Pergunta ao Governo N.º 47/XII/2

Desproteção das vitimas de violência doméstica

Desproteção das vitimas de violência doméstica

De acordo com notícias recentemente publicadas, apenas um terço do total de casos de violência doméstica chega às autoridades policiais e poucos serão os agressores condenados.
Importa pois perceber por que é que tantas vítimas não apresentam queixa, ou, apresentando, o resultado muitas vezes é de total desproteção e mesmo de reincidência de vitimização com o crime de violência contra elas é reiterado.
De acordo com a Comissão para Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) existem estudos europeus que confirmam que "apenas um terço da criminalidade deste tipo é participada às polícias". A mesma fonte afirma que do universo total “da criminalidade realmente ocorrida, estima-se que apenas um terço chegue às polícias, depois, de todo o processo de investigação, transitar para o Ministério Público”.
A CIG afirma que dados de Julho de 2012 existem 70 pessoas em prisão preventiva a aguardar julgamento e 192 condenadas, num total de 262 a cumprir pena de prisão.
O PCP desde sempre tem vindo a questionar e a pôr em causa a interligação do sistema de proteção das vítimas.
A rede de casas abrigo, mesmo de acordo com o Relatório da Unidade de Missão constituído em 2006 para a sua avaliação, afirma perentoriamente que esta se encontra desproporcionada e geograficamente ineficaz. Entretanto, o PCP reconhece os esforços da CIG, nomeadamente no reforço dos núcleos de atendimento em vários distritos, mas a verdade é que o sistema continua a não funcionar.
São colocadas vítimas de tráfico em casas abrigo de violência doméstica, mulheres com filhos em locais que não estão preparados para receber crianças e as notícias, veiculam, frequentemente, casos de várias denúncias, em que a vítima fica completamente desprotegida, essencialmente por falta de meios económicos que lhe permitam a sua emancipação e a tomada de procedimentos que a protejam efetivamente.
Isto é, a atribuição do RSI não é uma medida eficaz, o pagamento de taxa moderadora sem apresentação da declaração de vítima afasta-a do recurso ao SNS, a Comissão de Proteção de Vítimas de Crimes Violentos continua sem adiantar a indemnização devida, a sensação de desproteção policial e jurídica é imensa e, na maioria dos casos, dadas as regras do apoio judiciário, a vítima raramente pode recorrer a tribunal.
Acresce que, todo o programa de prevenção, nomeadamente a reinserção social, apenas se foca no agressor, muitas vezes garantindo apoio psíquico gratuito, sem fazer o mesmo com as vítimas e com o agregado familiar.
Entendemos fundamental analisar e intervir sobre as falhas a nível de órgãos de polícia criminal, Ministério Público, tribunais, Segurança Social, Serviço Nacional de Saúde, Comissão de Apoio à Vítima e Crimes Violentos, a própria CIG que levam a que as vítimas se sintam desprotegidas
a todos os níveis por não existirem soluções eficazes, rápidas e eficientes na proteção das vítimas e das suas famílias, nem da condenação ou prevenção.
Esta situação, de recorrentes notícias de assassinatos, agressões e impunidade não pode continuar a ser manchete de jornais, nem, muito menos, ser objeto de declarações políticas vazias.
Face ao exposto, e ao abrigo das disposições regimentais e constitucionais aplicáveis, solicitase ao Governo que, por intermédio da Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, responda às seguintes perguntas:
1 – Que medidas estão atualmente a ser tomadas para reforço da rede de casas abrigo, nomeadamente quanto à dotação de condições e criação de novas casas abrigo do interior?
2 – Por que motivo não avança a Sra. Secretária de Estado com um regime de presunção de insuficiência económica para garantir o recurso aos tribunais, bem como a isenção de taxa moderadora, permitindo a apresentação posterior do Estatuto de Vítima?
3 – Que análise faz o Governo, numa perspetiva interministerial, das causas que levam à pouca apresentação de queixa face aos crimes verificados e ao facto da grande maioria nunca chegar a julgamento?
4 – Que medidas pretende tomar face à reiterada afirmação das vítimas de sentimento de falta de meios de proteção por parte do Estado e das estruturas envolvidas?

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