Debate sobre «O País e a crise»

O debate que aqui realizámos hoje reflecte a oportunidade da discussão sobre a dramática situação económica e social em que o país se encontra e a necessidade de encontrar respostas que rompam com o ciclo de mais de 33 anos de políticas de direita que conduziram o país ao declínio nacional, ao definhamento e recessão económica, à dependência externa, às desigualdades e injustiças sociais, enfim, que conduziram o país à crise.

Não tiramos conclusões mas ensinamentos. Ouvimos e aprendemos com contribuições de grande valor, que enriquecem a nossa análise e confirmam um Partido atento ao pulsar da vida, um Partido que, não prescindindo de uma intervenção imediata e quotidiana, tem no horizonte a construção de um país mais justo, um Portugal com futuro.

Um debate que teve pronúncia do norte, que é como quem diz, a marca de uma região que tem sido atingida inapelvelmente pela brutalidade da política de direita e que se expressa em mais de 12% de desemprego, no alastramento da precariedade, no aumento da pobreza e no ressurgimento da emigração que, nos últimos meses, viu de forma acelerada o agravamento da destruição do seu aparelho produtivo, com o encerramento de dezenas de empresas, com a aplicação do lay-off, ou mesmo o pedido de insolvência da multinacional Qimonda.

Ficou também provado que este Governo, depois de meses a negar a crise, depois de juras e promessas do país no bom caminho e imune às maleitas da situação internacional, apresenta-se agora como se não fosse sua a responsabilidade pelo rápido agravamento da situação económica e social em que o país está mergulhado. E pior do que isso, insiste nas mesmas políticas e no mesmo rumo que conduziram à actual situação.

Uma política e um Governo profundamente vinculado aos interesses dos grandes grupos económicos e do capital financeiro e que, continuando a impor pesados sacrifícios aos trabalhadores e às populações, olha e actua sobre o agravamento dos problemas sociais, não com a preocupação de os combater ou resolver, mas com o estrito interesse de impedir a sua penalização nas próximas eleições. Deu-lhe algum rebate de consciência? Não! Tocou a rebate por causa das eleições.

Tal como sublinhou o nosso Comité Central em Outubro de 2008, “o mundo está confrontado com uma das mais graves crises do sistema capitalista, porventura a maior desde a "Grande Depressão" de 1929 que, pela sua profundidade, extensão e dimensão poderá trazer graves consequências para os trabalhadores e para os povos de todo o mundo”. A vida veio dar-nos razão.

O anúncio feito ontem a partir da reunião do G20 – medidas conjunturais para uma crise estrutural mesmo se necessário para deixar tudo na mesma -, confirmou que tudo está a ser feito para não questionar, nem pôr em causa o sistema político e económico que está na origem da exploração, da opressão, da miséria, para onde são empurrados milhões de seres humanos. Não tínhamos grandes expectativas sobre esta reunião, mas o que as suas conclusões vieram demonstrar foi a manutenção do actual sistema financeiro e refúgios off-shores. Não podia cortar as artérias onde circula, se lava e esconde o dinheiro sujo ou especulativo. Foi o reforço do FMI, foi o avanço para a liberalização do comércio, desta vez e sem surpresa, embrulhadas em preocupações de natureza social. Os trabalhadores e os Povos não têm razões para festejar estas medidas, têm sim razões para reforçar a sua luta por uma outra política, por mais direitos, mais salários, mais soberania, mais justiça.

Olhando o mundo, há perigos e potencialidades. Perante as desigualdades e injustiças, perante a arrogância e a prepotência, perante a ilusão de soluções que não põem em causa a política de direita é cada vez mais larga a compreensão de que não há saída para o actual quadro político, económico e social sem uma ruptura com a política de direita e uma mudança de rumo na vida nacional. Que é preciso dizer basta! Daí a importância da luta e da Marcha de 23 de Maio.

Uma ruptura e uma mudança que, não se fica por meros paliativos despejados sobre a crise do país, mas que coloca no centro da intervenção política a elevação das condições de vida dos trabalhadores, o emprego com direitos e o combate à precariedade, o aumento dos salários e pensões e o estímulo ao mercado interno, investimento público – escolas, hospitais, equipamentos sociais – e o reforço das prestações sociais e dos serviços públicos, a defesa da produção e da soberania nacional, um outro papel do Estado na economia, nomeadamente nos sectores estratégicos colocando-os ao serviço do Povo e do país, como, aliás, propusemos recentemente para a banca e seguros com a sua nacionalização definitiva.

Uma ruptura e uma mudança, que retome os objectivos libertadores e as conquistas da revolução de Abril vertidos na Constituição da República, que rompa com a subordinação do poder político ao poder económico e construa um tempo novo, de progresso social, de justiça, democracia e liberdade. 

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