Intervenção de Ângelo Alves, membro da Comissão Política do Comité Central, Encontro «Os comunistas e o movimento sindical – uma intervenção decisiva para a organização, unidade e luta dos trabalhadores»

Internacionalismo proletário – componente e instrumento essencial do movimento operário

Internacionalismo proletário – componente e instrumento essencial do movimento operário

Ao longo dos seus 100 anos de História o PCP soube, sempre, mesmo durante a clandestinidade, honrar as suas responsabilidades para com os trabalhadores, o povo e a pátria, e simultaneamente, afirmar-se como um partido internacionalista.

Não poderia, e não pode ser de outra forma. É a identidade comunista do PCP, a sua base ideológica e o seu projecto que nos fazem interpretar correctamente o carácter inseparável do patriotismo e do internacionalismo, e dar expressão concreta ao internacionalismo proletário que, nas palavras do Camarada Álvaro Cunhal, «é parte integrante e essencial do marxismo-leninismo, uma explicação científica das relações mútuas e da missão histórica da classe operária de todos os países e uma política, uma ética, uma orientação para a realidade objectiva do mundo capitalista: o antagonismo irreconciliável de interesses do proletariado e da burguesia em cada país e a "plena identidade de interesses e objectivos" dos proletários de todos os países.»

A solidariedade internacional nasceu com o movimento operário, decorre da sua natureza de classe. À medida que foram tomando consciência da igualdade da sua condição de explorados, do carácter comum do seu inimigo – o capital-, da identidade internacional do seu objectivo – a construção de uma sociedade sem classes - e da necessidade da sua unidade e entreajuda na luta, os operários e trabalhadores fundaram e expandiram o internacionalismo proletário, uma das suas mais poderosas armas na luta contra a exploração, a par com a sua unidade e organização de classe, e que foi sintetizada na consigna: “proletários de todos os países uni-vos”.

Assim é hoje. Quando os comunistas, intervindo no Movimento Sindical de Classe, quando os dirigentes e activistas sindicais, preparam, mobilizam e concretizam lutas por salários e por outros direitos laborais, sindicais e sociais; quando alcançamos conquistas e vitórias na luta, ou resistimos e travamos o passo ao patronato, à exploração e opressão, isso tem uma expressão que não se limita às nossas fronteiras, alimenta esperança, abre perspectiva e reforça a luta dos trabalhadores e povos de outros países. E do mesmo modo, quando em outros Países os trabalhadores e os povos lutam, resistem, alcançam vitórias e dão passos na conquista de direitos e de parcelas de poder à burguesia isso reforça a nossa própria luta. É por isso que a solidariedade internacionalista é tão poderosa, tão importante e tão central na nossa luta e é por isso que as lutas, algumas delas poderosas, que se continuam a desenvolver por todo o Mundo, são escondidas, silenciadas e reprimidas.

O internacionalismo proletário adquiriu ao longo da caminhada histórica da luta de emancipação variadas formas e expressões, nomeadamente em função do momento histórico e da correlação de forças. Teve e tem de enfrentar obstáculos que a realidade objectiva do capitalismo coloca, ou que a ofensiva ideológica do capital vai erigindo para tentar impedir a torrente internacional de força e poder que a luta e a solidariedade internacionalista alimentam mutuamente.

Não obstante as grandes transformações operadas desde os finais do Século XIX até aos dias hoje, a solidariedade da classe operária de todos os países; a defesa do direito à autodeterminação e à independência das nações; a centralidade de interesses comuns de classe na luta pela emancipação e pela superação revolucionária do capitalismo; a luta contra o nacionalismo da burguesia, opondo-lhe o patriotismo; e a luta pela paz, são e devem continuar a ser princípios basilares do movimento operário, designadamente do Movimento Sindical de Classe.

O actual estádio de desenvolvimento do capitalismo, ainda marcado pela globalização do domínio imperialista, pela internacionalização económica, científica, tecnológica e comunicacional; pela robotização e longas cadeias de produção; pelas chamadas “novas realidades do trabalho” (algumas delas típicas do Século XIX); pela formação de blocos e acordos supranacionais imperialistas; por uma inaudita concentração de riqueza, de capital e de meios de produção; e pelas consequências do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo, tornam a solidariedade internacionalista mais importante do que nunca. Os flagelos e desigualdades sociais, as crescentes desigualdades entre nações e o complexo processo de rearrumação de forças em curso, não esbatem, antes intensificam a relação dialéctica entre as lutas no plano nacional e a solidariedade internacionalista, entre a emancipação nacional e a emancipação de classe.

Mas a solidariedade internacionalista não se constrói no abstracto, nem é espontânea entre as massas trabalhadoras. Requer muitos esforços, desde logo no fortalecimento das várias componentes do movimento operário, especialmente os partidos comunistas e revolucionários e o movimento sindical de classe, com a sua organização e independência de classe e a sua permanente solidariedade com todos os que resistem à exploração capitalista e à opressão do imperialismo.

Se é verdade que a solidariedade internacionalista tem o poder de multiplicar vitórias, nomeadamente por via da força do exemplo e da percepção que é possível avançar e vencer – sabemos bem o peso que tiveram os avanços sociais e civilizacionais alcançados com as experiências de construção do socialismo nas conquistas de direitos nos países capitalistas, e também sabemos o estímulo que a Revolução de Abril constituiu para luta de outros povos na Europa e mesmo em outros continentes -, se isso é verdade, dizia eu, é igualmente verdade que a solidariedade internacionalista é tão ou mais importante em tempos de resistência e acumulação de forças como os que vivemos.

O grande desfasamento entre as condições objectivas e subjectivas para a superação revolucionária do capitalismo, e o grau de confronto, agressão e ingerência desferido pelo capital e o imperialismo contra todas as forças e nações que, mesmo por caminhos difíceis com interrogantes e contradições, prosseguem a resistência ao domínio imperialismo e/ou persistem no objectivo da construção do socialismo, são dois factores que elevam ainda mais a importância da solidariedade internacionalista com base em princípios, respeito mutuo e aceitação de diferenças.

Sempre, mas ainda mais no actual contexto, a luta dos trabalhadores pela sua emancipação social é inseparável da questão nacional e da afirmação das nações à sua independência e soberania. Não no sentido da burguesia, mas dos interesses de classe comuns aos trabalhadores de todo o Mundo – já Marx e Engels o afirmavam no Manifesto.

É este processo dialéctico, assente em princípios de classe, que o capital tenta por diversas formas minar, promovendo a divisão entre os trabalhadores, alimentando os nacionalismos e forças reaccionárias e fascistas, propagando teses do desaparecimento da classe operária; tentando boicotar, isolar, criminalizar e diabolizar as experiências de luta que põem em causa o domínio do imperialismo e insistem em caminhos alternativos, progressistas e revolucionário.

Isso tem sido bem visível nas tentativas de descaracterização do movimento sindical, seja no pano nacional, seja no plano internacional, e na acção para tentar separar o movimento sindical da base da sociedade por um lado, e da sua identificação com o movimento das nações na busca por sociedades novas livres da exploração capitalista e da opressão do imperialismo.

Quando o movimento operário, e em particular o movimento sindical, desenvolve a solidariedade com os povos em luta, está a reforçar-se, pois além de estar a cumprir com um dever de classe está a elevar a consciência social, política e ideológica dos trabalhadores para um patamar superior de percepção da integração da sua luta na luta mais geral dos trabalhadores e dos povos, na luta de transformação social.

Essa é uma das razões pela qual é tão importante nunca falhar nos deveres internacionalistas de solidariedade com povos que estão sob fogo cerrado do imperialismo e que de modo algum podemos deixar sós na sua luta.

A grande central sindical de classe dos trabalhadores portugueses a CGTP/IN, apesar da sua não filiação internacional, tem sabido honrar tais compromissos, afirmando-se como uma expressão notável do movimento operário e do internacionalismo proletário que o deve sempre caracterizar. Isso deve-nos encher de orgulho e dá-nos força e confiança para prosseguir e intensificar a luta que continua.

Viva o Internacionalismo Proletário
Viva o Partido Comunista Português

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