Artigo de Ruben de Carvalho no «Diário de Notícias»

«Preemptive (2)»

A questão da guerra preventiva perpassou na política americana ao longo de todo o período da Guerra Fria, invocada essencialmente pela extrema-direita anticomunista

e claramente recusada pelas sucessivas Administrações democráticas e republicanas, de Truman a Kennedy, passando por Eisenhower. O general diria em conferência de imprensa, em 1954: «Uma guerra preventiva é, na minha forma de pensar, uma impossibilidade (...) sobre a qual ninguém sério pode falar.» E Robert Kennedy, durante a crise dos mísseis cubanos, chamaria ao projecto de ataque preventivo a Cuba proposto pelo Pentágono «Pearl Harbour ao contrário». E acrescentaria: «Há 175 anos que não somos esse tipo de país.» Mas, como escreve Schelesinger, «o Presidente Bush gostaria de fazer de nós esse tipo de país hoje».

Esta postura sobre a guerra preventiva terá levado os conselheiros de Bush a optarem pelo conceito preemptive que, segundo o Departamento de Defesa, se refere a «um ataque iniciado na base de uma indiscutível evidência de que um ataque do inimigo está iminente». Fácil é concluir que enquanto, e mesmo assim rejeitado, o conceito preventivo envolve um conjunto de juízos políticos, diplomáticos e militares, o preemptive acaba a ser domínio exclusivo dos serviços secretos e do discurso propagandístico, «ultrapassando, segundo Schelesinger, as margens da legitimidade». No Iraque, p.e., a «indiscutível evidência» foram as desaparecidas «armas de destruição maciça»...

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