Intervenção de

Boris Ieltsin - Intervenção de Bernardino Soares na AR

Voto n.º 95/X, de pesar pelo falecimento de Boris Ieltsin

 

Sr. Presidente,
Srs. Deputados:

Mais uma vez, o CDS utiliza o voto de pesar não para manifestar pesar mas como arma de arremesso político para procurar fazer um debate sobre outro tema que não o pesar pela morte de alguém.

Infelizmente, outros partidos, designadamente o Partido Socialista, têm colaborado nesta forma de actuação, que em nada prestigia os votos de pesar da Assembleia da República.

Boris Ieltsin foi, objectivamente, um firme aliado dos interesses do Ocidente e dos Estados Unidos da América na interferência na situação política interna da então União Soviética. Foi um instrumento muito útil, naquele período de fim da Guerra Fria e de transição para outro momento político na vida política mundial.

Foi, para o seu país, aquele que desencadeou uma política de desastre económico e social que fez com que - vejam bem! - a esperança média de vida, na Rússia, tenha diminuído, por essa altura, 10 anos.

Foi aquele que desencadeou crises militares e conflitos regionais, que até hoje se arrastam e que tanto sofrimento têm trazido para o povo daquelas regiões.

Foi aquele que - vejam bem o seu carácter democrático! - mandou bombardear o Parlamento eleito, quando ele se opôs a algumas das suas decisões.

Aí está o exemplo de democracia que o CDS, o PSD e o PS querem hoje aqui valorizar!

Foi aquele que transferiu o património público - o qual, bem ou mal, pertencia ao povo e ao Estado daquele país - para a mão de um grupo de oligarcas que circulavam à sua volta e que fizeram, de um dia para o outro, grandes fortunas, que ainda hoje se mantêm muitas vezes ligadas a actividades e organizações criminosas.

Por isso, não poderemos votar a favor deste voto de pesar.

Não votaremos a favor deste voto de pesar, não por falta de respeito pela morte de qualquer ser humano mas porque ele não é objectivamente um voto de pesar. É, sim, a tentativa de impor uma verdade que não é verdadeira e que, por isso, vai merecer o nosso voto contra.

 

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