Intervenção de Paulo Raimundo na Assembleia de República, Sessão solene do 25 de Abril

Abril é o caminho que é necessário retomar, dos direitos, sonhos e realização

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Senhor Presidente da República,
Senhor Presidente da Assembleia da República,
Senhor Primeiro-Ministro,
Senhores Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça,
do Tribunal Constitucional e do
Supremo Tribunal Administrativo,
Capitães de Abril,
Senhoras e Senhores convidados,
Senhoras e Senhores deputados,

Assinalamos cinquenta anos da Revolução de Abril, esse acontecimento ímpar, que se projecta na actualidade da nossa vida colectiva e é a referência para a construção do presente e do futuro do País.  
 
Gostaria de evocar a coragem e a determinação dos jovens capitães de Abril, nessa madrugada que acordou com uma vigorosa mobilização popular que firmou a Aliança Povo – MFA, e transformou o levantamento militar em Revolução libertadora.

Uma Revolução fruto de um longo caminho de luta e resistência de 48 anos, onde homens e mulheres, na sua maioria jovens, deram tudo, muitos a própria vida. Uma luta onde, com orgulho, o Partido Comunista Português esteve sempre na primeira linha de combate ao regime fascista que sustentava a meia dúzia de famílias que mandavam no País.

A Revolução consagrou liberdades concretas e abriu as portas à democracia política, social, económica e cultural; consagrou direitos políticos, sociais, laborais e civilizacionais; redistribuiu a riqueza de forma mais justa; impôs a justiça social; a igualdade; a terra a quem a trabalha; libertou o País do domínio monopolista; construiu o Poder Local e a autonomia regional; consagrou na lei a igualdade entre homens e mulheres; pôs fim à guerra colonial.

Revolução que optou por uma sociedade ao serviço da maioria em confronto com os interesses de uma minoria.

Essa minoria que tudo fez e faz para destruir conquistas e recuperar o poder perdido, que tudo fez e faz para falsificar e reescrever a história.

Revolução foi sonho, realização e construção, foi valores e esperança numa vida melhor que a contra-revolução e a política de direita procuram negar.  

Abril não é a maioria dos jovens ganharem menos de mil euros de salário.

Abril é a juventude ter condições de viver, trabalhar e fazer a sua vida no seu próprio País.

Abril é o Serviço Nacional de Saúde e a partir dele a garantia de cuidados, tratamentos e acesso a todos à saúde.

É o direito à Escola Pública e aos mais elevados níveis de ensino para todos.

É direito à habitação, não a protecção da banca e dos especuladores.

Abril é Cultura, é a defesa da Natureza e do Ambiente, dos ecossistemas, da água como bem público.

Abril é desenvolvimento científico e tecnológico é pôr Portugal a produzir.

Abril é contra todo o tipo de discriminações.

Abril rejeita o ódio, o racismo e a xenofobia.

Abril libertou o País do fascismo e desse regime da corrupção organizada e silenciada.

Abril retirou o País das mãos de uns poucos que distribuíam entre si a riqueza criada e condenavam o povo à pobreza.

Abril é combate ao poder em grande medida restaurado dos grupos capitalistas e das multinacionais sobre a vida nacional.

Abril é pôr fim à promiscuidade entre o poder económico e o poder político,
a causa funda da corrupção.

Abril é a Constituição da República Portuguesa na vida de todos e todos os dias.
Abril é paz, cooperação e solidariedade entre os povos, é a resolução política dos conflitos.

Abril é a vida justa e a felicidade a que temos direito, e que não são possíveis alcançar com baixos salários, precariedade, horários desregulados, emigração forçada, com a injustiça que afecta particularmente crianças e jovens.

Abril é o caminho que é necessário retomar, pondo fim, ao ciclo da política de direita que tem conduzido o País a crescentes desigualdades.

Este é o grande desafio que está colocado aos democratas e patriotas, aos trabalhadores, ao povo, a todos os que cá vivem e trabalham.

Mas é acima de tudo uma tarefa da juventude, dos que nasceram e cresceram depois da Revolução, dos filhos da madrugada. A tarefa de tomarem nas suas mãos a concretização desse Abril dos direitos, sonhos e realização.

Os trabalhadores lutam por melhores salários, carreiras e respeito; as mulheres batem-se pelos seus direitos; os jovens exigem condições para viver no seu País; os reformados querem uma vida digna; as pessoas ambicionam o direito a ter casa; os pais querem tempo para os seus filhos e direitos das crianças; os imigrantes reivindicam direitos políticos e sociais.

Lutas que são também exigências desse Abril que, como afirmava Álvaro Cunhal, “não é um mero acontecimento passado que lembremos, mas um grande feito histórico que mantém marcas profundas na vida presente e contém experiências e valores indispensáveis para o futuro de Portugal”.

E aí está a vida a confirmar as conquistas, os valores e o exemplo que perduram, resistem e que estiveram e estão presentes em milhares de comemorações do 25 de Abril.

Esses valores, esse Abril que hoje sai à rua, nas comemorações populares nas praças e avenidas de Liberdade em todo o País, numa poderosa afirmação do seu vigor.

Uma resposta clara, viva e emocionante da força que emana do Povo.

Esse Abril que se reafirmará na grande jornada do 1.º de Maio, a jornada do trabalho e dos trabalhadores.

“Podem decretar o fim da arte
É como decretar o fim da chuva.”

Pegando neste poema da Garota Não, atrevo-me a afirmar que: podem decretar o fim de Abril que isso é como decretar o fim da Esperança e é essa Esperança nesse Abril que é preciso retomar, é tal como a música, uma canção sem final, uma canção que se toca e canta, afinada em diferentes formas, tons e por esse povo que é quem mais ordena.

25 de Abril sempre! Fascismo nunca Mais!

Viva o 25 de Abril!

 

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