Declaração de Jerónimo de Sousa sobre a Greve Geral

 

A Greve Geral de hoje convocada pela CGTP-IN que se traduziu na maior
jornada de luta que este Governo já enfrentou, constitui uma importante
expressão das razões profundas de descontentamento e protesto popular e
uma clara afirmação de exigência de mudança.

Há causas fundas e sentidas que exigiram o recurso a esta forma luta!

A situação do país chegou a um ponto insustentável para os
trabalhadores e a generalidade da população. Cerca de meio milhão de
portugueses estão no desemprego, a maior taxa dos últimos 20 anos. A
precariedade afecta mais de 1,2 milhões de trabalhadores, constitui um
factor de instabilidade nos vínculos de trabalho e na vida.

A alteração das funções e do papel do Estado, com a extinção e
privatização de serviços públicos põe em causa o Serviço Nacional de
Saúde, e ataca os mais elementares direitos dos trabalhadores da
Administração Pública e das populações.

Em nome da flexigurança, o Governo prepara-se para facilitar os
despedimentos individuais sem justa causa, instituir o chamado
despedimento na hora e desregular horários, carreiras, funções,
remunerações e condições de trabalho.

Agravam-se as injustiças e desigualdades sociais, o poder de compra da
população degrada-se, começou a desvalorização das pensões e reformas,
aumenta a pobreza e o endividamento das famílias, em contraste com os
maiores lucros de sempre dos grupos económicos e financeiros. Apenas
oito empresas tiveram em 2006, 5,3 mil milhões de euros de lucro e
alguns dos gestores de empresas privadas ganham 130 vezes mais que um
trabalhador com o salário mínimo nacional.

São razões muito fortes que justificam a Greve Geral e a grande adesão dos trabalhadores.

A Greve Geral de 30 de Maio é uma grande Greve com uma forte adesão em todo o país e em todos os sectores de actividade.

Destaca-se a grande dimensão assumida no sector dos transportes – com
paralisações totais ou quase totais no Metropolitano de Lisboa, na
Transtejo, na Soflusa, nos TSTs, nos Transportes Urbanos das Cidades de
Braga, Guimarães, Aveiro, Coimbra, Viseu, Barreiro, na Rodoviária Entre
Douro e Minho, na Rodovíária da Beira Litoral, na Moisés Correia de
Oliveira, na Empresa de Viação do Algarve, e em outras empresas do
sector rodoviário, significativas adesões em várias linhas da CP e a
expressão atingida em vários Portos Marítimos (designadamente o seu
encerramento no Algarve e nos Açores), e nos transportes aéreos com a
não efectuação de 63 voos no Aeroporto de Lisboa, 18 no Aeroporto de
Faro e a paralisação da SATA nos Açores.

Salienta-se entre muitas outras as adesões de importantes empresas
industriais como os Estaleiros de Viana do Castelo, a Lisnave (com a
paralisação dos trabalhadores precários e de centenas de imigrantes), o
Arsenal do Alfeite, a Portucel (com a paralisação dos empreiteiros), a
Portcast, a Lear, a Blaukpunt, a Robert Bosh, a Qimonda, a Centralcer,
a Unicer, a Coca-Cola, a Danone, a Saint Goban, a Tudor, a Cimianto, a
Browning, a Autoeuropa (com paralisação de uma das duas linhas de
produção), a Rodhe, a Corticeira Amorim, a Amorim Revestimentos.

Revela-se uma grande adesão na Administração Pública (envolvendo
Tribunais, Conservatórias, Repartições de Finanças, Lojas do Cidadão,
Serviços de Segurança Social, etc.); do sector da saúde, com
paralisação de Centros de Saúde e dos principais hospitais na ordem dos
70 a 90%; do ensino com o encerramento de centenas de escolas; na
Administração Local com paralisações em todas as áreas com destaque
para a recolha do lixo que numa grande parte dos municípios do país
atingiu 80 a 100%. Verifica-se uma forte adesão dos trabalhadores dos
Correios da ordem dos 75 a 80% e em muitos outros sectores num processo
cujo apuramento ainda decorre.

Salientam-se os muitos milhares de trabalhadores com vínculos precários
que fizeram greve. São actos de grande coragem e consciência!

Há sectores que até hoje nunca tinham aderido a nenhuma Greve Geral e
nos quais pela primeira vez se verificaram adesões, em vários casos
significativas. Foi o que se passou com call-centers  nas
telecomunicações.

A participação dos jovens trabalhadores, particularmente atingidos pela
precariedade e baixos salários é outro dado desta Greve Geral.

Participação tão mais significativa quanto a Greve Geral se realizou
numa situação de ofensiva geral do governo contra o direito à greve,
com muitos patrões a usarem formas de chantagem e repressão duras e
sofisticadas. Na administração pública e no sector de transportes o
Governo deu o pior exemplo na tentativa de pôr em causa o direito à
greve. Multiplicaram-se por centenas de empresas as ameaças e medidas
ilegais de retirada de prémios, sobre os postos de trabalho.

A decisão tomada por tantos trabalhadores portugueses – que
confrontados com dificuldades financeiras e elevados níveis de
endividamento, e para quem um dia de salário faz diferença - de
aderirem, assume nesta situação um particular significado.

A Greve Geral de 30 de Maio é aquela que mais apoio social colheu até
hoje. As suas razões foram compreendidas e apoiadas por uma grande
parte do povo português que das mais diversas formas o manifestou.

O processo de preparação constituiu por si um dos mais importantes
movimentos de esclarecimento, participação e mobilização desde há
muitos anos. A adesão de 140 estruturas sindicais, dezenas de milhar de
activistas envolvidos, mais de sete mil plenários realizados, dezenas
de milhares de acções de esclarecimento levadas a cabo revelam uma
impressionante força de intervenção social de massas que se projecta
muito para além da própria Greve Geral.

Bem pode o Governo (aliás com pouca criatividade relativamente a
governos anteriores que fizeram e disseram o mesmo) vir tentar diminuir
a greve, dizendo que se trata de uma greve parcial, e lançar a imagem
virtual que só ele vê, como se uma Greve Geral, aqui ou em qualquer
parte do mundo, tivesse que ser total.

E que para além das milhares de empresas com elevadas adesões em que os
efeitos da greve não são visíveis para a generalidade das pessoas, a
adesão nos sectores de transportes e os seus efeitos em Lisboa e
dezenas de cidades por todo o país, bem como sectores da Administração
Pública entre outros, desmentem-no inapelavelmente. Viciado nas
estatísticas criativas, o Governo quer esconder que este foi o maior
protesto e a maior luta com que foi confrontado nestes mais de 2 anos
de mandato.

O PCP saúda os trabalhadores portugueses pela sua grande adesão á Greve Geral.

O PCP saúda os trabalhadores dos transportes, pela grande amplitude da
paralisação escolhidos como alvo privilegiado da acção do Governo para
lhe retirar o direito á greve consagrado na Constituição da República
Portuguesa como direito inalienável, pela adesão verificada e em
particular aqueles que mesmo nas condições da imposição arbitrária de
serviços mínimos resistiram, fazendo desta Greve Geral a primeira etapa
de uma nova fase de luta pelo respeito do direito à greve no sector de
transportes.

O PCP saúda os milhares de trabalhadores com vínculos precários que
dando prova de uma elevada consciência de classe aderiram à Greve
Geral.

O PCP saúda a CGTP-IN, o movimento sindical unitário e todas as
estruturas representativas dos trabalhadores pela sua acção e
capacidade de organização demonstradas.

A CGTP-IN confirma-se e afirma-se como a grande central sindical dos
trabalhadores portugueses, referência incontornável para a defesa dos
interesses dos trabalhadores e para o futuro do país.

Depois da Greve Geral de 30 de Maio nada ficará como dantes
relativamente ao Governo, à sua arrogância e ao seu desprezo pelas
condições de vida de quem trabalha.

Os trabalhadores portugueses fizeram ouvir a sua voz com um grande
vigor: Disseram ao Governo que a situação de milhões de portugueses é
insustentável; Demonstraram ao Governo que os trabalhadores e o povo
português existem, e que este não pode confundir Portugal com os grupos
económicos e financeiros e os seus interesses insaciáveis e
privilégios; Mostraram-se também como força capaz de combater, de
resistir e impor uma mudança de rumo da política nacional.

A Greve de hoje constitui um poderoso aviso ao Governo. Não foi um ponto de chegada mas um ponto de passagem para outras lutas!

Depois da Greve Geral de 30 de Maio, se o Governo persistir em não
ouvir o sentimento dos trabalhadores e do povo, se tentar avançar com o
propósito da facilitação dos despedimentos individuais sem justa causa,
com o despedimento na hora, fica a saber que há força capaz de o
impedir.

Diferenciando-se de outras forças políticas, o PCP foi solidário e
interventivo na Greve Geral, porque ela comporta a luta pelos direitos,
interesses e aspirações de quem trabalha, por um país mais justo e mais
democrático.

Renovámos assim o compromisso de sempre com os trabalhadores e o povo português!

  • Trabalhadores
  • Central