Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral

Funeral de José Casanova

Aqui estamos para prestar a justa e devida homenagem ao José Casanova. Para a Cândida, para os filhos Catarina e Miguel, a mais sentida palavra de pesar ainda que sabendo que palavras não há para preencher o vazio que o José Casanova lhes deixa, mas também a este imenso colectivo de camaradas e amigos que habituou à sua inesquecível presença.

Aqui viemos hoje, não para nos despedirmos de um camarada, mas para afirmar que embora partindo do convívio com os seus camaradas, os seus amigos e em particular com a sua família, o José Casanova estará presente em todos e em cada um dos muitos momentos que nos reunirão para continuar os combates e a luta que ele sempre abraçou. Deixou de estar entre nós um homem bom, um amigo solidário, um combatente antifascista e construtor de Abril, um Comunista. Mas o seu percurso de vida, de militante e dirigente do PCP perdurará em todos e em cada um de nós para prosseguirmos a luta de emancipação social que o animou.

Natural de uma terra de lutadores que inscreveram o Couço num dos mais emblemáticos locais de resistência contra a opressão e a iniquidade do regime fascista, Casanova que bem cedo aderiu ao PCP tem o seu percurso de vida ligado à luta pela liberdade e a democracia. Com 19 anos iniciou a sua participação na União da Juventude Portuguesa tendo integrado a sua Direcção.

Assumiu como jovem comunista, nas candidaturas de Arlindo Vicente e Humberto Delgado, papel destacado tendo desempenhado diversas tarefas partidárias no País nas décadas de 50 e 60 do Século passado. Preso pela PIDE em 1960, julgado e condenado a dois anos de prisão, Casanova permaneceu cerca de seis anos detido tendo passado pelas cadeias do Porto, Caxias e Peniche. Exilado na Bélgica no início da década de 70 aí prosseguiu a actividade partidária tendo sido presidente da Associação dos Portugueses Emigrados na Bélgica e mantendo contactos com os movimentos de libertação das ex-colónias.

Com o 25 de Abril José Casanova regressa a Portugal para prosseguir no nosso País a luta. Membro do Comité Central desde 1976 e da Comissão Política de 1979 a 2008, José Casanova foi, entre outras tarefas, responsável pelas Organizações Regionais de Lisboa (entre 1989 e 1996), de Santarém (em 1997 e 1998) tendo ainda, no início dos anos 2000 tido a responsabilidade pelo acompanhamento das regiões autónomas dos Açores e da Madeira. José Casanova foi director do «Avante!», órgão central do PCP entre 1997 e Fevereiro deste ano. Era actualmente responsável pela Comissão Nacional de Cultura.

Participante activo no exaltante processo de transformação social que a Revolução de Abril constituiu, José Casanova esteve associado às muitas batalhas, tarefas e luta que, primeiro no processo revolucionário, depois na resistência ao processo contra-revolucionário, mobilizaram o Partido, os trabalhadores e os democratas. Participante desde a primeira hora na Comissão Promotora das Comemorações Populares do 25 de Abril ainda na década de 70, Casanova integrou a Comissão Coordenadora da FEPU e da APU tendo desenvolvido um importante papel no trabalho unitário e de convergência com muitos outros democratas.

Homem de imensa cultura, aquela cultura que se ergue de uma vivência inseparável do pulsar do que de mais genuíno brota da incomparável sabedoria dos trabalhadores e do povo de onde vinha, José Casanova deixa-nos também a sua produção no campo literário com os romances “Aquela Noite de Natal”, “O Caminho das Aves” e “O Tempo das Giestas”, bem como outras obras, nomeadamente o livro sobre Catarina Eufémia, recentemente editado.

José Casanova honrou, pelo seu exemplo e dedicação, pelo seu espírito de militância e capacidade política, pela sua intervenção e entrega à luta, as melhores tradições da classe operária, dos trabalhadores e do povo português.

Uma opção que nestes tempos difíceis em que querem impor um futuro de declínio e retrocesso social ao País e a Portugal ganha redobrada importância.

Hoje, como em poucos outros momentos, a luta em que com o Casanova participámos em defesa dos valores de Abril, pela ruptura com a política de direita pela construção de uma alternativa e uma política patrióticas e de esquerda assume particular e decisiva importância.

Uma luta para afirmar direitos que com Abril conquistámos, para dar combate à exploração capitalista que lança para o empobrecimento e para a emigração centenas de milhares de portugueses, para devolver aos jovens o direito de poder ter futuro no seu País, para libertar Portugal da submissão e da dependência.

Essa luta sem tréguas que continuamos a travar para abrir caminho a um Portugal com futuro, para combater falsas alternativas, para ampliar a consciê ncia sobre os reais problemas e responsáveis pela situação a que o País foi conduzido, para alargar a convergência dos democratas e patriotas na afirmação de um Portugal desenvolvido e soberano, tendo o socialismo no horizonte. Muitos, entre outros objectivos de luta, que com o Casanova partilhámos e que saberemos estar a altura de lhe poder dizer, num futuro mais ou menos próximo, “conseguimos Zé”!

Aqui estamos, não para lhe dizer Adeus, mas até sempre, neste reencontro de todos os dias na luta que nos unirá. Com a profunda convicção de que a sua morte não apagará um percurso de vida marcada pela inteira dedicação à luta pela Liberdade, a Democracia, o Socialismo e o Comunismo.
Homens e comunistas assim não morrem.

O José Casanova sabia que o seu Partido de sempre, o seu projecto, o seu ideal, iria prosseguir para além das nossas vidas!

Perduram em cada um de nós neste combate que nos une, na luta que continua.

Até sempre, camarada José!