Artigo de Honório Novo no «Jornal de Notícias»

«Oitenta e dois anos»

É constituído por homens e mulheres, por jovens e menos jovens, com objectivos comuns e uma enorme vontade de transformar a sociedade em que vivem.

Falha e erra bastante mais do que desejaria cada um dos que o fundaram – a 6 de Março de 1921 – certamente mais do que gostariam os que hoje o integram. Trata-se de um partido – o PCP – constituído por homens e mulheres, como tal imperfeito! Só que a todas as suas imperfeições há que, contudo, creditar o esforço próprio de um colectivo que nunca desistiu, que nunca deixou de intervir nem desapareceu nas agruras dos anos de degredo e das perseguições de quem oprimiu tantos países e povos.

A idade, por si só, "não é um posto", ainda que na vida política a longevidade de princípios e objectivos só exista quando há laços de pensamento e de acção que perduram e são capazes de acompanhar a evolução dos tempos e das relações sociais. E é certo que tais laços têm que ser fortes para superarem incompreensões e ataques menos leais, insuficiências e incapacidades, os diversos modismos, os silenciamentos e injustiças.

Sinto as dificuldades antigas e novas que são criadas a quem quer continuar a intervir e se norteia por objectivos de transformação social visando a redistribuição da riqueza, a solidariedade social, isto é, visando a construção de uma sociedade socialista.

Sinto as dificuldades (antigas e novas) criadas a uma intervenção deste tipo. É que esta é uma intervenção que muitas vezes perde no "confronto mediático" ainda que todos saibam que ela é a única que permanece quando todas as outras "desaparecem da circulação" logo que os "microfones se desligam". Esta é, também, uma intervenção (por vezes) autodeficitária que não sabe bem como utilizar as palavras que "soam bem", mesmo quando depois se prova que as "palavras bonitas de outras", afinal, estavam vazias de conteúdo...

Sinto bem estas e outras dificuldades. Mas também sei que aqui se continua a debater e discutir, a analisar e a estudar as questões, a procurar reflectir os pensamentos e as contribuições de todos. Sinto bem as dificuldades. Só que tenho a certeza que os ricos estão cada vez mais ricos, que o desemprego e a instabilidade social atormentam, que a doença não é tratada por igual, que a justiça (afinal) "tem os olhos abertos" que só vê os poderosos, que a escola é cada vez menos para todos, que a guerra quer abafar o nosso grito de paz. E é por tudo isto que continuo convicto de que vale a pena lutar por ideias e práticas capazes de vencer a superficialidade, o imediatismo e o oportunismo (mais ou menos) retórico.

Não é fácil. Exigem-se novas capacidades para incorporar as diferenças, para alargar horizontes e fazer convergir quem pode ajudar a construir novas soluções que beneficiem o povo e o país.

Não é fácil, mas para quem tem dezenas de anos de saberes e experiências, as dificuldades podem ser vencidas. Ou será que há alguém que pense que estes oitenta e dois anos são descartáveis?

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