Intervenção de Rita Rato na Assembleia de República

Debate da interpelação centrada nas consequências do pacto de agressão na vida dos portugueses — a grave crise económica em que se traduz a aplicação do «memorando de entendimento

(interpelação n.º 3/XII/1.ª)
Sr.ª Presidente,
Sr. Ministro,
O PCP chama a este pacto «pacto de agressão», porque, de facto, ele representa uma ofensiva brutal aos direitos da juventude. Mais de 6000 estudantes já terão abandonado o ensino superior. E porquê? Porque não têm dinheiro para pagar propinas, porque não têm dinheiro para a alimentação, porque não têm dinheiro para o alojamento.
Ontem, à porta da Assembleia da República, uma manifestação de estudantes esteve a exigir mais apoio para as bolsas de estudo. E dizia-me uma estudante: «A Sr.ª Deputada imagina a tristeza de uma mãe que diz a um filho ‘vais ter de deixar o ensino superior, porque eu não tenho dinheiro para continuar a pagar?’ — foi o que a minha mãe me disse ontem, Sr.ª Deputada!»
O Sr. Ministro imagina a tristeza de uma mãe que diz isto a uma filha?! O Sr. Ministro imagina o que é a crueldade desta política, que só em fevereiro cortou 29,5% em bolsas de estudo?!
O anterior governo, do Partido Socialista, já tinha cortado bolsas a 11 000 estudantes e este Governo cortou-as a mais de 8000.
Sr. Ministro, há estudantes a passar fome, mas o Ministro da Educação orgulha-se do valor da bolsa média que está a pagar aos estudantes do ensino superior, que nem sequer chega para almoçar e jantar todos os dias na cantina!
Esta é uma política de miséria, Sr. Ministro!
Queria também dizer-lhe que, do ponto de vista dos jovens trabalhadores, a realidade não é melhor. Estamos hoje perante os piores números do desemprego desde o fascismo: mais de um terço dos jovens não trabalham nem estudam, só empobrecem!
Só no mês de fevereiro, mais de 35% dos licenciados veio engrossar as listas do desemprego. Isto não é caminho, Sr. Ministro! Isto é a ruína do País! Isto é um desperdício de recursos altamente qualificados para o País!
E, Sr. Ministro, porque nós sabemos que este caminho de salários de miséria, de desemprego, de precariedade, de praças de jorna, que são hoje as empresas de trabalho temporário, que nos fazem lembrar outros tempos que não os da modernidade, é que eu posso aqui dizer que o PCP e eu própria nos orgulhamos muito de aprender com a luta dos trabalhadores.
A este propósito, quero referir o que, na semana passada, me dizia um trabalhador do lixo, que trabalha todas as noites na recolha do lixo: «O ataque é muito grande! Este é um ataque sem precedentes, mas se nós baixarmos os braços eles comem-nos vivos.»
Sr. Ministro, custe o que custar, a luta dos trabalhadores vai continuar!

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