Pergunta ao Governo N.º 622/XII/1

O estado da Casa Grande de Romarigães

O estado da Casa Grande de Romarigães

«Os corvos, que naquela manhã cortavam de estafeta da serra da Arga para a Labruja e viram aquela lidairada na veiga de Romarigães, crocitaram:
— Teremos outra vez guerra?!
Na mata, os picanços e rincha-cavalinhos despediram para outras paragens. Calaram-se as rolas nas corutas dos pinheiros e as poupas ficaram de sobreaviso, pentes ao alto como sevilhanas em praça de toiros. Arredaram os pastores com os gados dali para longe, perplexos: — Então havemos de ir embora? Para sempre? — Sim senhor, para sempre, esta terra agora é do Licenciado Rev. Gonçalo da Cunha!
De facto, uma turma de homens, munidos de alavancas, pás e picaretas. rompia uma pedreira nos flancos do monte. Outra tratava a sul de abrir os caboucos do muro que havia de cingir a fazenda adquirida no couto do visconde de Vila Nova de Cerveira.
Práticos em castrametação agrícola riscaram a linha circundante, bem como estabeleceram a melhor área para o solar, quartéis de servos e estábulos. A tudo presidia o novo proprietário, febril, activo, previdente, não olhando a despesas, tanto mais que acabava de receber em termos de Insalde a herança choruda duma tia, que se dignara fazê-lo legatário universal e entrar no paraíso, lugar para onde não deixa de ir quem dá ao seu semelhante um alegrão destes.»
(A Casa Grande de Romarigães — Crónica romanceada)
Começa por ser estranho que, no entroncamento da EN 201 que dá acesso a Romarigães, não haja uma placa/painel a informar o transeunte que ali próximo está a Casa Grande de Romarigães, que mestre Aquilino Ribeiro imortalizou como título de um dos seus mais notáveis romances da sua extensa e riquíssima bibliografia.
Mas, mais estranho e lamentável é que a Casa Grande de Romarigães permaneça, o que acontece há décadas, num incompreensível estado de degradação, para lá de outros sinais (alumínio na caixilharia das janelas) de injustificável desprezo público por um património de elevado valor simbólico.
Nenhuma outra terra, deste nosso País, se pode orgulhar de ter o seu nome num livro daquele que é dos seus maiores escritores.
Lá estão na parede fronteira da Casa, placas a dizer a quem passa na estrada, que não é por ignorância que o problema se arrasta, sem solução, há anos — Câmara Municipal de Paredes de Coura/1985; visita de alunos da Escola Martins Sarmento, de Guimarães/1985 e Presidência Aberta de Mário Soares, em 1992!
Ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, solicitamos ao Governo que, por intermédio do Secretário de Estado da Cultura nos sejam prestados os seguintes esclarecimentos:
1. Que explicações/justificações existem para a situação e estado da Casa Grande de Romarigães?
2. Há algum projecto/ideia/perspectiva da Secretaria de Estado/ex-Ministério da Cultura para a sua recuperação e lançamento de Centro de Interpretação sobre a obra de Aquilino Ribeiro e o Minho?
3. Que verbas podem ser disponibilizadas para que haja iniciativa municipal (ou de outra entidade) para remediar, tão prontamente quanto possível, o que é um manifesto e inaceitável comportamento dos poderes públicos para com o importante património material e simbólico que a Casa Grande de Romarigães representa?

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