Intervenção de João Oliveira na Assembleia de República

A necessidade de reformas estruturais, nomeadamente na área da justiça, com vista ao crescimento económico do País

Sr.ª Presidente,
Sr.as e Srs. Deputados,
Sr. Deputado Hugo Lopes Soares,
Ouvindo a sua declaração política, a primeira pergunta que gostava de lhe colocar é acerca do que os senhores pensam fazer em relação ao vosso passado, às vossas responsabilidades na situação que atualmente vive a justiça. Ouvindo o Sr. Deputado, daquela tribuna, fazer uma intervenção como a que fez em relação à justiça, parece que o PSD nunca teve responsabilidades no governo do nosso País nem nunca contribuiu para que a situação da justiça fosse a desgraça que é hoje. Portanto, Sr. Deputado, é esta a primeira pergunta.
Mas gostava de lhe pedir outros esclarecimentos. Praticamente, o Sr. Deputado fez uma intervenção assente, toda ela, num pressuposto que julgamos ser limitado e limitador da discussão política em torno da justiça, no sentido de que só releva para fins económicos, só tem importância do ponto de vista económico, do contributo que pode dar, ou não, para o crescimento económico e a dinamização da atividade económica.
Sr. Deputado Hugo Lopes Soares, em primeiro lugar, a justiça deve servir os cidadãos não só quando eles precisam de recorrer à justiça para verem reconhecidos os seus direitos mas também deve servir os cidadãos para punir aqueles que violam as regras da sociedade, para punir aqueles que, violando compromissos sociais, praticando crimes, devem ser perseguidos pela justiça e punidos e, no fim de contas, ressocializados, porque é esse o fim último do exercício da ação penal.
Gostava ainda de lhe dizer que o seu partido tem especiais responsabilidades numa situação que hoje se vive em Portugal, que é a de termos uma justiça de classe. Temos uma justiça que foge sempre que os mais pobres precisam de a ela recorrer para verem reconhecidos os seus direitos, mas que está lá sempre para os perseguir quando tem de o fazer, uma justiça que, para os mais ricos, está sempre acessível para lhes reconhecer todos os direitos, sendo inoperante e ineficaz quando é preciso combatê-los, quando praticam crimes e quando é preciso combater as suas atividades ilícitas e criminais.
Sr. Deputado, essa marca, esse cunho de classe na justiça que temos em Portugal tem um contributo decisivo do seu partido: na aprovação de sucessivas reformas do Processo Penal, resultante, aliás, do pacto para a justiça celebrado com a maioria absoluta do Partido Socialista; nas reformas da ação executiva, em que não quiseram ouvir as propostas do PCP, e hoje queixam-se porque não as ouviram nem adotaram as soluções que propusemos; e em relação a muitas outras matérias no âmbito da justiça civil e do combate à criminalidade grave e complexa, em que o seu partido tem responsabilidades não só na definição do quadro legal mas também na aprovação de sucessivos Orçamentos do Estado, que deixam a investigação criminal sem meios para combater a criminalidade grave e complexa.
Sr. Deputado, para terminar, a pergunta que lhe coloco é, afinal de contas, o que podemos esperar do PSD para inverter o rumo da situação?
O PSD entende que é no quadro do pacto de agressão que se resolvem estes problemas ou não?
É que se a vossa proposta for dar cumprimento, também na área da justiça, ao que está estabelecido no pacto de agressão, estamos conversados, Sr. Deputado, porque, afinal, os 6 minutos da sua intervenção são de pura retórica.

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