Nota do Gabinete de Imprensa dos Deputados do PCP ao PE

Orçamento comunitário para 2011 agrava injustiças!

Na sequência da discussão do projecto de orçamento geral da União Europeia para 2011, os deputados do PCP no Parlamento Europeu entendem tornar público o seguinte:
O processo de discussão e aprovação deste orçamento decorre num momento em que, enquanto se agrava a crise económica e social em muitos países da UE a Alemanha tem taxas de crescimento superiores a três por cento, enquanto se regista um aumento de seis milhões de desempregados só em dois anos, os grupos económicos e financeiros atingem taxas de lucros cada vez mais elevadas. O resultado é o agravamento das condições de vida de milhões de pessoas e o aumento das desigualdades económicas, sociais e territoriais, para o que em muito contribuem os planos de autêntico terrorismo social que o directório de potências da UE vem procurando impor, sobretudo aos países de maiores dificuldades, exactamente os que precisavam de maior apoio.

Impunha-se um orçamento capaz de apoiar o crescimento, o desenvolvimento económico e o progresso social, que combatesse as desigualdades visando uma convergência real, uma genuína coesão económica e social, com um apoio dirigido às economias mais vulneráveis, a promoção do potencial de cada país, o uso sustentável dos seus recursos, com uma aposta na produção e na criação de emprego com direitos.
Infelizmente, não é isto que sucede. A escassez deste orçamento e a profunda injustiça da sua distribuição comprometem, à partida, a sua função redistributiva, garante de uma efectiva coesão, e acentuam os efeitos perniciosos das políticas que a UE vem prosseguindo.

À semelhança dos que o antecederam, este orçamento - que corresponde apenas a cerca de 1% do RNB comunitário - é determinado pelos limites impostos pelo Quadro Financeiro Plurianual 2007-2013 (QFP) que o enquadra. É um Quadro Financeiro extremamente exíguo, que reduziu os fundos estruturais a 0,37% do RNB da UE, no momento em que eles eram mais necessários, o que implicou reduções em programas de natureza social e ambiental, bem como nos domínios da investigação, da educação e da cultura. Por isso, é urgente proceder à revisão intercalar do actual QFP, revendo e aumentando significativamente os seus limites máximos.

Mas, mesmo face aos valores acordados no QFP, a proposta do Conselho representa um corte, inaceitável e injustificável, de cerca de 7.000 milhões de euros. Já a proposta do Parlamento Europeu, mitigando parcialmente este corte, fica, ainda assim, aquém do acordado no QFP em cerca de 3.300 milhões de euros, com a agravante de, entretanto, a UE ter adquirido novas responsabilidades decorrentes do Tratado de Lisboa, designadamente com a criação do Serviço Europeu de Acção Externa, com cerca de 6 000 funcionários espalhados por mais de 120 embaixadas. Isto significa que o aprofundamento do federalismo, do neoliberalismo e do militarismo se está a fazer com cada vez menos recursos comunitários, que são retirados às políticas de coesão económica e social.

Se a consecutiva sub-orçamentação do orçamento da UE constitui um aspecto grave na actual situação económica e social, particularmente grave é também a sua consecutiva sub-execução, especialmente no caso das economias mais vulneráveis, sobretudo porque se exige uma comparticipação elevada aos Estados para que alguns não têm disponibilidade. Importa, por isso, avaliar e adaptar as regras de utilização das verbas, tendo em vista a sua utilização plena, de forma a não se agravarem duplamente injustiças e desigualdades.

Propostas do PCP

Independentemente dos deputados do PCP terem votado contra a proposta de orçamento, na especialidade apresentaram propostas, de que se destaca:

- A defesa da criação de um Programa Europeu para o Emprego e o Desenvolvimento Sustentável, a que se afecte 1% do PIB da UE, a complementar por fundos próprios dos Estados-Membros, que vise a convergência real, a promoção do potencial de cada país, o uso sustentável dos seus recursos, com uma aposta na produção e na criação de emprego com direitos;

- O reforço significativo das verbas do Fundo Social Europeu nas suas vertentes de convergência, competitividade regional e emprego, acções de formação e informação destinadas a organizações de trabalhadores, além de projecto-piloto na área do combate ao trabalho precário;

- O reforço significativo do programa Progress, visando apoiar a protecção social e inclusão social, a melhoria das condições de trabalho, a criação de emprego, o combate à pobreza, acções na área da anti-discriminação e diversidade, da igualdade de direitos e oportunidades das mulheres;

- O reforço do programa LIFE+ e de outras acções no domínio do ambiente, em especial as dirigidas à gestão de áreas incluídas na rede Natura 2000;

- Novas acções e intervenções na área dos mercados de produtos da pesca, incluindo a favor das regiões ultraperiféricas;

- Criação de projectos–piloto na área da pesca, designadamente visando apoiar os pescadores na formação dos preços do pescado em primeira venda e na criação de um sistema de seguro público para acontecimentos imprevisíveis no sector das pescas.

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