Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral, Encontro com Novos Militantes

Novos Militantes do PCP

[Extractos]

Gostaria de vos saudar pela vossa adesão ao Partido Comunista Português. Novos militantes, jovens militantes, vocês representam aqui um grande movimento de adesão ao Partido que nos últimos anos se tem verificado por todo o País, são mais de 2 600, considerando apenas os que têm menos de 35 anos, aqueles que tomaram a decisão de aderir ao PCP desde o XVII Congresso.

É inquestionável que estamos num momento de significativo rejuvenescimento do Partido. Quase um milhar (921) são jovens mulheres. A vossa opção é motivo de grande satisfação e confiança.

Quais as vossas razões quando a situação do País vos cria incontáveis dificuldades e limitações de participação política? Quais as vossas razões quando perante as dificuldades e problemas tantos procuram empurrar as novas gerações para o alheamento? Quais as vossas razões quando a adesão ao PCP, numa sociedade em que as ideias dominantes são das classes dominantes, baseadas no salve-se quem puder, no egoísmo e no individualismo, não significa qualquer beneficio pessoal, mas sim uma atitude de acrescida exigência, por que não dizê-lo, de coragem?

A resposta das múltiplas razões da vossa opção é dada por cada um de vós e pelos milhares que vos acompanham nesta adesão ao Partido. Certamente há razões específicas que vos levaram a esta opção, no entanto o percurso e a motivação pessoal, é indissociável da natureza, características e papel deste Partido Comunista Português.

Somos o Partido com um ideal e projecto de futuro, alicerçado numa história heróica, com uma dedicação sem limites à defesa dos interesses e aspirações da juventude, dos trabalhadores e do povo português.

(...)

Um ideal e projecto cuja necessidade e actualidade se reforça num mundo em que o capitalismo revela com gritante brutalidade as suas características de exploração, causadoras da fome, da agressão e da guerra. A política de direita do PSD, CDS e PS criou hoje uma situação difícil aos jovens. Estão a tentar criar uma geração sem direitos, estão a criar obstáculos sem conta à vida dos jovens. A exploração, o lucro e o agravamento das injustiças e desigualdades sociais estão a condicionar profundamente a sua vida.

A precariedade, com o recurso a contratos a prazo, à falsa prestação de serviços (reciprebos verdes), ao trabalho temporário, aos estágios e às bolsas de investigação provocando uma instabilidade generalizada nos vínculos de trabalho e uma autêntica precariedade na vida.

Os baixos salários, 450, 500, 600 euros, com um custo de vida galopante, o endividamento como alternativa para acesso à habitação, o brutal aumento das taxas de juro como garrote, tornam os jovens de hoje fonte de acumulação de lucros colossais dos bancos ao longo da sua vida e criam uma apertada situação, comprometendo muitas vezes a organização da vida familiar e a opção de ter filhos.

Os problemas do aparelho produtivo e o desemprego afectam em particular os jovens e empurram outra vez parte deles para novas vagas de emigração, desperdiçando conhecimentos, capacidades e energia essenciais ao desenvolvimento do País. 

O Governo PS/Sócrates e o Código do Trabalho: caducidade da contratação colectiva e dos direitos; facilitação dos despedimentos sem justa causa; desregulamentação dos horários; baixa das remunerações; legalização e legitimação da precariedade.

Não aceitamos esta situação e este caminho, entendemos que as novas gerações têm direito a uma vida que permita a sua realização profissional e pessoal. Os jovens do nosso País, operários, empregados, trabalhadores dos serviços, das artes e do espectáculo, do ensino e da investigação, de todos os sectores, podem contar com o PCP e com a JCP, como a força que sente os seus problemas, que faz suas as aspirações e reivindicações juvenis, que protagoniza uma política e um projecto.

(...)

As novas gerações, os jovens do nosso País podem contar com este Partido Comunista Português e com a JCP. Quero dizer-vos que contamos convosco na luta pela concretização das aspirações juvenis, na luta por uma ruptura com a política de direita, por um novo rumo para Portugal.

Partido diferente na forma de estar na política e no projecto que defende.

Que diferença, enquanto uns se confrontam com uma exibição de diferenças pessoais, numa fulanização dos que ralham uns com os outros e se degladiam verbalmente mas que escondem a convergência das mesmas ideias e projecto ao serviço dos grupos económicos e financeiros que é responsável pelos problemas do País, nós no PCP entendemos a nossa vida democrática com uma concepção mais profunda. Não somos o Partido de A ou de B, de grupos atrás deste ou daquele chefe, somos um grande colectivo, um colectivo militante, um colectivo que beneficia da reflexão e iniciativa individual partindo dos conhecimentos, da experiência, da profunda ligação à realidade da vida, dos problemas, das angustias, das aspirações, das alegrias, da força de viver dos jovens, dos trabalhadores dos vários sectores sociais do nosso povo.

Isso não invalida que no seio do nosso colectivo partidário não expressemos reflexão própria ou diferenças que acabam por ser contributos para o apuramento da nossa decisão e orientação. A vossa vinda ao Partido é a negação dos que pressagiavam o nosso desaparecimento. Muitas vezes nos deram como derrotados. No passado o regime fascista declarou-nos liquidados, mas foi esse odioso regime que se afundou.

Com o desaparecimento da URSS e as dramáticas derrotas do socialismo deram-nos em declínio irreversível e mortos a prazo curto. Mas chegados não tarda ao fim da primeira década do Século XXI e o que vemos?

Vemos que o nosso Partido se apresenta mais forte, com mais organização, mais intervenção e influência.

Quando alguns nos davam como desiludidos, desanimados, abandonando objectivos e ideias e decretavam o fim da militância comunista, temos cada vez mais militantes a darem o melhor de si, num exemplo de participação notável e única no panorama partidário português.

Vemos que os nossos adversários temem a nossa força e a força das nossas convicções e ideias. Convicções e ideias que não estão a morrer, mas que se revitalizam e alimentam e dão força à luta do povo e à luta por uma verdadeira alternativa de esquerda. Vemo-los, agora já não tanto a dizer que vamos acabar, mas a tentar silenciar-nos numa espécie de faz de conta que não existimos, porque sabem que estamos a crescer e fortalecer-nos. E se alguns não sabem ainda porque é que sistematicamente se enganam nos seus agoirentos presságios.

Nós dizemos-lhes o nosso segredo: é porque não há luta na defesa dos interesses dos trabalhadores e do nosso povo onde não estejam os comunistas; é na ligação aos problemas, na ligação à vida, às mais sentidas aspirações e anseios de uma vida melhor dos trabalhadores, das populações que nos afirmamos e resistimos a todas as adversidades.

É esse segredo que um novo militante sabe. Sabe que não se pode fechar sobre si, porque este Partido a que aderiu não existe para si próprio, mas para dar sentido à vida, a uma sociedade de homens e mulheres livres e iguais em dignidade e condições de existência.

É, por isso, que à nossa frente estão sempre novos desafios, novas tarefas porque a ligação à vida, aos problemas é uma tarefa permanente, quotidiana de todos e de cada um. Tarefas, algumas das quais são uma preocupação imediata e que exigem uma resposta empenhada dos comunistas portugueses. 

Uma que tendo directamente a ver com nossa própria vida interna, mas que é ao mesmo tempo fundamental para preparar o nosso Partido para responder aos problemas dos trabalhadores, do povo e do país. Trata-se de levar para a frente com êxito o XVIII Congresso do nosso Partido, marcado com inicio para o próximo dia 29 de Novembro, em Lisboa. A grande tarefa partidária e a questão central da actividade partidária deste ano de 2008 e cuja primeira fase já se iniciou com a discussão das linhas que o nosso Comité Central, na sua última reunião lançou como base de trabalho. Discussão em que todos os militantes estão em igualdade de circunstâncias. Novos e mais antigos, porque neste partido não se pergunta a ninguém quanto anos tem de Partido para dar a sua opinião.

Um Partido revolucionário como o nosso não pode prescindir do contributo de todos, do saber, da energia e vitalidade dos novos militantes e da variada experiência de cada um de todos os outros para o apuramento e acerto das suas decisões.

Tal como não se pode prescindir da análise, do debate franco e fraterno, concebido como um processo e não apenas um momento. Um Congresso que pressupõe todo um percurso democrático de discussão e elaboração colectiva das decisões e orientações a tomar. Um Congresso que é, afinal, o reflexo do projecto que preconizamos para país e para a sociedade nova a que aspiramos. Um país e uma sociedade construídos com a activa participação e envolvimento dos trabalhadores e do povo. 

É com o contributo e o empenhamento de todos que continuaremos a conseguir um PCP mais forte e para responder aos problemas e aspirações dos trabalhadores e do povo.

A outra grande tarefa que os comunistas e os trabalhadores têm, no imediato, pela frente é a de dar força e ampliar esse importante combate que os trabalhadores portugueses estão a travar para inviabilizar e impedir que o governo concretize o seu perverso projecto de alteração para pior do Código de Trabalho.

Estamos numa primeira fase em que por todo o Partido se coloca aos militantes a sua contribuição para a definição dos grandes objectivos do XVIII Congresso. Centenas de organismos, milhares de militantes sob o lema "Por Abril, pelo Socialismo, um Partido mais forte" iniciaram um processo que culminará em 29, 30 de Novembro e 1 de Dezembro, com o apuramento de respostas e orientações para um PCP ainda mais forte, condição necessária para assegurar um rumo de liberdade, democracia, desenvolvimento, justiça e progresso social para Portugal, para a afirmação do projecto dos comunistas.

É essa contribuição que esperamos de vós, militantes activos, intervenientes, participativos, que juntem a vossa reflexão, a vossa militância, a vossa força, a este grande colectivo, a este Partido Comunista Português grande força da liberdade e da democracia, partido de resistência e de luta, partido de construção do futuro, partido da esperança hoje renovada, numa sociedade e num mundo mais justos, para os trabalhadores, a juventude, o povo português.

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