Conf. Imprensa sobre o agravamento da situação nacional, a acção do Governo e a intervenção do PCP

Jerónimo de Sousa anuncia grande marcha para 23 de Maio

Quanto mais ouvimos e falamos com os trabalhadores e as populações, quanto mais escutamos as suas preocupações e dificuldades, quanto mais conhecemos o país real, o país do desemprego, dos baixos salários, do trabalho precário, o país das pensões de miséria, dos preços altos, das dívidas aos bancos que sufocam as famílias, o país das milhares de pequenas empresas arruinadas, o país dos milhões e milhões de euros de lucros dos grandes grupos económicos, dos ricos cada vez mais ricos, dos benefícios e paraísos fiscais, mais sólida se torna a convicção da necessidade de uma ruptura com a política de direita que há 33 anos tem sido imposta ao país.

Temo-lo dito e afirmamo-lo novamente, a crise do capitalismo que atinge hoje o país, apenas veio evidenciar a fragilidade económica e a degradação social provocada por anos a fio de alternância entre PS e PSD, com ou sem CDS, sempre no mesmo rumo de injustiça e declínio nacional.

Os últimos quatro anos confirmam isso mesmo. Um país mais desigual, mais injusto, mais dependente e menos democrático. Um país com menos produção, com aumento da dívida externa, com o agravamento dos défices estruturais na energia, na agricultura, na ciência e tecnologia e que no plano social enfrenta hoje uma das mais dramáticas situações desde o 25 de Abril.

Uma realidade que confirma o falhanço de todas as promessas do PS e a sua opção de classe no favorecimento dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros. Grupos económicos que, num quadro de agravamento brutal da situação económica, alcançaram lucros fabulosos que são um insulto para quem vive com baixos salários e pensões, para quem tem empréstimos à habitação para pagar, para quem tenta fazer sobreviver as suas pequenas empresas.

Anos de sacrifícios para os que menos têm e menos podem. Anos que ficaram marcados pela destruição de serviços públicos, pelo ataque sem precedentes aos direitos dos trabalhadores, pela alteração para pior da legislação laboral. Anos de ataque à Escola Pública, de destruição do Serviço Nacional de Saúde, de ataque à segurança social com a redução do valor das pensões. Anos de arrogância e prepotência na acção governativa, de inquietante regressão do regime democrático expressa em inúmeras tentativas de limitação de liberdades e direitos democráticos.

À boleia do rasto de destruição social que a crise do capitalismo está a impor aos povos de todo o mundo, o Governo e o grande patronato encontram  agora, novamente, espaço para pedir mais sacrifícios. Antes sacrifícios em nome do défice das contas públicas, agora sacrifícios em nome da crise e talvez no futuro, novamente sacrifícios com uma qualquer justificação, para que continue a injustiça e o favorecimento ao grande capital.

Mas o que fica por explicar é a razão pela qual aqueles que durante anos acumularam milhões de euros de lucros, frequentemente à margem da lei, como pode ser comprovado pelos sucessivos escândalos no sector financeiro, estendem agora a mão ao Estado, não para resolver os problemas da economia nacional ou do Povo português, mas para garantir, que é para eles e em função dos seus interesses que as chamadas medidas de combate à crise são tomadas.

Para os trabalhadores, para os agricultores, para os pequenos empresários sobram quanto muito umas migalhas que o Governo PS não se cansa de agitar como bandeiras de uma política com «preocupações sociais». Anúncios sem consequência, a mera continuação das promessas do Governo PS, para passar ao lado das grandes exigências de fundo que a preocupante situação económica e social reclama.

2.

É legítimo e justo o descontentamento e o protesto que varre o país e atinge largos sectores da sociedade. Protesto que tem levado para a rua milhares e milhares de trabalhadores e que deu corpo às mais impressionantes acções de massas realizadas nos últimos anos, como testemunha a grande manifestação nacional de 13 de Março, convocada pela CGTP-IN.

Luta e protesto que levou as populações a levantarem-se contra o encerramento de serviços públicos, que mobilizou e mobiliza os agricultores em defesa da produção e do mundo rural, que levantou os professores atingidos na sua dignidade, que leva a uma crescente presença dos trabalhadores desempregados em acções próprias, que desperta a juventude, seja a que no dia-a-dia das escolas sente a degradação e elitização do sistema de ensino, seja aquela que se vê empurrada para a precariedade e o desemprego como uma nova geração sem direitos.

Perante as desigualdades e injustiças, perante a arrogância e a prepotência, perante a ilusão de soluções que não põem causa a política de direita, é cada vez mais larga a compreensão de que não há saída para o actual quadro político, económico e social sem uma ruptura com a política de direita e uma mudança de rumo na vida nacional.

Uma ruptura e uma mudança que, neste ano em que se comemora o 35º aniversário do 25 de Abril, não se fica por meros paliativos despejados sobre a crise do país, mas que coloca  no centro da intervenção política a elevação das condições de vida, o emprego com direitos, o aumento dos salários e pensões, o reforço das prestações sociais e dos serviços públicos, a defesa da produção e da soberania nacional, um outro papel do Estado na economia, nomeadamente nos sectores estratégicos colocando-os ao serviço do Povo e do país.

Uma ruptura e uma mudança, que retome os objectivos libertadores e as conquistas da revolução de Abril vertidos na Constituição da República, que rompa com a subordinação do poder político ao poder económico e construa um tempo novo, de progresso social, de justiça, democracia e liberdade.

A situação actual não comporta mais que se continue a mesma política. Quando aquilo que o Governo PS e outros têm para propor ao país é mais do mesmo, é o mesmo rumo de sacrifícios e exploração, é o empobrecimento e mutilação do regime democrático, é a abdicação dos interesses nacionais, é o agravamento das injustiças, são as mesmas políticas que estão na origem dos actuais problemas, então, é hora de dizer BASTA!

3.

 
É perante esta situação de um país sem saída no quadro da actual política, é perante esta exigência de ruptura e mudança na vida política nacional, que anunciamos hoje a realização de uma grande manifestação política, uma Marcha de protesto, ruptura e confiança, uma grande acção de luta por uma vida melhor, que irá decorrer no próximo dia 23 de Maio, precisamente daqui a dois meses, na cidade de Lisboa.

Uma marcha para levar mais longe a denúncia e o combate às injustiças, ao desemprego, à miséria e à corrupção e inscrever no horizonte mais próximo do Povo português a necessária ruptura com a política de direita, a construção de uma nova política e de um novo governo para Portugal.

Uma marcha que tem como objectivo expressar de forma clara e inequívoca o descontentamento e a indignação que percorre o país e que vem no seguimento das grandes acções de massas realizadas nos últimos anos e para onde convirjam muitos dos que se sentem atingidos, indignados e ofendidos com a actual situação do país.

Uma Marcha que considere a importância das batalhas eleitorais que se seguem, mas cujos objectivos estão para além das eleições, projectando uma nova fase do processo de construção da ruptura com a política de direita.

Uma Marcha de oposição às opções políticas do Governo, de exigência de uma mudança clara na vida política nacional que vá ao encontro dos valores de Abril e dos direitos inscritos na Constituição da República.

Uma marcha promovida no quadro da CDU aberta à participação de todos os que se sentem atingidos nas suas condições de vida, na sua dignidade e que reclamam justamente uma vida melhor.

Uma marcha que é um sinal de esperança, de confiança num futuro melhor, construída por aqueles que querem ser homens, mulheres e jovens do seu próprio tempo, construtores do presente e do futuro.

À intervenção quotidiana junto dos trabalhadores e das populações na mobilização contra a política de direita, à intensa iniciativa política no Parlamento Europeu e na Assembleia da República, à acção concreta na resolução dos problemas das populações no plano do poder local, à presença de milhares de militantes e activistas nas organizações e movimentos de massas onde realizam um trabalho sem paralelo para unidade e reforço da intervenção dessas estruturas, o PCP e a CDU juntam esta grande iniciativa, impulsionando o grande movimento de ruptura e mudança que a actual situação exige.

Em 23 de Maio, contra a crise, a exploração, o desemprego, a corrupção e as injustiças, afirmar-se-á nas ruas de Lisboa a indignação e o protesto, a exigência de ruptura e mudança, de uma nova política e de um novo Governo, a força da construção, esperança e alternativa, a confiança que sim é possível uma vida melhor, um Portugal com futuro.