Intervenção de

Orçamento do Estado para 2007 - Intervenção de Honório Novo na AR

Orçamento do Estado para 2007 (debate na generalidade)

 

Sr. Presidente,
Sr. Primeiro-Ministro,

Duas notas prévias, se me permite.

A primeira para apelar a que, se não for hoje o Sr. Primeiro-Ministro, amanhã, o Sr. Ministro das Finanças aborde aqui o problema da inflação, que foi colocado pelo Sr. Deputado Jerónimo de Sousa e absolutamente esquecido por V. Ex.ª.

A segunda tem a ver com esta afirmação muito séria que gostava de deixar aqui não só a si, Sr. Primeiro-Ministro, mas também ao Sr. Ministro das Finanças: na minha opinião, teria sido muito mais honesto e transparente que os senhores tivessem apresentado um Orçamento rectificativo, em vez de vivermos, durante o ano de 2006, com um Orçamento mascarado, que - permita-me que lhe diga, Sr. Primeiro-Ministro - muito pouco ou quase nada tem a ver, ao nível da execução, com o que aqui foi aprovado há um ano.

Sr. Primeiro-Ministro, já se sabia que este Governo tem, pelo menos, um ministro que julga estar no «país das maravilhas». Mas, se olharmos para os cortes brutais que o investimento público sofre no Orçamento do Estado, penso que podemos acrescentar que não é só o Ministro Manuel Pinho que julga que está num «oásis», é todo o Governo que julga que está num «oásis» e que vive num país tão, tão desenvolvido que já pode viver sem investimento público!! Infelizmente, não é assim, Sr. Primeiro-Ministro. Portugal continua, e vai continuar, a divergir da média comunitária. É o seu Orçamento que o informa.

Portugal tem um défice enorme em infra-estruturas físicas e humanas e tem piores condições na saúde, na educação e na formação do que os nossos parceiros europeus. E estes défices, Sr. Primeiro-Ministro, não são superados nem com happenings com o Sr. Bill Gates, nem com contratos exclusivos ou de exclusão com algumas universidades americanas.

É claro, Sr. Primeiro-Ministro, que o Governo corta no investimento público e nas despesas sociais! Pela primeira vez - e isto é que é inovador neste Orçamento - em muitos anos, os senhores cortam no peso das despesas sociais no Orçamento do Estado! E, Sr. Primeiro-Ministro, não vale a pena vir falar em prioridades sociais, se os números contrariam o seu próprio discurso.

Quanto ao investimento público, Sr. Primeiro-Ministro, lanço-lhe apenas uma pergunta: o senhor já não cora de vergonha, se eu lhe disser que, em termos de investimento público, regressa aos tempos do governo do Prof. Cavaco Silva? Já está tão imune às críticas que já é incapaz de reconhecer esses cortes brutais no investimento público no nosso país?

Sr. Primeiro-Ministro, há um ano, o senhor dizia aqui que, ao contrário dos outros, o seu Governo  apresentava um Orçamento «de verdade», um Orçamento que não «varria o lixo para 'debaixo do tapete'» - são palavras suas. Há um ano o senhor dizia que o seu Orçamento não escondia nada, não tinha qualquer operação de desorçamentação, era - dizia o senhor - um Orçamento sem trapalhadas. Ó Sr. Primeiro-Ministro, acho que estamos a regressar ao passado, estamos a regressar precisamente ao «reino das trapalhadas»!...

Sr. Primeiro-Ministro, a introdução das portagens nas SCUT é um regresso ao passado.

Independentemente das desculpas que o senhor invente, esfarrapadas ou não, para justificar a introdução das portagens nas SCUT, o que este Governo tem em curso é uma enorme operação de desorçamentação que é reconhecida por todos. Por que é que o senhor não reconhece isso? Já houve Deputados da sua maioria que o reconheceram - aliás, o Sr. Deputado João Cravinho já o explicitou em entrevistas públicas.

É certo que os senhores, em vez de «varrerem o lixo para 'debaixo do tapete'», utilizam uma outra táctica: «pegam no tapete e escondem o lixo».

Por isso, vale a pena perguntar se, perante esta operação de desorçamentação que está em curso, o senhor vai ou não chamar novamente o Dr. Vítor Constâncio para criar uma «comissão Constâncio» com vista a uma análise das contas orçamentais de 2007.

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