Comício em Lisboa

 

 

 

 

 

Comício no Fórum Lisboa

Intervenção de Jerónimo de Sousa,Secretário-Geral do PCP

Por todo o país, hoje e amanhã, os comunistas portugueses, afirmando a sua condição de grande força de oposição e alternativa à política de direita, estão junto dos trabalhadores e das populações numa jornada de esclarecimento e protesto contra o aumento do custo de vida, de denúncia dos objectivos do governo do PS e do grande patronato em relação às alterações à legislação laboral e pela exigência de medidas imediatas para atenuar as graves consequências do brutal agravamento das condições de vida. 

Esta é mais uma iniciativa de um Partido que está atento aos graves problemas com que o país, os trabalhadores e a generalidade dos portugueses se defrontam e que não abdica do imprescindível combate pela mudança de rumo na política nacional.

A degradação da situação económica e social do país é hoje indisfarçável. O governo do PS e o seu Primeiro-Ministro José Sócrates já não conseguem mascarar as graves consequências na vida do país das suas políticas e da opção de fundo que tomaram, ao dar continuidade, nas suas linhas essenciais, às políticas de direita que vinham conduzindo o país à estagnação e ao atraso. Já não conseguem disfarçar o desastroso resultado da sua política.

A economia do país afunda-se cada dia que passa e a vida da larga maioria dos portugueses piora todos os dias, com cada vez mais pessoas a viverem uma situação dramática.

Em cima dos graves problemas do desemprego, da precariedade, da liquidação de direitos essenciais, nos domínios do trabalho, da saúde, da segurança social, das desigualdades e injustiças sociais, assistimos ao continuado empobrecimento dos portugueses. Empobrecimento que é hoje uma realidade insofismável, com destaque para os que vivem apenas do seu trabalho e de uma reforma, mas que atinge também os sectores que dependem da actividade comercial, agrícola ou industrial, onde predominam as micro pequenas e médias empresas.

À contínua desvalorização das remunerações de trabalho e dos pequenos rendimentos juntou-se a escalada de preços dos bens e serviços essenciais que tornam insuportável a vida milhões de portugueses.

O custo de vida tornou-se um pesadelo com o continuado agravamento dos preços dos bens alimentares, dos combustíveis, dos transportes e dos juros e exige uma resposta urgente quer do governo do país e das políticas nacionais, quer das políticas comunitárias.
No plano nacional o governo do PS tal como os governos de Durão e Santana, em vez de aproveitarem o período de crescimento da economia mundial para relançar a economia portuguesa, promover a criação de mais riqueza e a auto-sustentabilidade do país, não só desbarataram todas as oportunidades como acentuaram, com as suas políticas restritivas e de obsessão pelo défice, as tendências recessivas e de regressão que as políticas de acelerada privatização, liberalização e financeirização da economia portuguesa se foram impondo no país, de forma conjugada. 

Nestes últimos dez anos o crescimento médio em Portugal não ultrapassou 1,7%, praticamente estagnou, em resultado de uma governação que deixou degradar e  desarmou os sectores produtivos nacionais, aprofundando a nossa dependência  e tornando o país cada vez mais fragilizado face ao exterior. 

Vêm hoje perorar acerca de uma conjuntura externa desfavorável como se ela explicasse tudo e não olham, uns e outros, para o facto de nesta história se terem  portado como a cigarra, não só deixando o tempo correr, tão deslumbrados que estavam em cumprir, mais papistas que o Papa, os ditames das políticas do Pacto de Estabilidade o do Banco Central Europeu, como foram incapazes de afirmar uma estratégia nacional de desenvolvimento do país.

Era o canto da cigarra que alegre e displicentemente, ainda não há mês e meio, difundia uma absurda segunda versão do “país oásis”, declarando-o imune à crise financeira e anunciava o país melhor preparado para enfrentar os problemas do futuro. Os resultados não tardaram a estar à vista: Portugal é, afinal, o país que regista neste início de 2008 o menor ritmo de crescimento na União Europeia.

Diz agora o governo que está encostado à parede e que não pode fazer nada, mas quem está encostado à parede é o povo português que sofre as consequências de uma política que favoreceu apenas os sectores que permitem ao grande capital económico e financeiro nacional, em estreita articulação com o capital estrangeiro, centralizar e concentrar riqueza e dominar a economia nacional.

Encontram sempre uma desculpa para iludir as suas responsabilidades. Ontem era o défice a servir de pretexto a uma brutal ofensiva contra as condições de vida dos trabalhadores e das populações, hoje é a situação internacional que serve de bode expiatório para o fracasso da sua política e de desculpa à inoperância no combate às actividades especulativas e ao desmesurado apetite do lucro gordo e fácil dos grandes senhores do dinheiro, das grandes cadeias comerciais e das oligarquias que têm na mão os sectores económicos estratégicos nacionais.

O que se passa com o aumento dos preços dos combustíveis é elucidativo. Não é no interesse dos portugueses e da economia nacional que o governo age, mas na defesa do lucro especulativo das grandes companhias petrolíferas. Falam em nome dos contribuintes para travar as medidas que se impõem, mas o que na realidade pretendem é manter intocáveis todos os mecanismos de exploração que estão a contribuir para acrescentar crise à crise e dificuldades às dificuldades vividas pelos portugueses.

Não há manobras de diversão que possam desviar as atenções do processo que leva à especulação sobre os preços dos combustíveis. Não há relatório da Autoridade da Concorrência que responda ao facto de em Portugal os preços dos combustíveis serem muito superiores aos aumentos do barril do petróleo e à questão de a GALP, por exemplo, mas o mesmo acontece com as outras petrolíferas, ter passado de 333 milhões de euros de lucro em 2004 para  777 milhões de euros em 2007, ou seja mais 133%.

O governo não vê os lucros extraordinários obtidos à custa dos portugueses, resultantes da forma como as petrolíferas estabelecem o preço dos combustíveis. O governo não vê que os lucros especulativos das petrolíferas resultam do chamado “ efeito de stock”. O governo faz de conta que não sabe e não vê que a GALP utiliza hoje na refinação, petróleo comprado há dois meses e meio, portanto a preços mais baixos e que faz o preço dos combustíveis como se o tivesse comprado há oito dias. O governo acha normal que o país pague este lucro especulativo que resulta deste expediente inaceitável e que permitiu só nos primeiros três meses deste ano um lucro acima do habitual de mais 69 milhões de euros.

A especulação pode ser travada! Os combustíveis podem e devem baixar! O governo tal como a direita fazem vista grossa a esta autentica pirataria, porque os lucros do grande capital são sagrados e intocáveis, enquanto o aumento do custo de vida e a penalização dos portugueses pode continuar. É por isso que não abdicamos da luta pela criação de um imposto extraordinário sobre os lucros, com origem no efeito de stock, a cobrar trimestralmente e destinado a suportar as medidas de apoio aos sectores económicos mais atingidos com o aumento dos combustíveis.

Esta é uma das sete medidas urgentes que o PCP apresentou, esta semana, na Assembleia da República para enfrentar a crise e esta é uma luta que não desistiremos de continuar!. 

Mas preocupante é hoje a subida dos preços dos bens alimentares e das despesas com a habitação, num quadro de sistemático e deliberado ataque e degradação dos rendimentos do trabalho. Depois dos fortes aumentos registados logo no primeiro mês de 2008, temos assistido de então para cá a uma nova escalada preços.

Nos bens alimentares os aumentos no último ano são um drama para milhares de famílias. Preços que subiram, nalguns casos, 30%, 40% e até 70% como no caso do leite e do arroz. Aumentos inaceitáveis num contexto de três anos consecutivos de redução dos salários reais médios e de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza. Aumentos de preços que se acumulam com outros que cada vez mais pesam no orçamento familiar, em particular o contínuo e incomportável aumento das prestações da casa que atingem um milhão e seiscentas mil famílias.

Os jovens são particularmente atingidos pelo fundamentalismo monetarista que impera em todo sistema financeiro europeu e nacional e que tem como guardião o Banco Central Europeu e a conivência das instituições europeia e o apoio do governo português e da autoridade monetária nacional – o Banco de Portugal.

O silêncio é significativo perante a situação que se vive e nem uma palavra de preocupação, nem um sinal de desaprovação à resistência do Banco Central em baixar as taxas de juro, num momento de crise e imperiosa necessidade de inverter a grave situação económica e social em que nos encontramos.

Esta semana e antecipando a possibilidade de um novo aumento em Julho da taxa de juro de referência do Banco Central Europeu, assistimos a uma nova e imediata subida da taxa Euribor que atingiu o valor mais alto dos últimos oito anos. Com o sistemático aumento dos juros e das margens de lucro dos bancos no crédito, a vida dos portugueses que compraram a casa está a tornar-se num inferno. Mas se a mudança de orientação na política monetária é uma urgente necessidade, no plano nacional e no imediato é necessário e é possível travar o aumento do custo dos empréstimos à habitação actualmente existentes.

O Estado pode e deve ter outra intervenção. Pode e deve, com efeitos de arrastamento no mercado, garantir através da sua orientação accionista na Caixa Geral de Depósitos a contenção dos actuais custos nos empréstimos à habitação. Uma orientação que permita praticar um spread máximo de 0,5% e equacionando igualmente o recurso a medidas de apoio ao nível do endividamento das famílias de mais baixos recurso. Esta é outra medida mínima de combate no imediato à crise.

É um escândalo que ao mesmo tempo que se promove e impõe o aumento das taxas de juro e perante tantas dificuldades da vida das pessoas, o presidente do Banco Central e esta semana o vice-presidente venham outra vez, em nome do combate à inflação, defender a contenção salarial, isto é, o congelamento dos salários, aliás, como o já o tinha também proposto o Conselho de Ministros das Finanças da União Europeia com a concordância do ministro português. 

É a dupla penalização para os que já sofrem! É o cinismo que não olha a meios para garantir os lucros a níveis sempre elevados. Lucros que nunca entram, nem contam para a inflação. Os milhões e milhões de euros da especulação, de lucros abusivos e indevidos dos grandes banqueiros, dos Belmiros das grandes superfícies, dos Amorins dos combustíveis e da oligarquia que domina o sector energético, as telecomunicações, os transportes etc. não têm qualquer impacto no crescimento da inflação, são sempre os salários a preocupação destes senhores!

Não chega, no caso português, três anos consecutivos de quebra dos salários reais. Querem mais! Querem sempre mais, porque a gula do lucro é insaciável! Querem acelerar ainda mais o endividamento das famílias que atinge já o valor médio de 129% do total dos seus ganhos anuais. 

Não chega também a utilização desse duplo expediente que na prática impõe não só congelamento dos salários, mas a sua degradação com as enganosas previsões sobre o índice da inflação e o arrastar do necessário ajustamento do cabaz de compra das famílias que está a camuflar a real dimensão do valor da inflação e do seu impacto na vida das famílias de menores recursos. Não é por acaso que há cada mais vez mais portugueses que empobrecem a trabalhar, enquanto crescem as fortunas que se alimentam da exploração e da especulação. Em 2007 as 100 maiores fortunas cresceram mais 36%!

O governo já reconheceu que o valor estimado para a inflação para este ano e que determinou o ajustamento dos salários e pensões ficou aquém da realidade, mas ficou-se apenas pelo reconhecimento.

É preciso, como agora o propomos nas sete medidas urgentes que apresentámos para enfrentar a crise, o aumento geral dos salários, designadamente do salário mínimo nacional, que inclua um aumento intercalar para os trabalhadores da Administração Pública que reponha o poder de compra perdido. Mas se esta é uma  medida com efeito imediato para vida dos trabalhadores, no que se refere aos reformados e pensionistas do sector privado e da Administração Pública, fortemente penalizados pela política do governo do PS exige-se uma resposta também célere. Não só porque as reformas estão desactualizadas, mas também pelos impactos negativos da chamada reforma da Segurança Social que está a empurrar para baixo o valor das reformas, mesmo as mais baixas.
Temos hoje muitos testemunhos de um conjunto de instituições que alertam para o crescimento das situações de pobreza entre os reformados e sucedem-se os exemplos dos que estão sujeitos a graves carências alimentares. Nós temos apresentado propostas para responder a esta aguda situação social que a maioria do PS tem rejeitado, mas nós não podemos desistir também deste combate e da exigência de dar resposta a esta premente necessidade de apoiar os reformados portugueses num momento em que pesa e pesa bem o custo de vida. 

Nas sete medidas urgentes para enfrentar crise no agendamento potestativo que apresentámos na Assembleia da República retomámos e consideramos inadiável a necessidade de um aumento extraordinário das pensões, de forma a que as pensões mais baixas subam, em 2008, pelo menos 4% e as pensões intermédias acompanhem o aumento previsível da inflação. Assim como propomos o estabelecimento de um preço máximo para 2008 num conjunto de bens essenciais básicos alimentares e de higiene.

Sabemos que são precisas outras medidas para inverter a grave situação social e económica, outras medidas de fundo. Mas essa é outra batalha que exige na sua concretização garantir a mudança. Mudança das políticas que rompam com as políticas de direita que estão a empurrar o país para o fundo, acentuando todas as suas crónicas fragilidades.

O que se passa com a chamada crise dos produtos alimentares revela bem quanta razão tinha o PCP quando defendia a necessidade imperiosa de Portugal garantir a sua soberania alimentar e necessidade de defender os sectores produtivos nacionais, neste caso a nossa agricultura. Hoje, perante a crise e os preços a dispararem vêm dizer que foi um erro e que é um erro pagar para não produzir.

Hoje o país está cada vez mais nas mãos dos grandes especuladores, das grandes multinacionais, dos grandes intermediários comerciais e da grande agro-industria. São estes que estão a ganhar com a fome e a tragédia de milhões de seres humanos, enquanto certos governantes choram lágrimas de crocodilo.

Difundem amplamente a ideia de que a crise actual é, essencialmente, o resultado dos factores climáticos, responsáveis por más colheitas a que juntam o preço do petróleo e o aumento da procura de alguns países que viram melhorada a sua dieta alimentar.

Trata-se de uma resposta que deixa de fora as principais causas da situação para continuarem a impor a sua política de mentira e de destruição das agriculturas nacionais menos desenvolvidas, como a portuguesa. Deixa de fora as políticas de liberalização do comércio mundial dos últimos anos sob o domínio multinacionais e que se traduziram em políticas nacionais e comunitárias, nomeadamente com a Política Agrícola Comum, em significativas restrições da produção, eliminação de stocks, liquidação de milhares de explorações de agricultura familiar.

Políticas ruinosas contra a produção e a agricultura nacional e que se espelham bem no facto de Portugal ter hoje um dos maiores défices comerciais alimentares da Europa.

Todos os indicadores e análises apontam para o agravamento da crise sistémica capitalista a nível Planetário nos próximos tempos, especialmente nos Estados Unidos da América e nos países mais financeira e economicamente interligados a este país, como é o caso da Inglaterra.

Portugal está hoje muito mais vulnerável devido à liquidação do seu aparelho produtivo e à crescente dependência e endividamento externo.

Para esconderem a natureza da crise capitalista e dos seus efeitos sobre as massas, os analistas do sistema advogam mais regulação, como se a especulação e a exploração não fossem inerentes e a base do sistema e fonte de acumulações de riquezas colossais nas mãos de um punhado de privilegiados. As taras do sistema são se vencem com as aspirinas de regulação e outras mezinhas advogadas pelos teóricos do sistema, mas com a sua superação. 

Mas a vida hoje está mais difícil, está mais complicada e o custo de vida pesa ainda mais, porque a ofensiva global contra os serviços públicos e as funções sociais penalizou fortemente as populações. Essa é outra linha de ataque às condições de vida das populações que o governo do PS de José Sócrates assumiu como ninguém para os transformar em chorudos negócios privados, como é exemplo o que se passa no sector da saúde em que os custos para os utentes não param de crescer.

Num quadro de profunda crise económica e social, o Governo não só não toma medidas em áreas da sua responsabilidade que permitam às famílias aliviar o fardo da redução dos rendimentos e do  endividamento como ainda agrava mais a situação.

Dizem os arautos da chamada “liberdade de escolha” na saúde, que mais não significa do que o Estado pagar ao privado para o substituir na prestação de cuidados de saúde, que o Estado não tem recursos ilimitados e por isso não pode garantir por si só as suas obrigações constitucionais, nomeadamente a de garantir a todos os portugueses o acesso aos cuidados de saúde independentemente das suas condições económicas e sociais.

Na génese desta afirmação está claramente implícita uma linha de ataque ao Serviço Nacional de Saúde que favorece um clima de instabilidade nos serviços públicos de saúde e que leve à aceitação da tese, não demonstrada, por parte dos portugueses de que o privado faz melhor, mais rápido e mais barato.

As alterações em curso ao regime de convenções, que vai inevitavelmente levar a uma maior transferência de meios financeiros para o privado, o programa de redução das listas de espera  cirúrgicas através da  transferência de doentes para os hospitais privados e não pela utilização mais intensiva da capacidade instalada no SNS e os acordos, como é exemplo o da ADSE com o Hospital da Luz, em que o Estado se transforma no principal cliente dos novos grandes hospitais privados, garantindo desta forma o êxito do negócio, são apenas alguns exemplos que deitam por terra o argumento, falso, de que o Estado não pode garantir no futuro o direito aos cuidados de saúde a todos os cidadãos por falta de recursos financeiros.

Argumento que serviu até hoje para dar cobertura à transformação deste sector numa grande área de  negócio onde se movimentam cerca de 15.000 milhões de euros anualmente e fazer recair sobre as famílias portuguesas uma fatia cada vez mais significativa dos custos totais com a saúde. Ainda hoje foi anunciado pelo Eurostat que os portugueses são quem mais gasta em saúde na União Europeia, 6% do seu rendimento mensal, para além do que já pagam nos seus impostos, gastos onde se incluem os medicamentos e as taxas moderadoras, os seguros de saúde e o recurso de um número cada vez maior à iniciativa privada como alternativa ao SNS. Ou seja, nesta país que é já hoje considerado o campeão das desigualdades o acesso aos cuidados de saúde é cada vez mais um privilégio dos ricos.

Por todo país, com fundamentada razão,  cresce um profundo mal-estar e protesto contra uma política que apenas serve os grandes negócios, o grande capital, em detrimento da economia do país e das condições de vida dos trabalhadores e das populações.

A grande manifestação nacional da CGTP-IN do passado dia 5 que juntou mais de 200 mil trabalhadores, das maiores até hoje realizadas, mostra que se alarga a luta de resistência contra esta desastrosa política, tal como evidencia as enormes potencialidades do seu desenvolvimento e do isolamento social e político de um governo que já provou que quer ir longe na destruição das conquistas Abril, dos direitos sociais do mundo trabalho e das condições de vida do povo.

Manifestação grandiosa que comprova a importância da organização e da capacidade de mobilização dos trabalhadores e da sua disponibilidade para a luta, mas também deste Partido que ali estava solidário e actuante. Luta que se tem vindo a alargar a outros sectores que expressam também muito justamente o seu protesto, das empresas às associações militares e aos reformados, dos pescadores aos agricultores e aos pequenos empresários de transportes e aos movimentos de utentes, nomeadamente do sector dos transportes e que daqui saudamos pelo êxito do grande businão de protesto desta semana.

Os perigos de contínua transferência para as populações dos custos da crise com o agravamento do custo de vida e da exploração. A eminência da conclusão dessa encenação de negociação de revisão do Código de Trabalho, aonde apenas se aceita discutir e negociar o que é secundário e aonde as propostas do governo, que servem o capital, são inegociáveis, diz-nos que hora é de continuar a agir e lutar! Porque só a luta pode derrotar os objectivos do governo e do grande patronato e  impedir que vão mais longe nos seus negros propósitos.

O que o governo pretende impor com o apoio e a conivência do patronato, e vamos a ver se como é costume da UGT sob o disfarce de uma negociação, é a liquidação de direitos fundamentais dos trabalhadores portugueses para aumentar a exploração, deixando mãos livres para o patronato despedir com ou sem justa causa, acentuar a precariedade, a diminuição dos salários, o aumento de horários, a fragilização da contratação colectiva.

O governo sabe que as suas propostas são graves. Está consciente do ataque que constituem para os trabalhadores e por isso quer passar ao lado da discussão pública. É inaceitável que numa matéria tão vasta e complexa invoque agora uma urgência que não se vê,  para reduzir o prazo de discussão pública dos habituais trinta dias para apenas vinte dias. O governo tem pressa de pôr em prática o seu cozinhado e a sua pseudo negociação, tem medo da discussão consciente e, ao contrário do que afirma, não quer a participação e a contribuição dos trabalhadores e das suas organizações. Foi isso que se viu com a pseudo negociação que tem levado à destruição da Administração Pública consagrada na Constituição da República, contra os interesses do povo português e dos trabalhadores do Estado.

O conjunto dos diplomas que nestes três anos, a sua maioria absoluta impôs aos trabalhadores da Administração Pública são um inqualificável assalto ao património dos direitos dos trabalhadores que desvirtuam e operam profundas transformações nas relações laborais na Administração Pública.
Transformação, para pior, com a desregulação dos horários, a destruição do sistema de carreiras, o ataque à independência e à autonomia dos trabalhadores, com a precaridade dos vínculos, facilitando os despedimentos por extinção dos postos de trabalho ou o despedimento por inadaptação, na limitação à acção organizada dos trabalhadores e dos seus sindicatos.

O próximo dia 28 de Junho vai ser mais um grandioso dia de luta decidido pela CGTP-IN. Novamente os trabalhadores portugueses, em todos os distritos do país, vão expressar o seu protesto e o seu descontentamento, congregando novos sectores e ampliando a frente de luta em defesa dos direitos históricos dos trabalhadores portugueses e contra a degradação das condições de vida do povo.

Daqui apelo a todos para uma grande participação nessa grande acção geral, em todo o País  e  que em Lisboa se concretiza com uma manifestação do Largo do Camões ao Rossio. A luta não pode parar e os comunistas portugueses, estamos certos, estarão na primeira linha da mobilização e da dinamização da luta dos trabalhadores e do povo para travar o passo a esta ruinosa política e à sua brutal ofensiva de retrocesso social.

O corajoso e consciente NÃO do povo irlandês rebentou como uma bomba nas mãos daqueles que, de forma inaceitável, procuram ardilosamente impor um tratado europeu que já tinha sido rejeitado pelos povos francês e holandês. Se dúvidas pudessem existir da justeza da necessidade de rejeição do agora chamado tratado «de Lisboa», bastaria a primeira – e, diga-se, a mais genuína – reacção dos mentores desta integração capitalista europeia, de profundo desrespeito e desprezo pelo povo irlandês, para comprovar que o NÃO ao tratado é a resposta que se impõe!

Depois do terceiro NÃO à dita «constituição europeia», agora denominada de «tratado de Lisboa», e ao projecto de União Europeia que procura impor – federalista, neoliberal e militarista -, fica ainda mais evidente para os trabalhadores e para os povos dos diferentes países o carácter profundamente antidemocrático desta «integração europeia».

Bem tentam Merkel e Sarkozy, obedientemente seguidos por Sócrates, voltar a usar ou inventar uma nova artimanha para ressuscitar o seu defunto tratado.  No entanto, eles sabem muito bem que basta um país rejeitar uma proposta de tratado para que esta não possa entrar em vigor.

Mais uma vez, encurralados, e como está na sua natureza, os mentores da integração capitalista europeia em vez de respeitarem a vontade democrática, consciente e soberanamente expressa pelo povo irlandês, pondo fim ao processo de ratificação do tratado e enterrando-o de vez como se impõe, de novo conspiram, procurando «isolar» e pressionar o povo irlandês e ganhar tempo, fingindo que nada se passou.

Andam estes senhores aí pelo mundo fora a serem fiscais de eleições e afinal com o resultado das eleições na Irlanda provam que as eleições são boas quando ganham, mas estão verdes e não prestam quando perdem!

Há que denunciar firmemente estas escandalosas e inadmissíveis intenções e golpadas antidemocráticas, em que o Governo PS, depois de ter impedido o povo português de se pronunciar em referendo sobre o tratado, continua activamente empenhado.

O NÃO do povo irlandês foi um NÂO dos trabalhadores, dos pequenos agricultores e pescadores, daqueles que mais perderam e perdem com as políticas da União Europeia. Um NÃO em defesa da soberania nacional e da democracia, pelo direito de cada povo decidir do seu presente e futuro, pelo direito a produzir, pelos direitos laborais e sociais, pelos serviços públicos, pela paz.

Saudamos o povo irlandês pela sua corajosa e consciente decisão, que é um valioso contributo para impedir a concretização desse sombrio projecto de tratado que visa lançar as bases de um «super-estado» imperialista em estreita colaboração com a NATO e os EUA.

Como há muito apontámos, a ruptura com este projecto de União Europeia não surgirá das instituições supranacionais da UE dominadas pelo grande capital e pelas forças políticas ao seu serviço. Aos trabalhadores e aos povos compete essa tarefa!

Mais de três anos de governo do PS confirmam, mais uma vez, a falência das políticas de direita na solução dos problemas nacionais. Hoje muitos mais portugueses reconhecem e compreendem que o bloco político central que tem governado o país nas últimas três décadas prossegue as mesmas políticas, com idênticas soluções e os mesmos nefastos resultados.

O contínuo atraso relativo do país, o fraco ou nulo crescimento em anos consecutivos, a degradação da nossa estrutura produtiva, as persistentes e inaceitáveis desigualdades sociais, os elevados níveis de pobreza, a agudização de todos os problemas sociais, estão aí para o testar. Cada vez mais portugueses estão a tomar consciência que a luta por uma alternativa de esquerda à política de direita é a tarefa das tarefas para criar as condições para a solução dos problemas do país. Que não há saída para a solução dos problemas dos portugueses sem romper o ciclo vicioso do rotativismo desta alternância sem alternativa, entre PS e PSD, sozinhos ou acompanhados com o CDS.

Por isso, hoje mais portugueses estão a apoiar o PCP e a sua luta por uma alternativa de esquerda. Alternativa que significa necessariamente a ruptura com as políticas e orientações fundamentais do bloco político central que tem governado o país nestes anos.

É hoje muito evidente que aqueles que há meia dúzia de meses faziam planos de governo para toda a próxima década estão agora a braços com o seu crescente isolamento social e político. E aqueles que nos davam como um Partido liquidado, passaram a levantar o espantalho do perigo do reforço comunista.

Reconhecem uns e outros que estamos a crescer e passaram a temer pelo seu monopólio de poder no país. É verdade que estamos a crescer e nos estamos a reforçar e isso é um bem e não um mal para os trabalhadores, para o povo e para o país.

É por isso que o que hoje verdadeiramente os preocupa não são os problemas do país, mas manter o poder a todo o custo para garantir intocável o bloco central dos interesses, o grande bloco do partido único do grande capital económico e financeiro. Têm medo que muitos portugueses um dia façam corresponder o voto à sua luta e protesto.

Por isso as suas propostas são propostas do reforço da “cooperação estratégica” como já defende o PSD de Manuela Ferreira Leite e falam já em reeditar uma nova aliança com o PS para governar.

Mas as suas preocupações dizem-nos também que vamos no rumo certo. No rumo que conduz à quotidiana defesa e ligação aos interesses dos trabalhadores e das populações. No rumo da dinamização e reforço da luta de massas e de resistência contra a política de direita e de exigência e resposta aos problemas concretos dos trabalhadores e do povo.

Remando sempre, mesmo contra a maré e no meio de um mar das profetizadas inevitabilidades.

No rumo da luta pela exigência de uma nova política e da a afirmação e credibilização no seio das massas da política alternativa que queremos e propomos para o país. Vamos continuar nesse rumo que nos afirma e confirma como a grande força da Oposição à politica de direita em Portugal e como Partido de poder e alternativa e que tem no seu Programa uma proposta de Democracia Avançada, a resposta aos problemas dos trabalhadores, do povo e do país.

O país precisa de uma verdadeira alternativa política de esquerda, com uma política alternativa, uma verdadeira alternativa que se concretizará tanto mais cedo quanto mais for forte e determinado for o apoio ao PCP. 

Nós temos confiança que com este Partido Comunista Português e a luta dos trabalhadores e do povo seremos capazes de abrir os caminhos da esperança para um  Portugal mais justo, mais fraterno e mais desenvolvido! 

 

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