Projecto de Resolução N.º 445/XII

Por um serviço de urgência básica em Torre de Moncorvo

Por um serviço de urgência básica em Torre de Moncorvo

1.Em 13 de Abril de 2007, no quadro da reorganização dos cuidados de saúde, pelo então VIII Governo PS/José Sócrates, foi assinado um Protocolo entre a Câmara Municipal de Torre de Moncorvo e a Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN) no qual se acordou que o respetivo Centro de Saúde, assegurasse o atendimento noturno, através da chamada “Consulta Aberta”, para responder aos casos agudos não programáveis.

Este modelo de atendimento noturno, que entrou em funcionamento a 27 de Abril de 2007, substituía o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) até então em vigor.

No Protocolo, estabeleceu-se que “até estarem alocados e testados todos os recursos do INEM e demais meios alternativos para melhorar a emergência pré-hospitalar no distrito de Bragança, o SAP do CS será substituído no apoio noturno às situações de doença aguda (22,00 às 8,00 h nos dias úteis da semana e das 20,00 às 8,00 h aos sábados, domingos e feriados), por médico de família, em regime de prevenção, apoiado por enfermeira, em presença física nas instalações do centro de saúde”.

2.A 1 de Fevereiro de 2011, sem qualquer aviso prévio aos responsáveis do Centro de Saúde, informação adequada à população ou negociação com a autarquia, o Diretor recebe um fax às 17,40 horas a comunicar que o sistema de atendimento noturno passava, desde esse dia, a ser exercido no Sistema de Urgência Básica (SUB) de Vila Nova de Foz Côa, situada a 18 km a sul do concelho de Moncorvo, no distrito da Guarda!

Nas primeiras semanas houve utentes, quer desconhecimento das alterações, aguardaram durante a noite e a madrugada pela existência de um serviço, que só às 8,00 horas abriria! Nestas circunstâncias, verificou-se pelo menos uma situação com gravidade.

O principal problema decorrente do encerramento do serviço noturno, para lá da forma inacreditável e inaceitável como aconteceu, colocou-se ao nível dos transportes. Não existindo, o que os autores do encerramento certamente não desconheciam, uma rede de transportes públicos organizados entre Moncorvo e V N de Foz Côa, os utentes ficaram obrigados para qualquer serviço de urgência a recorrer a transporte próprio, o que como é fácil de adivinhar, a imensa maioria não tem, ou ao táxi, com inevitáveis subidas do custo do acesso ao SNS.

O recurso de emergência, criado por Protocolo entre a Câmara Municipal e a Santa Casa da Misericórdia, para substituir o serviço noturno extinto, com significativa contribuição da Câmara (1500 € para pessoal e 3000 € para equipamento), acabou por não ter utilidade, por ausência de médico, que assegurasse o serviço noturno, mesmo em regime de prevenção.

3.A Petição 73/XII/1ª, subscrita por mais de 4 000 habitantes do concelho de Moncorvo, afigura-se inteiramente pertinente. No seguimento da expressiva manifestação realizada no dia 23 de Fevereiro de 2011, pela reabertura do SAP, a Petição reclama justificadamente a implantação de um Serviço de Urgência Básica em Moncorvo.

As razões para tal reclamação são objetivas e irrecusáveis:

INSTALAÇÕES – as atuais, do Centro de Saúde de Moncorvo, são novas, tendo sido inauguradas há 3 anos, necessitando apenas de algum equipamento, para apresentar boas condições para o funcionamento de um SUB! A que acresce a disponibilidade do Município para um fornecer uma alternativa, com a cedência de edifício autónomo propriedade municipal, de um piso, onde funcionou o ambulatório do Centro de Saúde. Em contrapartida, as instalações de V N de Foz Côa são precárias, utilizando contentores alugados para o efeito, e tendo um custo significativo para o erário público.

ACESSIBILIDADES – qualquer que seja o estudo feito sobre este critério, todos indicarão Moncorvo, como a localização que pela sua centralidade e rede viária assegura uma redução de trajetos e de custos de transporte para utentes que procuram um SUB, e que também atende em melhores condições, nos casos de necessidade de recurso do utente a um serviço de urgência de nível superior em hospital de referência. Moncorvo apresenta as menores distâncias e tem os melhores percursos nas deslocações para o SUB e Hospital de Referência! Registe-se mais uma vez, o absurdo bem conhecido, que quer para a população de Moncorvo, quer para a de Freixo de Espada à Cinta, se duplicar o trajeto, quando o exame do utente, determinar a sua referenciação para um SUMC (Mirandela ou Bragança) ou mesmo Vila Real.

UNIVERSO POPULACIONAL – o concelho de Moncorvo é o mais populoso da região a servir pela atual SUB. Por outro lado a construção em curso da Barragem do Baixo Sabor, significa uma presença diária de cerca de 2 mil pessoas, e no futuro, mesmo que em nºs inferiores, novos postos de trabalho diretos e indiretos. Também, a reafirmada retoma da exploração do grande potencial mineiro das hematites/ferro do Carvalhal em Moncorvo, pelo Ministério da Economia, se traduzirá em mais umas centenas de postos de trabalho permanentes. Isto é, do lado da maior dimensão do universo presente e futuro, de utentes para procura de uma SUB, não haverá dúvidas sobre a justeza da sua localização em Moncorvo.

CUSTOS GLOBAIS DO SERVIÇO – por todos os motivos já referidos, representarão uma acessibilidade a menores custos (e comodidade) para a população servida e uma significativa redução dos custos a suportar pelo Ministério da Saúde. O nível de serviços do SNS a instalar em V N de Foz Côa, de facto e por motivos de geografia, administrativos e de transporte, deveriam considerados de forma independente da solução de Moncorvo.

4.O recente estudo de Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência da CRRNEU não prevê o SUB em Moncorvo, sem que tivesse havido, tanto quanto se saiba, qualquer reflexão sobre o assunto. Incluindo, a que seria obrigatória decorrente das suas propostas para os serviços de urgência das unidades hospitalares de Mirandela e Macedo de Cavaleiros. A que acresce, a decisão (na base do mesmo estudo), da saída do Helicóptero do INEM de Macedo de Cavaleiros, o que não será despiciendo na análise da resposta de urgência/emergência na região.

De facto, a concretizar-se as indiciadas despromoções desses serviços no quadro da Unidade Local de Saúde de Bragança, em Mirandela com a passagem de um SUMC a SUB e em Macedo de Cavaleiros, com a extinção do SUB (o que não deveria acontecer!), torna-se ainda mais evidente a necessidade de um SUB localizado em Moncorvo, sob o risco de ficar totalmente desguarnecido o sul duriense do Distrito de Bragança, com utentes que habitualmente eram drenados para Mirandela (SUMC). Na nova situação prevista, pode mesmo dizer-se, que utentes de freguesias dos concelhos vizinhos de Moncorvo (Freixo de Espada à Cinta, freguesias, a sul de Alfandega da Fé, a este de Vila Flor e a sul de Carrazeda de Ansiães) e limítrofes do concelho, poderão ter como serviço de urgência mais próximo, um SUB localizado em Moncorvo!

Pelo que, na base dos considerandos feitos, o Grupo Parlamentar do PCP propõe que a Assembleia da República recomende ao Governo, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição da República:

1.Que seja localizado em Torre de Moncorvo um ponto da Rede Nacional de Emergência e Urgência, com a qualidade de um Serviço de Urgência Básico;

2.Que sejam reforçados os recursos humanos e os meios técnicos do Centro de Saúde de Moncorvo, de forma a garantir que os serviços prestados, em cuidados de saúde, incluindo meios complementares de diagnósticos, estejam ao nível das exigências que a lei estabelece e os direitos e a saúde dos cidadãos impõem.

Assembleia da República, em 25 de Julho de 2012

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