Audição sobre reformados e pensionistas

As nossas cordiais saudações a todos os presentes e um particular agradecimento a todas as instituições e organizações sociais que nos honraram com a sua presença e opinião nesta audição sobre os problemas com que os reformados e pensionistas estão confrontados. Opiniões que tomaremos em devida conta para o nosso trabalho futuro.

O Governo tem penalizado fortemente os reformados e pensionistas do sector privado e da Administração Pública através da deliberada opção pela desvalorização do valor das suas reformas, pelo aumento da carga fiscal em sede de IRS a que se juntam o aumento do custo de vida, particularmente em resultado do continuado aumento dos preços dos bens e serviços essenciais.

O brutal agravamento das condições de vida e o alastramento das situações de pobreza entre os reformados e idosos não resultam de “factores externos” como alguns também agora pretendem fazer crer, para mais uma vez iludirem as causas dos problemas e os caminhos que enfrentem de facto esta preocupante realidade e a invertam.  A gravidade da situação social existente tem na sua génese as opções políticas do actual Governo, assentes numa injusta distribuição do rendimento nacional para quem trabalha e para quem, após uma vida de trabalho, se reforma.

O PCP apresentou na Assembleia da República, em 12 de Outubro de 2007 um projecto de Resolução visando a garantia e reforço dos direitos das pessoas idosas. O PCP propunha para 2008 uma revalorização das pensões e reformas em valores absolutos que permitissem enfrentar a pobreza e garantir a autonomia económica dos reformados e idosos. O que fez o Governo do PS/Sócrates?

Por um lado, rejeitou a proposta do PCP que em sede de Orçamento de Estado propunha para 2008 um aumento de 4% para a pensão social e dos agrícolas e para as reformas de valor igual ou inferior a 611 euros; 3% de aumento para as pensões inferiores ou iguais a 2 444 euros; 2,5% de aumento para as pensões de valor superior a 2 444 euros.

Por outro lado, optou por um aumento de miséria para as reformas e pensões:  2,4% para as pensões inferiores a 611,12 euros; 1,9% para as pensões de montantes superiores a 611,12 euros e inferior ou igual a 2 444,46 euros; 1,65% para as pensões de montante superior a 2 444,46 euros.  

Optou o governo do PS, por impor os efeitos perniciosos da sua “Reforma da Segurança Social”, condicionando a actualização das reformas quer a um “indexante” cujo valor é inferior ao salário mínimo nacional, quer à evolução da economia, a que acresce uma negativa fórmula de cálculo para quem inicia a sua situação de reformado. Todos estes factores contribuem para a desvalorização do valor das reformas e pensões e que vai contribuir para que persistam, no futuro, os elevados níveis de pobreza neste grupo social.

Foi em função da aplicação destes critérios que os pensionistas com carreiras contributivas inferiores a 15 anos tiveram um aumento diário, em 2008, de 0,21 cêntimos; para carreiras contributivas entre os 15 e os 20 anos um aumento diário de 23 cêntimos; para carreiras contributivas, entre 21 e 30 anos de 26 cêntimos e a todos aqueles com mais de 31 anos de descontos o aumento foi de 32 cêntimos por dia. Uma fartura de aumentos de miséria!

O PCP opôs-se e opõe-se a tais opções, designadamente à opção do Governo de fazer condicionar a actualização do valor das reformas à taxa de inflação e ao crescimento do Produto Interno Bruto. Oposição que é tanto mais justificada quando os lucros dos grandes grupos económicos e financeiros não têm limite e engordam à custa das dificuldades dos trabalhadores, dos reformados e das populações em geral.

Os valores destes aumentos nunca estiveram adequados à reposição do poder de compra e, por isso, em Janeiro de 2008 o PCP tomou de novo a iniciativa com a apresentação de um projecto de aumento extraordinário das pensões e reformas.

Ao contrário do que afirma, o governo com as suas políticas não só não está a ser enfrentar a pobreza entre os reformados e idosos, como empurra cada vez mais reformados para esta situação. Sucedem-se os exemplos dos que estão sujeitos a graves carências alimentares e mesmo de fome, mas também dos que não tem dinheiro para comprar todos os medicamentos de que necessitam e dos que pensam duas vezes para decidir qual é a quantidade de pão, de fruta ou de leite que podem comprar para sobrar para os medicamentos.

Situação agravada pela drástica redução do poder de compra das reformas destes primeiros meses de 2008. Redução que se concretiza também com o aumento da carga fiscal, nomeadamente em sede de IRS.   

Aos aposentados da Administração Pública o governo impôs aumentos ainda mais baixos.
Entre 2007 e 2008 o aumento da pensão média foi de apenas 1,4% o que tem representando uma diminuição do poder de compra da pensão média destes reformados.

O PCP considera que a actualização do valor das pensões tem de estar em consonância com a estrutura de despesas dos reformados, sabendo-se como se sabe que o peso da alimentação, da habitação e da saúde representam, por exemplo num casal idoso, cerca de 65% do total das despesas familiares, pelo que a taxa de inflação média tem que ser majorada para fazer face às principais despesas dos reformados.

O PCP desafia o Governo do PS avançar com uma justa actualização extraordinária do valor das pensões, medida que se tornou uma emergência social, perante os mais recentes aumentos dos preços que fazem ultrapassar em muito a projecção governamental de inflação de 2,1% que serviu de base à actualização das pensões e reformas para 2008.

O PCP considera que os valores médios das pensões (333 euros para a velhice; 289 euros para a invalidez; 165 euros para a de sobrevivência, valores que dizem respeito a cerca de 2 milhões e setecentos mil reformados, reportados a 31.12.2006) constituem um libelo acusatório a todos os Governos dos últimos anos e cujas políticas são a causa da existência, entre nós, de cerca de 2 milhões de pobres e do facto de Portugal continuar a ser o país mais desigual da União Europeia a 25.

As profundas alterações promovidas pelo governo no domínio do Sistema Público de Segurança Social não se ficam pela desvalorização das reformas e pensões, elas têm também uma forte repercussão na redução dos níveis de protecção social dos reformados e pensionistas tanto do sector privado, como da Administração Pública.

O governo acena com o complemento social para os idosos, mas é cada vez mais evidente o seu fraco alcance social no combate à pobreza. A larga maioria dos que se encontram nessa situação fica de fora e muitos dos que ao complemento têm acesso recebem um valor ridículo. Afinal, há 80 mil e não 300 mil como fala a propaganda e alguns destes com complementos de um euro, para compor o ramalhete da estatística.

Foi por isso que o PCP pediu apreciação parlamentar do decreto que o criou, apresentando um conjunto de propostas de alteração visando, nomeadamente a retirada da consideração dos rendimentos dos filhos para efeitos de atribuição desta prestação, tal como a retirada do direito da obrigatoriedade de declaração de disponibilidade para o exercício do direito de crédito contra os filhos através de acção judicial. Propostas rejeitadas pelo PS!

Igualmente com a sua “reforma da segurança social”, o governo leva a cabo a privatização da Rede de Equipamentos e Serviços Sociais de Apoio, incluindo para a terceira idade, tal como favorece a privatização da Acção Social.

O PCP considera que o Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Públicos e o Programa de Investimentos nos Equipamentos Públicos não visa o necessário e imprescindível reforço da rede pública, mas endossar as responsabilidades que ao Estado incumbe para outras entidades e para o sector privado.

Não há efectiva igualdade no acesso aos equipamentos sociais de apoio à terceira idade sem uma verdadeira aposta na criação de uma Rede Pública, complementada com a intervenção das instituições de solidariedade social e com o sector privado. É também por isso que aumenta a pressão junto das autarquias para que elas intervenham na resolução das situações extremas de pobreza, ao mesmo tempo que se responsabiliza a sociedade em geral pela criação de “estruturas” de apoio aos mais pobres (recolha de alimentos, de vestuário, etc.). 

Permitam-me uma observação e uma reflexão: reconheça-se os sentimentos e a acção generosos por parte de milhares de pessoas e instituições no combate à pobreza. Mas então porque é que num mundo onde se cria mais riqueza, onde há fascinantes avanços da humanidade nos domínios da ciência e da técnica, com tanto esforço solidário e generoso a fome e a pobreza aumentam no nosso país e no mundo?

Porque a riqueza se concentra nas mãos dum punhado de indivíduos, porque as políticas económicas e sociais dos governos privilegiam esse pequeno grupo de senhores das multinacionais , de grupos económicos e do capital financeiro promovendo uma injusta e iníqua distribuição da riqueza.

Há uma generosidade muito grande por parte de milhares de pessoas no combate à pobreza. Mas então porque é que a pobreza aumenta?  É que sem outra política económica e social não há saída! Porque há mais riqueza reduzida? Tantos avanços da ciência e da tecnologia? 

É neste quadro que crescentemente se remete para as famílias a responsabilidade pelo apoio aos seus idosos, confundindo deliberadamente o papel das famílias enquanto espaço afectivo e de inter-ajuda e se menospreza o inalienável direito a uma justa retribuição aos reformados e idosos em resultado de uma vida de trabalho e o direito a uma justa redistribuição do rendimento nacional que é da responsabilidade do Estado.

O PCP reitera a convicção de que é urgente e necessário romper com as políticas económicas e sociais centradas na total falta de solidariedade do Estado para com os que criam riqueza do país – os trabalhadores – omitindo as suas obrigações e deveres constitucionais, nomeadamente a garantia dos direitos dos que após uma vida de trabalho se reformam.

O PCP bate-se:

- Pelo direito de utilização em todo o território nacional de transportes colectivos com descontos de 50% a partir dos 65 anos, a comparticipação a 100% dos medicamentos para doenças crónicas e garantia de acesso a tratamentos específicos reforçando o apoio financeiro, tal como defende o investimento e alargamento da Rede Pública de qualidade de apoio à terceira idade e a preços acessíveis, sem prejuízo do papel complementar das instituições de solidariedade social;
- novas políticas que apostem na valorização da participação social e política desta camada social e no apoio às suas organizações representativas.

Mas, a acção do PCP não se substitui à acção dos reformados e pensionistas e das suas organizações. Cabe-lhes intervirem na defesa dos seus direitos e pela garantia do seu direito de participação na vida social e política do País, aliás como o têm vindo a fazer. O PCP está solidário com a sua luta e a luta que as Associações de Reformados e as suas organizações representativas têm vindo a desenvolver e exorta o governo do PS a tomar em devida conta as reclamações dos reformados e pensionistas e das suas organizações representativas que, em 29 de Março, trouxeram os seus protestos às ruas de Lisboa, numa iniciativa do MURPI que contou com mais de três mil reformados.

O PCP saúda igualmente o XIV Pic-nicão,  realizado no passado domingo na Marinha Grande com a presença de cinco mil reformados, no qual reiteraram as suas reivindicações e a exigência de uma nova política para os idosos e reformados, nomeadamente a urgente revalorização das reformas e pensões, bem como a exigência do reconhecimento do MURPI como parceiro social, com direito a tempo de antena para dar voz aos anseios e aspirações dos reformados e pensionistas.

A mais recente evolução da situação económica e social do país mostra o fracasso da política do governo de José Sócrates. Cada vez mais sectores vitais da actividade do nosso país e cada vez mais portugueses sofrem as consequências das erradas políticas que o governo do PS tem vindo a concretizar nestes seus mais de três anos de governo. Por todo país cresce um profundo mal-estar e protesto contra uma política que apenas serve os grandes interesses, os grandes negócios, o grande capital, em detrimento da economia do país e das condições de vida dos trabalhadores, dos pequenos e médios empresários, pescadores, agricultores e de todas as outras camadas da população.

A grande manifestação nacional da CGTP-IN, do passado dia 5, que juntou em Lisboa mais de 200 mil trabalhadores revela não só esse mal-estar profundo e a indignação em relação a uma política e a um governo que está a promover o empobrecimento geral dos portugueses e a liquidar direitos essenciais dos trabalhadores, mas as enormes potencialidades de desenvolvimento da luta, agora que se impõe reforçar ainda mais no momento em que o governo se apressa para liquidar, com a revisão do Código de Trabalho, direitos fundamentais dos trabalhadores portugueses e aumentar a exploração, acentuar a precariedade, a diminuição dos salários, o aumento de horários a fragilização da contratação colectiva. Com tal proposta a ir por diante o Governo quer criar novos pobres agora e quando forem reformados.

Não é por acaso que o governo de José Sócrates não se opôs à recente aprovação da Directiva Tempo de Trabalho da União Europeia que permite, em certas condições, o trabalho semanal até 60 ou 65 horas. Outros estiveram contra, mas o Governo do PS não. E não esteve porque a sua proposta para o Código de Trabalho vai no mesmo sentido.

José Sócrates reagiu com a arrogância a que já habituou o país a uma manifestação de milhares e milhares de trabalhadores, mas tal postura não vai impressionar quem convicção e com a certeza da justeza do seu combate está na luta para derrotar esse mais que vergonhoso processo de alteração para pior do Código de Trabalho.

É com esse grande objectivo que no próximo dia 28 de Junho, mais uma vez os trabalhadores portugueses, em todo o país, vão expressar o seu protesto e o seu descontentamento, congregando novos sectores e ampliando a frente de luta em defesa dos direitos históricos dos trabalhadores portugueses. Os reformados e pensionistas também devem dizer e estar presentes. Uma batalha na qual os comunistas portugueses estarão, assumindo não só a sua inequívoca posição de solidariedade, mas também de mobilização e dinamização da luta. 

O fracasso da política do governo revela-se hoje em todos os domínios. É cada vez mais patente a sua incapacidade na resolução dos principais problemas nacionais, ao mesmo tempo se acentuam as injustiças e as desigualdades sociais. 

No plano social, o desemprego com este governo do PS elevou-se para níveis que há muito não eram vistos e os salários são esmagados e desvalorizados por uma política deliberadamente marcada pela preocupação da contenção salarial e de ataque aos direitos laborais e sociais dos trabalhadores.

A vida tornou-se um tormento para milhões de famílias com os novos aumentos recorde dos juros do crédito da habitação, com os aumentos dos produtos alimentares e dos combustíveis que estão a degradar seriamente as suas vidas.

A incerteza e a preocupação estão presentes no dia a dia de milhões de portugueses ao mesmo tempo que progride a concentração da riqueza nas mãos dos grupos económicos e financeiros. Por má sorte duns e boa sorte doutros? Azar terem nascido assim? Não, não! Porque objectivamente há políticas e responsáveis concretos.

Com o governo do PS de José Sócrates não são apenas três anos de sacrifícios para os trabalhadores e para o povo é um mandato inteiro sem resultados e em permanente recuo nas condições de vida.

Veja-se o que continua a acontecer no sector da saúde. O anúncio da construção de mais 16 hospitais privados até 2009 e o processo de concentração nos grandes grupos privados que se verifica neste momento ao nível dos meios de diagnóstico é o sinal, mais evidente, que a substituição do Estado nas suas responsabilidades nas áreas sociais, por privados, está em marcha acelerada.

Este é o preço que o Estado está a pagar pelos compromissos assumidos entre o poder político e o poder económico. E qual vai ser o preço que os portugueses vão pagar?

Se dúvidas ainda pudessem existir, aí está o Estado a pagar milhões de euros aos privados para que estes assegurem dezenas de milhares de cirurgias nos seus hospitais, quando os blocos dos hospitais públicos não funcionam integralmente, ao mesmo tempo que o governo do PS se prepara para aprovar um novo decreto-lei que estabelece a celebração de convenções, que mais não é do que a entrega a privados de um conjunto de actividades que poderiam, com ganhos de toda ordem, serem realizadas nos serviços públicos de saúde.

É que por mais que falem em transparência não convencem ninguém do facto de se o serviço público pode concorrer em pé de igualdade com o privado a essas convenções é porque está em condições de garantir esse serviço, não se justificando a convenção. Então porquê convencionar a não ser para transferir milhões de euros para os grupos privados?
 
Ao contrário do que o governo afirma, não estamos perante o princípio da complementaridade. Estamos sim numa caminhada rumo à privatização dos meios do SNS, enfraquecendo progressivamente as suas capacidades e abrindo espaço aos privados, com prejuízos significativos para os portugueses que cada vez mais são confrontados com dificuldades no acesso aos cuidados de saúde e na qualidade dos serviços prestados.   

Na economia, os sectores produtivos e o mundo das actividades que envolvem as pequenas e médias empresas passaram a sentir de forma exacerbada os efeitos da excessiva valorização do euro, dos custos agravados dos combustíveis, da energia e do crédito e de anos consecutivos de políticas de restrição orçamental e de financeirização da economia nacional.

Há sectores que hoje lutam pela sua sobrevivência e a perspectiva é da contínua liquidação do aparelho produtivo nacional, nomeadamente nos sectores da agricultura, das pescas e da indústria nacionais.

A propaganda já não consegue disfarçar o retrocesso verificado na situação económica do país. Todas as previsões de crescimento económico, investimento, exportações recuam para níveis crescentemente preocupantes, mas o governo continua a afirmar que é necessário manter o mesmo rumo com uma política que já deu provas de levar ao afundamento do país.

Ao contrário do que o governo vinha afirmando o país está agora mais vulnerável e pior preparado para enfrentar uma crise que assume cada vez mais contornos de grande preocupação. A crise dos combustíveis tornou ainda mais evidentes essas fragilidades do país e real dimensão da grave situação económica e social da responsabilidade exclusiva do governo do PS e da política de direita.

O governo, perante os problemas e do alto da sua arrogância, só actua por reacção e sem os resolver. Em vez de antecipar medidas e responder à difícil situação que enfrentam os diversos sectores da economia nacional, os pequenos e médios empresários e as famílias, tomando as medidas extraordinárias que a situação extraordinária reclama e exige, passou a andar a reboque dos acontecimentos, à espera que quem luta se canse!
 
Foi assim com o sector das pescas. Só ao fim de seis dias de paralisação total o governo se dispôs a considerar os seus problemas e de forma insatisfatória. O mesmo para o sector dos transportes. Só quando a situação assumiu proporções dramáticas e com o país na eminência de paralisar é que o governo descobriu que o sector dos transportes também precisava de medidas.

Meses de total inércia foi o que o país viu. Mesmo perante a imperiosa necessidade de atacar a especulação das petrolíferas, que estão a lucrar abusivamente com a crise nacional, fez vista grossa e passou a justificar o injustificável e a dar cobertura às suas actividades especulativas.

Depois de meses de denuncia, nomeadamente do PCP que vem colocando a necessidade de responder à situação, antecipando medidas e acções de forma a reduzir ao mínimo os impactos desfavoráveis na economia nacional e na vida dos portugueses, o governo veio com a farsa do pedido do relatório à Autoridade da Concorrência. Um relatório que nada trouxe de novo.

O governo não vê, as entidades reguladoras não vêem os lucros extraordinários obtidos à custa dos portugueses, resultantes da forma como as petrolíferas estabelecem o preço dos combustíveis. O governo não vê e os que a seu mando deviam ver e não vêem, os lucros especulativos das petrolíferas que resultam do chamado “ efeito de stock”.

Ninguém vê que, por exemplo, a GALP utiliza hoje na refinação petróleo comprado há dois meses e meio, portanto a preços mais baixos e que faz o preço dos combustíveis como se o tivesse comprado a semana passada. Ninguém vê e acham normal que o país pague o lucro especulativo que resulta deste expediente inaceitável. Esta diferença resultou, para além do lucro habitual, em mais 27 milhões de euros de lucro extraordinário em 2007 e mais 69 milhões de euros só nos primeiros três meses deste ano.

Este é o resultado também da privatização e liberalização do mercado dos combustíveis, duas soluções que servem na perfeição os grandes interesses e que favorecem a especulação. Se a Galp não tivesse sido privatizada, entregue ao rico dos ricos/Amorim, aos espanhóis da Repsol, aos italianos da ENI, se tivesse continuado pública quanto não teria ganho o país? 

O governo tem feito tudo para fugir à resolução deste problema do lucro oportunista das petrolíferas! Já percebemos que a solução do Governo é sempre a mesma. Os lucros, mesmo que sejam pura pirataria especulativa, não são para tocar, são para defender, enquanto o aumento do custo de vida pode continuar.

Para o governo e a direita, nas propostas e nos discursos, falar dos lucros é sacrilégio!

O PCP apresentou diversas propostas, entre as quais a de um imposto extraordinário sobre os lucros especulativos. A criação de um imposto extraordinário sobre os lucros, com origem no “efeito de stock” a cobrar trimestralmente e destinado a suportar as medidas de apoio aos sectores económicos mais atingidos com o aumento dos combustíveis. Um imposto extraordinário que não tem qualquer reflexo na actividade produtiva da empresa, nem nos custos que contribuem para a formação do preço.

A especulação só se impede se deixar de ser rendível para quem a faz. Por isso propomos taxar este lucro abusivo para obrigar a que o preço praticado seja mais baixo.

O governo, os seus arautos, os seus protegidos e colocados esforçam-se e tudo fazem para justificar o desaire das suas políticas com a evolução da situação internacional, mas a evolução da situação externa está muito longe de explicar a difícil situação que o país enfrenta. Não é a evolução da situação internacional de hoje que explica a continuada degradação dos sectores produtivos nacionais, os persistentes baixos índices de crescimento da economia dos últimos anos e o continuado atraso relativo do país em relação à média europeia onde as consequências sociais são mais dramáticas.

É à política de direita, que está na origem da continuada crise que o país enfrenta, que é preciso pôr fim.

A integração capitalista europeia e o seu projecto de aprofundamento do neoliberalismo, do federalismo e do militarismo sofre um novo revés com a derrota do projecto do Tratado de Lisboa. A vitória do NÃO na Irlanda pôs fim à burla em curso de fazer ressuscitar a dita constituição europeia que os povos da França e Holanda já tinham recusado e que os líderes das potências europeias e dos grupos económicos e financeiros teimam em impor aos povos. O resultado da Irlanda põe em evidência as razões dos medos que levaram os principais responsáveis pela elaboração do Tratado a impedir que os povos dos países da União Europeia se pronunciassem sobre o projecto do novo Tratado.

Mas este resultado constitui também uma significativa derrota dos que, como PS e PSD, no nosso país tudo fizeram, ao contrário do que haviam prometido, para retirar aos portugueses o direito de decidir sobre uma questão tão decisiva para o seu futuro. A derrota do Tratado de Lisboa é, assim, uma derrota do Governo do PS/Sócrates e de todos quantos insistiram em atrelar o nosso país a um Tratado que servia as grandes potências e o seu “Super Estado” e que punha em causa a soberania nacional. 

O PCP chama, desde já, a atenção para as manobras dos que, à semelhança do que sucedeu com a rejeição popular na França e na Holanda, pretendem manter a ratificação de um Tratado que está juridicamente morto. Estes mandantes da União Europeia acham boas as eleições quando servem os seus interesses. Acham-nas más e não valem quando perdem.

Neste momento saudamos o povo da Irlanda pelo importante contributo dado com a sua participação à luta para travar a ofensiva contra os direitos sociais e laborais que está em curso, nomeadamente para conseguir novas vitórias na luta contra propostas graves que estão em debate, com destaque para a directiva do retorno e da vergonha sobre os imigrantes, a directiva de prolongamento do tempo de trabalho até às 65 horas semanais, as directivas sobre liberalizações de serviços públicos e outros sectores fundamentais ao desenvolvimento.

O PCP reafirma o seu empenhamento na luta por uma outra Europa empenhada na solidariedade, na justiça social, na cooperação entre os povos e países, no respeito pelo princípio de Estados soberanos e iguais em direitos, no desenvolvimento e progresso social, na paz. Tal como reafirma o seu empenhamento na luta por uma alternativa de esquerda para Portugal.

A alternativa de esquerda só possível com uma ruptura clara com esta política e com uma política diferente. Uma política de esquerda!

Não está ali à esquina! Mas é possível construí-la. Basta pensar! Ai deles, ai do PS e do PSD se todos aqueles que sentem e sofrem problemas e dificuldades descobrirem as causas e os causadores. Ai deles se os trabalhadores, os reformados e pensionistas, a juventude, os pequenos e médios empresários e agricultores, se todos os que protestam e lutam ganham consciência de, no futuro, acertar a sua luta com o seu voto! Ai deles se os trabalhadores e o povo português assumem uma consciência mais elevada percebendo quanto importante é o reforço do PCP. Ai deles, não porque alguém lhes faça mal, mas porque se lhes aplicará uma derrota política e eleitoral.

Uma alternativa que só se constrói com uma política alternativa que signifique necessariamente a ruptura com as políticas e orientações fundamentais do bloco político central que tem governado o país nestes anos.

É possível construir um caminho novo para Portugal. Portugal não está condenado ao atraso e o PCP tem confiança na possibilidade da construção de um Portugal com futuro com todos os que estão empenhados em romper com a política de direita. O caminho novo e a solução alternativa de esquerda é possível com o PCP e será tanto mais próxima e viável quanto maior for o seu reforço.

Somos a grande força da oposição à política de direita. Oposição não só em palavras, mas em actos e acção. Seremos, por vontade dos trabalhadores e do povo, a grande força propulsora da mudança – a força imprescindível para a construção de uma verdadeira alternativa de esquerda para Portugal. 

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