Intervenção de António Filipe na Assembleia de República

Debate da interpelação centrada nas consequências do pacto de agressão na vida dos portugueses — a grave crise económica em que se traduz a aplicação do «memorando de entendimento

(interpelação n.º 3/XII/1.ª)
Sr. Presidente,
Sr. Deputado Pedro Pinto,
Disse, na intervenção, que o diagnóstico feito pelo PCP sobre a situação de crise, no essencial, era correto, mas que não sabia qual era a receita do PCP.
Mas nós sabemos qual é a vossa! E sabemos que tem sido a vossa receita que conduziu o País à situação em que está!
Sabemos isso muito bem!
O Sr. Deputado Pedro Pinto não pode convencer ninguém que o PSD não tem pesadíssimas responsabilidades na situação a que o País chegou.
O PSD não esteve 10 anos no governo, os governos liderados pelo Professor Cavaco Silva, com maiorias absolutas, nesta Câmara?! O PSD não apoiou, no essencial, aquelas que eram as orientações de política económica dos governos do Partido Socialista?!
O PSD não concordou, quando o Partido Socialista assinou aquilo que os senhores hoje chamam o «acordo com a troica»?! Os senhores não concordaram com ele quanto ao seu conteúdo?! Concordaram!
Qual foi a vossa crítica? Foi a que o senhor aqui repetiu: foi tardio! Devia ter sido antes! E até nos lembramos daquela célebre entrevista do Dr. Pedro Passos Coelho, ao Financial Times, dizendo que aquelas medidas eram insuficientes. Na altura, veio cá dizer que não foi bem isso que tinha dito, mas, agora, sabemos que foi isso, evidentemente, e era isso que queria dizer.
Portanto, a situação que vivemos hoje, o diagnóstico que fazemos, de mais desemprego, mais recessão, mais pobreza, mais miséria, resulta da aplicação da vossa receita.
Mas, Sr. Deputado, também depara com mais descontentamento por parte do nosso povo, com mais resistência e com mais luta — disto, os senhores podem estar certos!
Os senhores dizem que, com as medidas que o Governo está a tomar, vamos no bom caminho. Há, de facto, quem esteja contente, Sr. Deputado Pedro Pinto! Olhe, os bancos estão contentíssimos, e têm razões para isso! O BPN, que já levou 8000 milhões de euros de dinheiro dos contribuintes portugueses, estará satisfeitíssimo! Os bancos, que executam os salários e o património das famílias endividadas, as famílias que eles levaram ao endividamento com campanhas de marketing enganoso, estarão satisfeitos! Os bancos, que se financiam a 1% de juros no Banco Central Europeu e compram títulos de dívida pública a juros usurários, estarão satisfeitos! Os bancos, que beneficiam dos 12 000 milhões de euros da troica, que não concedem crédito à economia e asfixiam as empresas, estarão satisfeitíssimos, Sr. Deputado!
Os beneficiários das parcerias público-privadas estão contentíssimos!
Como estava a dizer, os beneficiários das parcerias público-privadas estão contentíssimos, porque este ano vão receber 1000 milhões de euros do Estado e os portugueses vão pagar mais pela saúde, vão pagar mais com portagens, que não deviam pagar.
Os consórcios que venderam submarinos, aviões e blindados às Forças Armadas Portuguesas, no valor de milhares de milhões de euros, estão satisfeitíssimos, porque prometeram contrapartidas de mais de 13 000 milhões de euros, não respeitaram essas contrapartidas e têm um Governo que não faz nada para recuperar os mais de 2000 milhões de euros que ficaram por cumprir!
As empresas do setor energético estão contentíssimas! A GALP lucrou 400 milhões de euros; a EDP tem lucrado mais de 1000 milhões de euros por ano, nos últimos cinco anos! Estão contentíssimos, Sr. Deputado!

Vou concluir, Sr. Presidente, porque, de facto, os juros da troica, os 35 000 milhões de euros de juros são pagos pelos portugueses com privações, com pobreza, com miséria, não são pagos pelos grupos financeiros, porque eles, já agora, para citar, a propósito, José Afonso, «Eles comem tudo, comem tudo, e não deixam nada!».

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