Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário-Geral, Sessão Pública «É hora de mudar de política»

É hora não de ficar à espera, mas sim de intensificar a luta dos trabalhadores e das populações

Por muito que nos tentem distrair, a verdade é que a queda do Governo é inseparável do desgaste da sua política e da falta de respostas aos problemas que a maioria da população e o País enfrentam, ao mesmo tempo que escancara as portas ao aumento dos lucros e à concentração da riqueza nos grupos económicos e financeiros.

Uma situação de profunda injustiça e desigualdades que levou e leva à frustração de expectativas e à justa resposta e luta dos trabalhadores e do povo.

E este é um elemento central de avaliação da actual situação, marcada que está pela demissão do Primeiro-Ministro, precipitada pelas investigações judiciais envolvendo o actual Governo.

Sobre estas matérias, muito se vai falando mas quase sempre ao lado da questão central.

A corrupção não resulta apenas deste ou daquele mau comportamento individual, a corrupção não é uma palavra oca, a corrupção e a promiscuidade entre o poder financeiro e o poder político é um problema central do sistema capitalista, tem causas e tem responsáveis.

Podem tentar desviar as atenções e elevar a voz, mas a verdade é que PS, PSD, CDS, IL e Chega estão comprometidos até ao pescoço e alguns para lá disso, com as privatizações, com as orientações e práticas que nos trouxeram à situação a que chegámos.

É extraordinário que não se oiça uma única palavra, sobre esse que é o maior foco de corrupção que são as privatizações. 

PS, PSD, CDS, IL e Chega, sobre as negociatas e a corrupção que está directamente associada às privatizações, nem um pio, é um silêncio absoluto.

E compreende-se que assim seja, pois todos eles são cúmplices e promotores desses autênticos crimes económicos e financeiros.

E é notável que perante as negociatas, perante a promiscuidade, perante o tráfico de influências, o que se está a propor é, na prática, a legalização do crime, sim é incrível mas é isto que volta a estar em cima da mesa com a chamada formalização do lóbi.

Os trabalhadores e o povo estão agora confrontados com a crise política, é verdade, mas há muito que enfrentam a crise de todos os dias nas suas vidas e que não começou há duas semanas.

Hoje está à vista de todos, tal como o PCP alertou, que a maioria absoluta do PS não traria nem estabilidade política nem social, a única estabilidade que o PS queria era a de poder implementar a sua opção de fundo pela política de direita.

O PS teve maioria absoluta e os problemas que precisavam de ser enfrentados, nomeadamente no Serviço Nacional de Saúde, na habitação, nos salários e pensões não só ficaram por resolver como hoje estão agravados.

Uma maioria assente em proclamações, em medidas pontuais, na propaganda, que provocou instabilidade na vida de cada um e foi um euromilhões para os grupos económicos.

A vida desmentiu a ilusão que levou muitos a pensar que dar força ao PS seria um seguro de vida, mas como sempre a realidade impõe-se, e o PS não só não foi obstáculo à política de direita, como foi sim por sua única opção, seu fiel protagonista e pior, passou dois anos de forma descarada a alimentar e alimentar-se das forças mais reaccionárias. 

Essas forças que cinicamente são apresentadas contra o sistema mas que são o pior que o sistema capitalista produz.

Esses que fazem muito barulho e enchem o peito de supostas verdades, mas que, na verdade, o que querem é que olhemos para o vizinho, para o colega de trabalho, que olhemos para com quem nos cruzamos nos transportes e os apontemos como responsáveis da situação, querem que acusemos tudo e todos menos os reais responsáveis pela situação em que estamos.

Mas se aqui chegámos não foi por culpa deste ou daquele, foi sim pela imposição dos interesses dos grupos económicos e financeiros e da política que lhes dá corpo.

Essa política que pela mão do PS, do seu Governo e da sua maioria em convergência com as posições de PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal levou à escandalosa acumulação de lucros para uns poucos e às dificuldades para a larga maioria da população.

Uma convergência expressada ontem mesmo com a aprovação do Orçamento do Estado.

Lá estavam todos, uns de voz grossa a dizer mal de tudo e de todos, mas satisfeitos com os 8 mil milhões de euros que vão dos nossos bolsos para os grupos privados da doença.

Outros de voz mais doce, mas aos pulos pelos mil e seiscentos milhões consagrados em benefícios fiscais para os grupos económicos.

Outros de cima do seu aparente ar responsável, mas incapazes de esconder o sorriso com os mais de 200 milhões de euros para as PPP.

Todos satisfeitos, porque no fim do dia lá ficaram consagrados mais benefícios fiscais, mais milhões para os grupos económicos, mais desmantelamento do SNS, mais condições para a banca continuar a encher-se à custa de quem trabalha ou trabalhou uma vida inteira.

E foi a isto que o PS deu cobertura.

Mas o que se passou ontem, demonstra mais uma vez, é que há hoje demasiados deputados ao serviço da banca, dos grandes grupos económicos, da concentração da riqueza criada, ao serviço de uns poucos e que há deputados a menos ao serviço dos trabalhadores, do povo, de quem cá vive e trabalha.

Mas também isto tem que mudar, e vai mudar.

São precisos mais deputados do PCP e da CDU, mais deputados ao serviço dos trabalhadores, do povo, de quem cá vive e trabalha.

E é neste quadro que o País vai para eleições.

O que vai determinar e determinará o dia a seguir às eleições, é a força e os deputados que o PCP e a CDU tiverem.

Hoje cada vez mais gente percebe, por experiência própria e pela sua vida, que quando o PCP e a CDU avançam a vida de cada um anda para a frente.

Se assim é, e é, então é do interesse de cada um o reforço do PCP e da CDU.

O PCP e a CDU vão crescer, vamos reforçar, vamos aumentar a votação, vamos eleger mais deputados e iremos tão longe quanto for a vontade do nosso povo.

E isso vai acontecer mesmo contra a vontade daqueles que gostariam que assim não fosse.

Contra a vontade daqueles que voltam à mistificação da eleição para Primeiro-Ministro, quando o que está em jogo é a eleição de 230 deputados.

Contra a vontade da operação sondagens, uma operação que, para azia de alguns, falhou mais uma vez na Madeira. 

Por vontade do povo, a CDU cresceu, teve mais votos e mais percentagem.

Vamos crescer mesmo contra a vontade dos que estão apostados até ao limite em afirmar falsas saídas e apresentar a disputa eleitoral sob a máxima “tudo pela forma, nada pelo conteúdo”.

Mas é aí, no conteúdo, e em torno dos projectos de cada um que se trava o confronto.

Quais as políticas e a quem servem? 

É na resposta a esta pergunta que se encontram os caminhos.

E não percamos tempo com parangonas nem com proclamações vazias, usemos todo o tempo, isso sim, com respostas concretas às dificuldades dos trabalhadores e do povo.

Vamos afirmar o nosso projecto, os valores de Abril no futuro de Portugal, ligado aos problemas concretos e vamos crescer.

É este o confronto de todos os dias.

O confronto entre os que estão ao serviço dos grupos económicos e que lhes abrem a porta aos 25 milhões de euros de lucros por dia, e o aumento geral dos salários, essa emergência nacional para todos e em particular para os 3 milhões que ganham até mil euros por mês, uma justa e necessária exigência dos trabalhadores, um compromisso central do PCP e da CDU.

O confronto entre os 12 milhões de euros de lucros por dia da banca, suportados pelos seus defensores políticos e os milhões de pessoas cada dia mais apertados, para aguentar a sua habitação e o seu pequeno negócio ou empresa, que sabem que só podem contar com o PCP e a CDU.

O confronto entre a transferência de milhões de euros públicos para os grupos privados do negócio da doença, promovida e apoiada por todos quantos sustentam a política de direita e a alternativa de salvar o Serviço Nacional de Saúde, tal como é exigido pelos profissionais, pelos utentes, pelo PCP e a CDU.

O confronto entre os que nos trouxeram à situação em que 5% dos mais ricos concentram 42% da riqueza criada e a ruptura que o PCP e a CDU propõe, a única alternativa que dá resposta ao dia-a-dia da vida difícil dos dois milhões que estão na pobreza, incluindo centenas de milhar de crianças.

O confronto entre a chuva de promessas que já aí estão de todos os que são cúmplices do empobrecimento e a vida difícil dos reformados, em particular dos 72% com pensões abaixo dos 500 euros e que sabem que é no PCP e na CDU que podem confiar.

O confronto é e será entre as contas certas de uns poucos e a incerteza na vida de todos os dias de muitos.

É este o confronto, é esta a verdadeira bipolarização que está em jogo.

O confronto entre a política de direita independentemente dos seus protagonistas de turno, PS, PSD, CDS, Chega e IL e a alternativa patriótica, ao serviço que está do País e do seu desenvolvimento, a alternativa de esquerda, com os trabalhadores e o povo no centro da sua acção, a alternativa de Abril e dos direitos que a Constituição da República consagra.

É para este confronto que estão convocados todos os democratas e patriotas, os trabalhadores e o povo, todos os que cá vivem e trabalham, com a sua acção, a sua luta e também com o seu voto na CDU, exigirem o caminho da alternativa, o nosso caminho, o caminho de Abril.

E é por isso que querem que passemos a vida a falar da forma e não do conteúdo da política. 

Mas não contem com o PCP para essa manobra.

Não contem com o PCP para alimentar ilusões, as ilusões não pagam as contas e só servem para manter tudo tal como está.

O País não precisa de chuva de promessas, de proclamações, nem muito menos de gritarias ou demagogia.

O País precisa, isso sim, é de soluções e respostas aos problemas, precisa de esperança e de uma política que de uma vez por todas se coloque ao serviço de quem sempre deveria ter estado, ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País.

É hora de dizer basta de injustiças, é hora de mudar de política.

É hora de aumentar salários, questão central dos nossos dias.

E não venham com a conversa que não há dinheiro, a riqueza é criada, os lucros estão aí, os salários pesam 14% nos custos das empresas, há dinheiro, há riqueza criada, o que falta é distribuir melhor essa riqueza, é hora de aumentar salários, valorizar carreiras e profissões, é hora de respeitar os trabalhadores.

Ainda há dias, lá veio a Sra. Lagarde dizer que a culpa da inflação está nos salários.

Mas a senhora Lagarde e os seus comissários de Bruxelas do alto dos seus cadeirões e dos seus salários milionários já não enganam ninguém e já toda a gente percebeu que cada vez que abrem a boca, ou sai aumento dos juros ou mais medidas para proteger os lucros e a especulação.

É hora de aumentar as reformas e pensões.

Isto não vai lá com as promessas falhadas dos recordistas do corte de pensões e nem com os que estão apostados em manter, na prática cortes no poder de compra.

Isto vai lá é com aumento das pensões em 7,5% no mínimo 70 euros, agora, porque é agora que este aumento faz falta.

É hora de salvar o Serviço Nacional de Saúde das mãos do negócio da doença, e de responder às justas reivindicações dos médicos, enfermeiros, técnicos, de todos os profissionais e utentes.

É mesmo preciso salvar o Serviço Nacional de Saúde do desmantelamento que está em curso.

Na passada 3.ª feira o Ministro da Saúde, depois de 19 meses de enrolar as negociações com os médicos, por sua única opção política, desperdiçou uma oportunidade para, de facto, responder aos problemas dos médicos, mas o grande problema é que não falamos apenas, e que já não é pouco, dos problemas dos médicos, é o problema do SNS, é o problema dos utentes.

É hora de uma vez por todas assegurar o direito constitucional à habitação, garantir investimento público e regular o sector económico mais liberalizado da economia.

Não se aguenta mais a actual situação. 

De uma vez por todas é hora de pôr a banca a suportar os brutais aumentos das taxas de juro, é hora de travar a especulação e o aumento das rendas.

É hora de responder, olhando para o presente e para o futuro, aos direitos dos pais e das crianças.

É hora de reduzir o tempo de trabalho, o trabalho nocturno e por turnos, de travar a precariedade, de garantir a concretização da rede pública de creches. 

É hora de enfrentar o drama de milhares de crianças que vivem na pobreza.

É hora não de ficar à espera, mas sim de intensificar a luta dos trabalhadores e das populações.

Uma luta hoje para resolver os problemas de agora, uma luta que se trava hoje para influenciar as decisões de amanhã.

Uma saudação à CGTP-IN e ao movimento sindical unitário, uma saudação pela sua acção nas empresas e locais de trabalho, uma saudação especial pela resposta que deu ainda ontem, frente à Assembleia da República, na exigência do aumento dos salários e contra o aumento do custo de vida.

Que ninguém fique à espera, porque se a prestação e a renda da casa, o mês cada vez maior, o custo de vida, a falta de consultas e tratamentos, se nada disso fica à espera, a luta também não pode ficar nem vai ficar à espera.

Aí estão as eleições, aí está uma oportunidade para reforçar o PCP e a CDU.

O voto pode valer e fazer-se valer, se todos os que se sentem justamente injustiçados, todos os que enfrentam dificuldades, todos os que desacreditaram, todos os que, por esta ou aquela razão, deixaram de votar, o voto de todos e de cada um, pode valer ainda mais se for entregue à CDU, o voto do trabalho, o voto do protesto e da indignação, o voto da construção e das soluções, o voto na esperança.

O voto do trabalhador vale tanto como o dos donos da GALP, Pingo Doce, CTT, mas pode valer ainda mais se não for colocado no mesmo saco dos que se acham os donos disto tudo.

O voto de cada um de nós vale tanto como o do accionista da banca, mas valerá muito mais se não servir para eleger deputados que mais não são que emissários dos milhões de lucros da banca à custa dos trabalhadores e do povo.

O voto de cada utente vale tanto como o do dono de qualquer grupo privado do negócio da doença, mas valerá ainda mais se não for parar ao bolso dos partidos que querem e estão, na prática, a desmantelar o SNS.

O voto dos reformados e pensionistas, pode valer ainda mais se for colocado ao serviço do seu direito a envelhecer com qualidade e dignidade, se for colocado ao serviço das suas justas pensões e reformas, do indispensável acesso a cuidados de saúde e a equipamentos dignos.

O voto dos micro, pequenos e médios empresários vale tanto como o dos grandes grupos económicos mas valerá mais se não for colocado nas mãos desses autênticos tubarões sempre prontos a engolir os mais pequenos.

O voto de cada jovem vale tanto como o de outro qualquer, mas valerá ainda mais se for um voto na esperança, de combate à precariedade e aos baixos salários, pelo acesso e frequência no ensino, pela defesa do ambiente e do equilíbrio ecológico, um voto nos que, tal como o PCP e a CDU defendem, consideram que o País não pode perder gerações e gerações a emigrar quando precisamos deles cá, precisamos do seu conhecimento, da sua força, da sua juventude. 

Portugal tem futuro. Há forças, há meios, há recursos e há gente séria e honesta, gente séria e honesta, com vontade e capacidade de pôr o País e a vida de cada um a andar para a frente. 

Um caminho para uma vida melhor pela qual lutamos, uma vida melhor para os trabalhadores e para os povos do mundo, uma vida melhor que queremos para o povo Palestiniano. 

Aqui estamos, por essa Palestina que vencerá, por essa Palestina que queremos livre e independente.

Uma Palestina reconhecida,  tal propusemos em 2011 e voltámos ontem mesmo a propor na Assembleia da República, recomendando mais uma vez que o Governo Português, reconheça o Estado da Palestina, nas fronteiras anteriores a 1967 e com capital em Jerusalém Oriental, conforme determinado pelas resoluções das Nações Unidas.

Aqui estamos nesta luta pela paz, como estão milhões e milhões por todo o mundo incluindo em Israel.

Cá estamos, a construir e afirmar o PCP como a força indispensável e insubstituível na luta por um Portugal com futuro.

É assim que somos, é assim que estamos e vamos continuar a responder aos desafios que aí estão e às muitas tarefas que temos pela frente.

Aqui há determinação, aqui há empenho e militância, há projecto, há força, há sonho e há razão.

Peguemos nisso tudo e vamos com confiança fazer uma grande acção de contacto e de mobilização. 

Uma grande acção de contacto que valerá mais pelas conversas e esclarecimento que fizermos do que pelo número de documentos que vamos distribuir, uma acção onde cada um de nós é, e tem de ser, um militante do esclarecimento e da mobilização que se impõe.

Vamos para a rua, para as empresas, vamos ouvir e esclarecer, vamos propor e contrapor e será aí, nesse contacto, nessa acção que vamos dar esperança, força e confiança.

Quem luta pela Paz, quem luta pela elevação das condições de vida dos trabalhadores e do povo, só pode estar com confiança, só pode estar de cara levantada.

A batalha eleitoral é uma oportunidade para a mudança de política que o País precisa.

Essa mudança que nos 50 anos do 25 de Abril se impõe, concretizando todos os dias as suas conquistas e projectando os seus valores, os valores de Abril no futuro de Portugal.

Vamos para a frente com confiança, com determinação e com alegria.

Viva a CDU! 
Viva a JCP!
Viva o PCP!