Intervenção de

Sobre as medidas que têm sido levadas a cabo pelo Governo na área da educação<br />Intervenção de Luísa Mesquita

Sr. Presidente, Sr. Deputado Luiz Fagundes Duarte,Quero partir do princípio de que foi a sua ida a Paris, ontem, que o trouxe tão entusiasmado. Saiu do pântano da governação socialista e as luzes parisienses animaram-no. Mas percebo bem a sua intervenção de hoje: o Sr. Deputado estará impossibilitado de fazer uma intervenção sobre a educação assim que os portugueses conhecerem o Orçamento do Estado. Sabemos bem quão penalizadas vão ser as funções sociais do Estado; sabemos bem em que estado vai ficar a educação, a ciência e a cultura, a acrescentar àquela que é já a impossibilidade de trabalhar em alguns organismos. Diria que, na sua bancada, todos os que não fazem parte da Comissão de Educação, Ciência e Cultura poderiam fazer esta intervenção mas não os Deputados que a integram e, particularmente, o Sr. Deputado Luiz Fagundes Duarte. Então o Sr. Deputado ouve dizer, na Comissão, todos os dias — e não são as estruturas sindicais, são os interlocutores, os alunos, os professores, os actores, pessoas do teatro, do cinema, da dança —, que é impossível que o Governo lhes tenha mentido tão descaradamente, que tenha feito com eles um programa que não está a cumprir, que tenha impedido o funcionamento de todos os organismos do Estado na área da cultura, da ciência e da educação, e tem o descaramento de subir à tribuna para dizer exactamente o contrário daquilo que lhe é dito diariamente?! Ó Sr. Deputado, será que foi à escola do Prior Velho, àquela escola a que fomos a convite do conselho directivo, levados pela mão do Partido Socialista e pelo Sr. Presidente da Comissão de Educação?! Que bom que foi ouvir, para ver se o Partido Socialista percebia, que aquela gente tem fome — e é por isso que tem insucesso —, que aquela gente não tem família que os acompanhe — e é por isso que rouba. O Sr. Deputado recordar-se-á daquela presidente do conselho executivo, que dizia: «Sabe onde é que eles roubam? É exactamente quando vão para o bar, para poderem comer». O Sr. Deputado lembra-se disto?! O Sr. Deputado lembra-se daquilo que nos foi dito sobre uma escola sem condições para trabalhar e que é graças aos professores, que ali passam o dia inteiro, que aquelas crianças muitas vezes comem e trabalham?! O Sr. Deputado não consegue reagir humanamente, mesmo que não seja pedagogicamente, a estas matérias?! O Sr. Deputado, por acaso, sabe o que se está a passar nas escolas do nosso país com as medidas tomadas pelo seu Governo?! Sabe que há escolas que, com medo das penalizações e dos processos disciplinares, interrompem as aulas para cumprir as aulas de Inglês dos meninos que querem ter Inglês, porque há meninos que têm Inglês fora da escola, e põem os outros meninos num canto de uma sala onde não há nada, para depois retomarem a actividade lectiva?! O Sr. Deputado não anda por este País?! Ó Sr. Deputado, ainda há bem pouco tempo, no domingo, vimos bem como o povo está com o Partido Socialista! Nem isto os alerta?! Os avisos não chegam para os senhores verem que estas não são as políticas da defesa de uma escola pública e de qualidade?! Os senhores têm como primeiro ou único objectivo, por um lado, destruir a escola pública, remetendo para as famílias a responsabilidade da educação dos seus filhos na totalidade, como se os portugueses não pagassem impostos, como se não estivessem a pagar duas vezes a educação dos seus filhos; depois de destruída a escola pública, a qualidade não vos incomoda. Os senhores querem formar elites, elites que assegurem chegar ao ensino superior; o resto, para os senhores, não interessa, o resto pode continuar só a saber ler e escrever. É este o País que os senhores querem mas não é o País que está consagrado constitucionalmente.

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