Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral

Comício do 88º aniversário do PCP

Celebramos hoje, aqui neste comício, um Partido com História e com uma longa vida de dedicação e luta contra todas as formas de exploração, opressão, injustiças e desigualdades sociais  – o Partido Comunista Português.

Oitenta e oito anos de vida de um Partido que sempre foi, é e se define como um partido da classe operária e de todos os trabalhadores e provou na prática sê-lo, defendendo coerente e incessantemente os seus interesses, com uma política de classe que o identifica de forma ímpar no panorama partidário português e que determina também a firme defesa de todas as classes e camadas antimonopolistas, vítimas igualmente do domínio, a opressão e interesses do grande capital económico e financeiro nacional e internacional.

Oitenta e oito anos de vida de um grande Partido que recebe a sua força da profunda ligação aos trabalhadores e ao povo e da permanente e inabalável dedicação à causa da liberdade, da democracia e do socialismo.

Um Partido que tem um grande projecto para Portugal. Um Portugal de progresso e justiça, numa Europa e num mundo de paz e cooperação.

Um Partido que tem da política uma visão nobre e elevada, baseada no trabalho, na dedicação e na luta na resolução dos problemas dos trabalhadores, do povo e do país.

Um Partido que cada vez mais é reconhecido como um partido de palavra, um partido fiável que não trai os seus compromissos com os trabalhadores e com o país. 

Um Partido patriótico e internacionalista que assume a defesa da soberania e independência nacionais em todas as frentes da sua intervenção e activamente solidário para com todas as outras forças progressistas, os trabalhadores e povos de todo o mundo em luta pela sua emancipação e libertação.

Partido que se reconhece no legado de Marx, Engels e Lenine, reafirmando a actualidade das suas teses essenciais, entendidas como um instrumento de análise e guia de acção para a transformação revolucionária da sociedade.

Legado que se assume sistematicamente enriquecido com a assimilação crítica da nossa  própria prática e da experiência alheia e no estudo dos novos fenómenos, processos e realidades que alimentam o pensamento teórico de um Partido que é e quer continuar a ser Comunista Português.

Partido cujas natureza e características foram reafirmadas nesse grande congresso que foi o XVIII Congresso do PCP, bem patente na riqueza dos resultados, conclusões e decisões que mostram o nosso Partido inserido na realidade, atento às novas situações, apontando com criatividade soluções para os gravíssimos problemas nacionais, ampliados agora com a crise do capitalismo.

Um congresso do Partido Comunista Português, com a sua diferença, incomparável realização democrática, exemplo de participação militante e grande obra colectiva dos comunistas portugueses que projectou as grandes linhas de acção para promover a ruptura com a política de direita e para a construção de uma alternativa de esquerda – a mais incisiva e decisiva questão nacional. 

Partido que fez frente à ditadura fascista – o único partido que não capitulou, não cedeu, nem renunciou à luta. Que esteve na primeira linha de combate na implantação da democracia em Portugal, dando um contributo decisivo e inigualável para o grande movimento revolucionário que confluiu no 25 de Abril.

Esse acontecimento maior da nossa história contemporânea que este ano celebra os seus 35 anos e que queremos comemorar com o povo, os militares e todos os democratas, reafirmando a importância das suas conquistas e projectando os seus valores que permanecem como uma referência para o futuro democrático e independente de Portugal.

Aqui estamos celebrando o Partido e nele englobando as sucessivas gerações de comunistas que não esquecemos e a quem prestamos uma justa homenagem – aos construtores e aos que se lhe seguiram - e que trouxeram até nós este Partido necessário e indispensável à defesa e afirmação dos interesses populares e nacionais. 

Mulheres, homens e jovens de todas as condições sociais, gente simples e anónima que deram um contributo inestimável e alguns a própria vida nas mil lutas que travamos nas mais diversas circunstâncias para servir o nosso povo, mas também os muitos que são uma referência nos mais diversos domínios da vida do país.

Lutadores como Manuel Rodrigues da Silva, Manuel Guedes, Alberto Araújo pelo seu papel na luta do nosso Partido e do nosso povo.

Homens como Soeiro Pereira Gomes, intelectual, escritor, resistente antifascista, dirigente comunista, cuja vida e obra testemunham um profundo compromisso com a luta dos explorados e dos oprimidos, pela democracia e o socialismo e que este ano celebraremos 100.º aniversário do seu nascimento, através de um vasto conjunto de iniciativas. 

Fazemo-lo recordando a notável obra literária de Soeiro Pereira Gomes - o romancista dos gaiatos dos Esteiros, «homens que nunca foram meninos», e dos operários brutalmente explorados de Engrenagem; o contista dos lutadores clandestinos de Contos Vermelhos – uma obra que nascendo da militância comunista do seu autor e do seu empenhamento na luta ao lado dos explorados, introduziu o mundo do trabalho operário e da vida clandestina na temática da literatura  portuguesa.

Fazemo-lo recordando o camarada, o militante comunista forjado no contacto com a vida e a luta dos operários da Cimento Tejo; o organizador das históricas greves de 8 e 9 de Maio de 1944;  o interveniente activo em importantes momentos da vida do PCP, como foram a reorganização de 1940/41 e a construção e realização dos III e IV congressos do Partido; o Soeiro Pereira Gomes dirigente comunista, dirigente do Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, ao qual consagrou por completo a sua vida.

Fazemo-lo, enfim, assumindo o compromisso de, inspirados pelo exemplo da sua vida de revolucionário, continuarmos a sua luta, que é a nossa nas condições impostas pela actual situação – sempre em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País e sempre tendo no horizonte a construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados, a sociedade socialista.

A história do nosso Partido demonstra-nos como um Partido Comunista, que não abandona os seus princípios, que não desiste da luta, que assenta a sua intervenção e acção na sua ideologia – o Marxismo-Leninismo – que insiste, sempre e sempre, na sua profunda ligação aos trabalhadores e ao povo e se identifica com as suas aspirações e reivindicações, é um Partido preparado para enfrentar os mais exigentes desafios.

E a realidade demonstra-nos como correctas são as nossas análises e como premente é a transformação revolucionária das sociedades e a edificação da sociedade nova - o socialismo porque  lutamos.

E se dúvidas houvesse, aí está a situação internacional a demonstrar como tínhamos e temos razão.

O Mundo está mergulhado numa profunda crise do capitalismo. Uma crise que muitos negaram existir ou tentaram varrer para debaixo do tapete, mas que como o PCP há muito previu, eclodiu.

A situação aí está a demonstrar como os comunistas tinham e têm razão. Muitos dos que negaram a crise, muitos dos principais culpados da situação, porque defensores do sistema, são os mesmos que agora não arriscam previsões quanto à sua profundidade, impacto e duração.

Os mesmos que ainda há um ano espalhavam, ufanos e arrogantes, a ideia de que o projecto comunista não tem futuro e de que o capitalismo era o sistema capaz de resolver os problemas da humanidade, um sistema superior, melhor e definitivo.

A crise, porém aí está, a revelar as suas contradições insanáveis e a revelar a  verdadeira natureza  predadora e exploradora do sistema capitalista.

Esses mesmos que agora tentam vender esta crise como o resultado de falta de regulação do sistema ou dos excessos de alguns.

Fazem-no para não reconhecerem as suas próprias responsabilidades e sobretudo as responsabilidades do sistema que defendem, servem e do qual se alimentam.

Fazem-no para esconder a natureza e as consequências das suas políticas e para preservar o essencial do seu poder económico e político.

Os milhões - sim, porque a riqueza que o mundo produz não se esvaiu num qualquer buraco negro – continuam a fluir fácil e rapidamente para os cofres do capital financeiro, dos grandes grupos económicos, aumentando a concentração capitalista.

As medidas ditas de regulação, em discussão para a cimeira do G20 de Abril próximo, não beliscam sequer o poder económico capitalista, são pura retórica! Veja-se o enorme embuste que se está a tentar criar em torno do dito combate aos offshores sem tocar no essencial, ou seja a sua existência.

Regulação nos offshores? Era a mesma coisa que pedir a um peixe para passar a viver em terra. É contra a sua natureza!

É a velha táctica do sistema, a velha ilusão do capitalismo, falar mil vezes em mudança,  moldar as consciências, para que tudo fique na mesma.

Mas o ilusionismo é isso mesmo! Ilusão…

As ditas medidas de relançamento das economias não passam de negócios entre o poder político e o grande capital, que a cada passo dado vem sempre estender novamente a mão exigindo mais e mais, acenando com a chantagem do desemprego. Por isso se revelam tão ineficazes.

Simultaneamente, os mesmos de sempre, os que pelo seu trabalho produzem a riqueza mundial, são descartados aos milhões para o exército de disponíveis e empurrados, através de uma poderosa campanha de esmagamento de consciências em torno da inevitabilidade dos efeitos sociais da crise, para o desemprego ou para a chantagem entre ficar sem trabalho ou ver os seus direitos e salários reduzidos.

Não, não são estes os caminhos de combate à crise.

Estes caminhos de retrocesso conduzirão isso sim ao aprofundamento desta e de outras crises. Aos que, mesmo à esquerda, embarcam no feitiço da regulação como solução é necessário demonstrar que esta crise não é um episódio, um descontrolo, um erro de percurso.
Não! Ela é uma profunda crise de um sistema assente na exploração, na predação dos recursos e do meio ambiente e na ditadura do lucro máximo, e que põe a nu os seus limites e as suas profundas e insanáveis contradições.

Mas a realidade demonstra-nos também que este não é o último suspiro do sistema. A poderosa ofensiva ideológica, a violenta ofensiva social, as investidas contra a democracia, o levantar de cabeça de forças profundamente reaccionárias e fascizantes e o arrastar de espadas que se verifica em várias partes do mundo – veja-se a agenda da próxima cimeira da NATO por ocasião dos 60 anos da sua fundação – alertam-nos para a ofensiva do imperialismo que se acentua com o acentuar da crise e para os perigos que estão colocados aos trabalhadores e povos do mundo.

Vêm aí tempos duros, temos consciência disso. Mas tempos de grande luta, como já o demonstra a autêntica explosão mundial de lutas dos trabalhadores e dos povos por todo o mundo, nomeadamente em locais onde menos se esperaria, e onde as condições de luta das forças do progresso são extremamente difíceis.

Tempos em que os comunistas são chamados a cumprir o seu papel histórico: estando ao lado dos trabalhadores e dos povos; combatendo o aumento da exploração; dando combate ao desemprego e à eliminação de direitos; lutando lado a lado com as forças que se batem contra a guerra e as ingerências do imperialismo; dando respostas concretas e apresentando propostas para a resolução dos mais urgentes problemas; resistindo às tentativas de impor pelas campanhas ideológicas ou pela força a intimidação e o medo; defendendo a democracia e o direito internacional.

Em todas as partes do mundo será necessária muita firmeza ideológica, muita força, muita capacidade de organização e Partidos – Partidos Comunistas. Comunistas porque preconizamos a alternativa. Comunistas porque somos nós que estamos em condições para imprimir confiança aos trabalhadores e aos povos, mostrando-lhes que a luta de massas, a sua mobilização é a mais poderosa arma que têm e que existe uma saída para as crises e a crise do capitalismo. O socialismo!

O ano de 2009 que temos pela frente é um ano de duros e complexos combates também no nosso país e que vai exigir uma grande mobilização e um forte envolvimento de todos os comunistas e de todos os amigos que connosco estão empenhados em fazer frente à política de direita e pela construção de  uma alternativa de esquerda para o país.

Em todos os anos o trabalho nunca falta! Mas este é um ano que vai exigir de todos nós uma grande disponibilidade, um grande esforço, uma grande dedicação para responder com êxito às solicitações das várias frentes que estão abertas no grande combate que estamos a travar para criar as condições para a necessária mudança de rumo na vida do país.

Temos três eleições pela frente e num curto espaço de quatro meses. Temos a indeclinável tarefa de responder com toda a nossa experiência colectiva  à aguda crise económica e social e à sistemática tentativa de transferir os seus custos para os trabalhadores e para o povo as suas devastadoras consequências. Temos pela frente a inevitável tarefa de mobilizar e dinamizar a luta de massas contra a política de direita do governo do PS que permanece. Temos a tarefa  do imprescindível reforço orgânico do Partido, suporte e condição para levar de vencida e garantir o sucesso do nosso trabalho em todas as frentes de luta, nomeadamente construindo a nossa grande Festa do "Avante!”

Grandes combates que temos que travar, este ano mais do que nunca, mobilizando de forma integrada e articulada todos os nossos recursos, toda a nossa capacidade de direcção, organização partidária e capacidade institucional, para potenciar a nossa intervenção partidária como um todo para garantir o necessário e imprescindível reforço político, social e eleitoral do nosso Partido e da CDU, condição essencial para a mais instante e decisiva questão nacional -  a ruptura com a política de direita.

No imediato e desde já mobilizando e apelando à participação na jornada de luta nacional, convocada pela CGTP-IN para o próximo dia 13, em Lisboa. Estamos convictos que a manifestação nacional da próxima sexta-feira, será uma grande jornada de luta dos trabalhadores e das populações  em defesa dos seus interesses imediatos, mas também uma grande e combativa jornada de exigência de mudança de rumo na política nacional.

Cada homem, mulher ou jovem que ali esteja será uma presença combativa a provar que, ao contrário dos que nos querem arrastar para o pântano do conformismo e da resignação, a luta continua.

Uma luta que é preciso continuar e ampliar, nomeadamente contra o desemprego que atinge cada vez mais trabalhadores, por melhores salários e contra os salários em atraso, o lay-off abusivo que impõe a redução injustificada da produção, contra a avassaladora destruição de empresas e as deslocalizações, pelo  melhoramento das pensões de reforma, pela revogação do Código de Trabalho, por medidas no plano económico e social de imediato combate à crise e contra as políticas que estão na sua  origem.

Luta também dos jovens e das mulheres pelos seus direitos. Daqui saudamos o dia nacional da juventude e a sua luta prevista para esse dia 28 de Março e todas as mulheres portuguesas que no próximo dia 8 de Março vão celebrar o Dia Internacional da Mulher.

Mas se a luta é importante, neste momento não podemos subestimar a imediata tomada de medidas de preparação das batalhas eleitorais que se avizinham para o Parlamento Europeu, Assembleia da República e para as Autarquias nomeadamente a constituição de centenas de listas e o urgente e necessário alargamento do trabalho unitário e a criação de condições para travar com sucesso a primeira grande batalha eleitoral que é a do Parlamento Europeu.

A primeira das três batalhas eleitorais que temos pela frente - as eleições europeias - assumem uma importância e centralidade que vai muito para além da temática europeia.

Vamos eleger deputados ao Parlamento Europeu é certo, mas como cada um de vós pode bem testemunhar, aqueles que em Portugal ou apoiam ou concretizam as políticas de direita são os mesmo que lá em Bruxelas concebem, defendem e executam os dogmas desta União Europeia neoliberal, militarista e federalista.

São os mesmo que lá, tal como cá, fazem a convergência de classe entre direita e social-democracia para avançar nas políticas de liberalização e privatização de sectores estratégicos e de serviços públicos, de ataques aos direitos dos trabalhadores, de intensificação da exploração, de destruição do aparelho produtivo nacional.

Tal como cá, também lá eles manobram para alimentar os lucros e as fortunas do grande capital em nome de um suposto combate à crise, avançando simultaneamente com as políticas que agravam as desigualdades sociais e territoriais, que estão na origem do aumento do desemprego e da pobreza e que tentam incutir nos trabalhadores o medo, o conformismo e a resignação.

Insistimos na ideia. Estas eleições europeias não são menos importantes que as legislativas ou as autárquicas, pelo contrário.
Por serem as primeiras elas serão a continuação natural da nossa luta e da luta do povo português.

Serão a primeira oportunidade para penalizar pelo voto as forças políticas que têm principais responsabilidades na actual crise que vivemos.

Serão o primeiro momento para imprimir a dinâmica eleitoral à afirmação da ruptura com a política de direita que só o PCP e a CDU podem garantir.

Serão um combate duro, político e ideológico, uma importante jornada contra a Europa de Durão Barroso e de Sócrates, mas também uma luta contra as confusões e ilusões que vêm de uma Esquerda inconsistente que ainda não percebeu, ou finge não perceber, a verdadeira natureza desta União Europeia.

Em causa nestas eleições estarão questões tão fundamentais e concretas como os direitos laborais, os salários, o tempo de trabalho, a luta contra a privatização dos serviços públicos e das funções sociais do Estado, a sobrevivência da economia portuguesa, da nossa agricultura e das nossas pescas e, claro, a defesa da nossa soberania.

Numas eleições ditas europeias estará sobretudo em causa Portugal e os portugueses.

É perante esta realidade que o dia  7 de Junho tem que ser encarado como o dia de mais uma jornada de luta dos trabalhadores e do nosso povo!

As eleições de 2009 são, sem dúvida uma das mais importantes batalhas políticas que temos pela frente e são de uma grande  exigência e de enorme responsabilidade, já que em grande medida vão determinar e influenciar a evolução da situação política dos próximos anos.

Elas são a grande oportunidade para os portugueses expressarem através do voto, uma clara condenação da política de direita e da acção do governo do PS aqui no país e na Europa e reforçar e dar mais força à CDU - com mais votos e mandatos - a grande força eleitoral da esquerda portuguesa.

A grande força de esquerda que se afirma, com redobrada actualidade, como o grande espaço de convergência democrática e a única força cujo reforço eleitoral e político pode pôr fim ao circulo vicioso do rotativismo da alternância sem alternativa que governa o país há mais de três décadas. Que quanto mais força tiver mais possível é a ruptura e a mudança para melhor.

Três décadas de política de direita protagonizadas pelo PS, PSD e CDS que há mais de trinta anos governam o país à vez e que fizeram de Portugal um país cada vez mais dependente, mais injusto e desigual.

Mais de trinta anos de política desastrosa que arruinaram a nossa indústria, a nossa agricultura e as nossas pescas e que acentuou o nosso atraso relativo em relação aos outros países da União Europeia e enredaram o país numa situação de estagnação crónica.

Mais de trinta anos de políticas anti-sociais dirigidas à subversão e destruição dos direitos sociais e laborais dos trabalhadores e à destruição das conquistas de Abril.

Política que o actual governo do PS prosseguiu e ampliou e que vulnerabilizou ainda mais a economia nacional face à crise e que é hoje a grande responsável pelos elevados níveis de desemprego, de precariedade, do aumento da exploração e do declínio dos rendimentos do trabalho, das desigualdades e assimetrias regionais, da ruína de milhares de micro, pequenos e médios empresários.

Política de direita que promoveu uma obscena concentração e centralização de riqueza nas mãos do grande capital e que continua a promover como se vê num país em grave e acentuada recessão.

Vejam-se os lucros da Galp 478 milhões de euros, uma boa parte retirados dos bolsos dos trabalhadores, dos agricultores, dos pescadores, dos pequenos e médios empresários, porque enquanto os preços dos combustíveis baixavam, a Galp deixava passar o tempo mantendo os seus preços no mercado nacional.

Veja-se a EDP que anunciou hoje 1 212 milhões de euros de lucro que são um recorde em Portugal, ao mesmo tempo que promoveu aumentos da energia acima da taxa de inflação.

Numa situação de recessão económica em que se impunham outras medidas, como o congelamento ou a redução dos preços da energia, como há muito o PCP reclama para tecido económico português, estas empresas preparam-se para engrossar o bolo da distribuição dos dividendos.

A crise não é para todos!

Veja-se também o que se passa com o aumento das tarifas de telemóveis. Foi anunciado esta semana um aumento de 2,5% dos preços das chamadas. O mesmo valor anunciado pelas três operadoras e superior também ao valor da inflação esperado para este ano e quando o preço do custo das chamadas baixou para as operadoras no chamado mercado grossista.

Mas o governo não vê a concertação, nem o regulador o cartel.

É esta a verdadeira face da política do governo do PS que levou o país à  recessão económica  e a bater os mais funestos e tristes recordes da governação dos últimos anos.
Não apenas no desemprego e na precaridade laboral, mas também novos recordes no nível da dívida pública. Novo recorde no endividamento das empresas e famílias. Recorde preocupante na dívida externa. Novo recorde negativo das contas externas, nomeadamente da balança comercial. Novo recorde de falências e de afundamento dos sectores produtivos nacionais. Recordes que são bem a  imagem do agravamento de todos os problemas nacionais.
Quatro anos de ofensiva que se traduziram em novos recuos nos direitos à segurança social e a uma reforma digna, à educação e ao ensino com o crescente aumento dos seus custos, com ao direito à saúde com os ataques desmedidos ao Serviço Nacional de Saúde.

Mais quatro anos de regressão social e declínio económico e que agora se tentam encobrir com a crise do capitalismo internacional que passou a servir de desculpa para o agravamento de todos os problemas do país e para o empobrecimento geral dos portugueses.
Mas enquanto a crise económica e social faz o seu caminho e todos os problemas se agravam com novos encerramentos de empresas, novas paragens de produção, mais salários em atraso, novas falências de pequenas e médias empresas e aumentam as  famílias insolventes afundadas em dívidas, no congresso do partido do governo os problemas reais do país e dos portugueses passaram ao lado.

Não se ouviu uma só resposta aos graves problemas do presente e o futuro do país foi projectado no vazio de uma retórica anti-neoliberal para criar a ideia de uma ilusória e simulada viragem do PS à esquerda. 
A mesma retórica a que por todo o lado assistimos da parte do principais responsáveis pela crise do capitalismo, recém convertidos aos princípios do papel do Estado interventivo e disciplinador com os seus planos anti-crise prioritariamente dirigidos à salvaguarda dos interesses do grande capital financeiro à custa dos recursos do país.

Um congresso do PS onde sobressai apenas o discurso da vitimização pessoal, apostados que estão na rentabilização ao máximo desse velhíssimo artifício desencadeador de emoções fáceis e criador de irracionalidades e eclipsar do debate e discussão sobre os problemas do país, em relação aos quais José Sócrates e o PS não têm outra resposta que não a que deram nestes quatro anos de governo, a mesma política que tem conduzido o país ao desastre.
Resta-lhes, por isso, o estafado argumento da estabilidade governativa – o argumento do nós ou o caos – mesmo que a anunciada estabilidade seja realizada à custa da instabilidade da vida do povo.
Confundem propositadamente a estabilidade da elite dirigente e dos grandes interesses que representam com a estabilidade do país.
É talvez tempo de perguntar aos portugueses se tem sido e é boa a estabilidade governativa que desestabiliza e destrói as suas vidas, as suas aspirações e direitos.
Se a estabilidade governativa que precisamos é aquela que desestabiliza a vida das populações com o encerramento a que assistimos dos serviços de saúde que apenas parou momentaneamente porque a luta o impôs, mas que aguardam a nova oportunidade para prosseguir.
Se a estabilidade governativa que as populações precisam é aquela que lhes desestabilizou as suas vidas e as dos seus filhos com o encerramento de milhares de escolas por todo o país.
Se a estabilidade governativa vale a desestabilização total das escolas com o brutal ataque deste governo aos professores, à escola pública e às universidades públicas, aos alunos e ao sistema de gestão democrática, por exemplo.
A mesma desestabilização de toda a administração pública com a ofensiva que promoveu contra os seus trabalhadores e os serviços públicos.
Se a estabilidade governativa que os trabalhadores precisam é aquela que promove a desestabilização da lei da selva nas relações laborais com as suas propostas de alteração do Código de Trabalho.
Não ! Não é esta a estabilidade governativa que os portugueses e o país precisam!
O secretário-geral do PS, José Sócrates, que tanto falou da moral em política, bem poderia ter evitado o recurso a essa mistificadora ideia que deixou de que as próximas eleições legislativas são para escolher também o candidato ao cargo de primeiro-ministro para a qual apresentou as razões da sua candidatura. Não há eleições para primeiro-ministro, vai haver eleições para deputados da Assembleia da República, da qual depende qualquer governo e perante a qual responde em função das maiorias que se formem. Este é outro abusivo engano avançado com o objectivo de promover a bipolarização das eleições com o claro objectivo de  perpetuar no poder os partidos do bloco central.

É por isso que falam de nós e nos definem como um partido de protesto. Falam com a arrogância de quem se sente dono e senhor exclusivo do poder e detentor de um estatuto especial, à margem da vontade popular.
Falam com a arrogância de quem se julga que já ganhou as eleições e que pode continuar a distribuir e prometer cargos, vantagens e prebendas à sua clientela. Falam com a arrogância de quem se julga inamovível nesse jogo viciado do rotativismo empobrecedor.

Talvez o povo lhes troque as voltas e mais cedo do que estão a pensar. Nós vamos fazer mais que a nossa parte, trazendo os problemas do país ao debate e as soluções para os superar.
Porque não são as sondagens por encomenda que sopram, tantas vezes,  mais ao jeito dos desejos e objectivos de quem as promove do que expressam uma efectiva vontade do eleitorado como se vê  nos seus resultados contraditórios. Nós não nos impressionamos com sondagens e nesta matéria anda por aí quem de forma  pouco inocente ande a vender “gato por lebre” e a promover vencedores antecipados e derrotados certos.
Nós temos toda a confiança na força e vitalidade do nosso Projecto e é bom que lhes digamos que nós estamos preparados para assumir todas as responsabilidade, assim o queira o nosso povo.
Não para fazer a mesma  política de sempre, mas para abrir um novo caminho, com uma nova política alternativa para devolver a esperança e a confiança no futuro aos trabalhadores e ao povo.
Nova política que tem como grandes objectivos o aumento do bem-estar e da qualidade de vida das populações e a redução das desigualdades sociais, através de uma justa repartição da riqueza, de uma adequada política fiscal e de segurança social e saúde e da elevação da qualidade dos serviços públicos em todo o território nacional.

Nova política assente na recuperação pelo Estado do comando político e democrático do processo de desenvolvimento, tendo como elemento central a soberania nacional, numa economia mista, onde tem lugar um forte sector público e o apoio efectivo às pequenas empresas e aos sectores produtivos nacionais e a superação dos principais défices estruturais do país.

Nova política que tem na concretização do pleno emprego o prioritário objectivo das políticas económicas e valorização do trabalho e dos trabalhadores como condição determinante para o desenvolvimento. 

Nova política que tem como outra das suas finalidades a promoção da educação da cultura e da ciência e a coesão económica e social com um decisivo combate às assimetrias regionais.
A situação exige um Partido preparado para todas as circunstâncias, exige um PCP mais forte.

Analisando a situação de Portugal e do mundo, as acrescidas exigências que se colocam nos próximos anos, o XVIII Congresso lançou, com uma concepção global e integrada, a acção geral de fortalecimento do Partido, sob o lema «Avante! Por um PCP mais forte».

Trata-se de uma decisão da maior importância e alcance a que os três meses decorridos sobre o XVIII Congresso dão cada vez mais importância.

Neste ano de 2009, prosseguimos o reforço da organização partidária integrando-o com o desenvolvimento da acção de massas, o fortalecimento dos movimentos de massas, a intensificação da acção política do Partido, o alargamento unitário da CDU e as batalhas políticas eleitorais.

As batalhas políticas de 2009 exigem a total mobilização das potencialidades da organização e criam condições particulares para avanços no reforço do Partido.

Coloca-se a necessidade de criação e reforço de organismos, a responsabilização de quadros e a sua formação política e ideológica,  de mais atenção à prioridade do reforço da organização e intervenção do Partido junto da classe operária e dos trabalhadores, nas empresas e locais de trabalho, que assume ainda mais sentido face à situação dos trabalhadores, com encerramentos e deslocalizações de empresas, despedimentos, violação dos direitos e repressão, da promoção do funcionamento e a dinamização das organizações de base, do recrutamento para o Partido e da integração dos novos militantes, da intensificação do trabalho de propaganda, da promoção da imprensa partidária e do aumento da capacidade e da independência financeira do Partido.

Importantes batalhas nos esperam que  estão a exigir e vão exigir muito de nós. Batalhas às quais precisamos de dizer presente e dirigimo-nos aos trabalhadores para que se  organizem e lutem, apoiem e adiram ao PCP, reforcem a CDU nas batalhas que aí vêm, porque são os seus próprios interesses e aspirações, são os interesses do nosso povo que se reflectirão nesse reforço e no reforço do nosso combate conjunto.

Prosseguimos com determinação e confiança a nossa luta. Prosseguimos com a convicção de que sim é possível, uma vida melhor. Prosseguimos orientados pelo lema «Por Abril, pelo socialismo, um PCP mais forte» cuja importância se salienta no quadro do agravamento da situação que vivemos. 

Portugal, os trabalhadores e o povo português estão numa encruzilhada, Abril é resposta, Abril de Novo é uma necessidade, um rumo que concretize as esperanças, os valores e o projecto da Revolução de Abril, caminho de progresso social que se identifica profundamente com a democracia avançada pela qual lutamos.

O capitalismo evidencia cada vez mais que não é a solução e estão cada vez mais visíveis os seus limites históricos. O socialismo é uma crescente exigência da actualidade e do futuro.

Celebramos com grande alegria e confiança estes 88 anos de vida do Partido com a memória viva da sua história exaltante. Celebremos de punho bem levantado: longa vida e mais futuro ao PCP!