fascismo, é necessário que os homens e mulheres que estão seriamente empenhados numa ruptura com este rumo de declínio nacional, dêem força à CDU.

Esta recolha de apoios pode e deve começar de imediato, tendo já como objectivo transformar o almoço comemorativo da revolução de Abril que terá lugar no próximo dia 19 de Abril, em São Pedro da Cova e que contará com a presença do Secretário-Geral - num espaço de convergência.

Também a marcha nacional em Lisboa a 6 de Junho, será um momento da maior importância para a afirmação da indignação e do protesto, para a exigência de um Portugal com futuro. Para assegurar o seu êxito, devemos começar, quanto antes, a tomar as medidas necessárias: há que mobilizar todos os camaradas e amigos.

A nossa tarefa prioritária deve ser, no entanto, o reforço da organização do Partido. Sem uma organização forte não seria possível passar nenhuma orientação à prática.

Este é um facto de que não nos esquecemos, pelo que o Partido tem tomado medidas para reforçar a sua organização, sempre que possível de forma articulada com a dinamização da luta e intervenção política.

A realização da 11ª Assembleia da Organização Regional do Porto, foi, nesse aspecto, um momento alto na vida partidária. Nela todo o colectivo foi chamado a participar na elaboração da Resolução Política, onde se prestaram contas e definiram as orientações para o futuro.

Uma dessas orientações dizia respeito a algo indispensável para o reforço do Partido, e que entendemos por isso salientar: o recrutamento.

A entrada de novos membros para o Partido é da maior importância, pois cada novo camarada traz consigo os seus conhecimentos, a sua ligação e influência ao meio onde actua.

O recrutamento deve ser um acontecimento natural no Partido, fruto da atenção constante de cada militante. No entanto, essa preocupação nem sempre existe, e isso leva a que se desperdicem muitas oportunidades.

É por esse motivo que o Partido decidiu lançar uma campanha nacional de recrutamento que termina no próximo mês, e para a qual a ORP já contribuiu com 200 novos camaradas.

Contamos, com a vossa ajuda, poder anunciar no próximo dia 19 de Abril, aquando do almoço regional comemorativo do 25 de Abril, que chegamos aos 250!

Também contamos com o apoio de todos para cumprir uma outra tarefa, também ela de grande importância e exigência: a campanha de fundos para a aquisição de mais terreno para a Festa do Avante!

Já recolhemos mais de 40 mil euros em contribuições – o que corresponde a um terço do objectivo - e temos compromissos assumidos por camaradas e amigos no valor de 100 mil euros.

Isto significa que graças aos muitos contactos que já fizemos - quase mil no total – e que vão continuar até ao fim da campanha, podemos estar confiantes que com a determinação das organizações do Partido, conseguiremos concretizar o nosso objectivo, e - mais importante que tudo – que o iremos fazer de acordo com os princípios do Partido: sem precisar de apoios públicos ou de donativos de grupos económicos e financeiros.

Há 94 anos que o grande capital encontra no PCP um adversário à altura.

Os nossos adversários já anunciaram, mais que uma vez, que o PCP estava derrotado, reduzido à condição de relíquia do passado, condenado a afundar-se como o Titanic enquanto a orquestra continua a tocar.

Estas afirmações, presumivelmente, não era suposto serem mera propaganda! Quem as proferiu acreditava que a política de direita tinha vencido a luta.

Hoje, o capitalismo está em crise, a União Europeia está em crise, os partidos do bloco central estão em crise. Temos um governo de coligação PSD/CDS que - tal como disse o camarada secretário-geral - “não tem ponta por onde se lhe pegue”, o PS, por sua vez, não tem política alternativa que se apresente e o Presidente da República, esse não está sequer à altura do cargo que ocupa.

Afinal, o prognóstico saiu-lhes furado! O capital está longe de ter ganho esta luta!

O Partido é forte porque foi construído por gerações de homens e mulheres fortes. É forte porque guarda os ensinamentos do marxismo-leninismo, a teoria revolucionária que transforma o mundo e que nos ensina que a vitória final, essa, a história reserva para o comunismo.

Viva o PCP!