Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, no funeral de Sofia Ferreira

Funeral de Sofia Ferreira

Funeral de Sofia Ferreira

Camaradas e Amigos:

A camarada Sofia Ferreira deixou-nos, porque a morte a obrigou.
Mas a sua vida, a sua militância revolucionária, o seu exemplo levam a esta sentida homenagem curvando-lhe a nossa bandeira.

Sofia Ferreira nascida em Alhandra, terra de inspiração de Soeiro Pereira Gomes bem podia, em criança, ser uma daquelas personagens dos seus livros que fala das crianças que não tiveram tempo de ser meninos.
Levada cedo para Lisboa nunca perdeu o contacto com a sua família em particular com as suas irmãs Mercedes e Georgette Ferreira então integradas na organização do Partido em Vila Franca de Xira, hoje aqui presentes e a quem queremos dar um abraço fraternal.

Aderindo ao Partido em 1945, um ano depois com 24 anos, passou á clandestinidade, exercendo tarefas numa tipografia clandestina onde imprimia “O Militante” e outras obras do Partido.
Em 1948 assume novas responsabilidades junto do Secretariado do Comité Central.
Numa casa clandestina no LUSO é presa pela primeira vez em 1949 conjuntamente com Álvaro Cunhal e Militão Ribeiro. Apesar dos espancamentos, insultos e um prolongado isolamento durante 6 meses comporta-se com grande coragem perante a polícia tendo sido condenada já em Maio de 1950 a 3 anos de prisão. Após ter sido libertada em Maio de 1953 não tardou a regressar à luta da clandestinidade, desempenhando tarefas de apoio e protecção das casas clandestinas para 2 anos depois integrar a organização local do Porto contactando  e organizando trabalhadores.
Eleita para o Comité Central no V Congresso, integra a Organização do Comité Local de Lisboa com uma maior responsabilidade por células do Partido e sectores profissionais e com ligação a camaradas que participavam em movimentos unitários.

É novamente presa pela PIDE, julgada e condenada em tribunal plenário e condenada a 5  anos e seis meses de prisão mais 3 anos de medidas de segurança.
Esteve presa nove anos e mais três meses em Caxias passando assim 13 anos da sua vida nas masmorras fascistas.
Mas voltou sempre ao combate. Passados poucos meses volta à clandestinidade onde se manteve até Abril de 1974.
Com a vitória da revolução assume um destacado papel na luta pela libertação imediata de todos os presos políticos, pela extinção da PIDE e do aparelho repressivo do fascismo, pela liberdade dos partidos, movimentos e associações democráticos.
Incansável, assume posteriormente responsabilidades de Direcção nas organizações regionais de Setúbal e da Beira Litoral.
Cessando  a sua responsabilidade de membro do Comité Central em 1988, até ao limite da sua vida continuou a trabalhar em tarefas centrais  do partido.

Num tempo em que se procura branquear o odioso regime fascista, em que alguns procuram reescrever a história e usurpar a memória, Sofia Ferreira foi um exemplo da acção, da luta dos comunistas e do seu Partido antes e depois do 25 de Abril.
Num tempo de agravamento dos problemas  dos trabalhadores, do povo e do país, duma ofensiva tremenda em que o capitalismo quer aproveitar a sua própria crise para aumentar a exploração e recuperar as parcelas do domínio perdido conquistadas pela luta dos trabalhadores e dos povos, num quadro de uma intensa luta ideológica em que as forças da ideologia dominante pressionam para a aceitação das inevitabilidades, do conformismo, da resignação, da inutilidade da luta, a camarada Sofia Ferreira é um exemplo de que vale a pena lutar, lutar sempre como fizemos no passado, como fazemos agora, como faremos sempre neste Partido, com este Partido.

A camarada Sofia Ferreira morreu! Mas ela terá o retrato e o seu legado no património da nossa memória colectiva ao lado de muitos milhares  comunistas, nessa memória viva que nos anima na militância e na luta de todos os dias nesta caminhada da íngreme mas exaltante que até onde a vista alcança tem na linha do horizonte a construção do socialismo e do comunismo.