Intervenção de Bernardino Soares, Presidente do Grupo Parlamentar

Abertura das Jornadas Parlamentares do PCP no distrito de Viseu

Na abertura das Jornadas Parlamentares do PCP que se realizam no distrito de Viseu, Bernardino Soares afirmou na sua intervenção que O PCP está a cumprir os seus compromissos. Apresentou algumas das suas principais propostas para a resolução dos problemas do país e para a correcção das injustiças criadas pelo Governo PS. São exemplos as alterações às normas do Código de Trabalho e da legislação da Administração Pública, do novo regime de financiamento do ensino superior (aliás já agendado para discussão), ou da proposta para o alargamento dos critérios de acesso ao subsídio de desemprego, depois de estas propostas terem sido apresentadas por nós 7 vezes na anterior legislatura e 7 vezes chumbadas pela maioria PS. É assim que se respeita a vontade do povo que nos elegeu: cumprindo os compromissos e traduzindo em propostas a vontade e a necessidade de mudança política.

Senhores e Senhoras Convidados, Camaradas, Senhores e Senhoras Jornalistas

Passaram cerca três meses desde a posse da Assembleia da República e é altura de fazer um primeiro balanço.

A nova configuração do Parlamento reflecte a vontade dos portugueses de não dar maioria absoluta nem ao PS nem aos partidos da direita e naturalmente de ver aplicada outra política que não a da anterior legislatura. Mas essa nova correlação de forças que expressa essa vontade de mudança não se traduziu ainda na alteração das políticas.

O PCP está a cumprir os seus compromissos. Apresentou algumas das suas principais propostas para a resolução dos problemas do país e para a correcção das injustiças criadas pelo Governo PS. São exemplos as alterações às normas do Código de Trabalho e da legislação da Administração Pública, do novo regime de financiamento do ensino superior (aliás já agendado para discussão), ou da proposta para o alargamento dos critérios de acesso ao subsídio de desemprego, depois de estas propostas terem sido apresentadas por nós 7 vezes na anterior legislatura e 7 vezes chumbadas pela maioria PS. É assim que se respeita a vontade do povo que nos elegeu: cumprindo os compromissos e traduzindo em propostas a vontade e a necessidade de mudança política.

Regista-se a ausência quase completa de iniciativa legislativa da parte do PS e do Governo em contraste com a proliferação de anúncios e visitas que o primeiro-ministro e os ministros continuam profusamente a fazer. Mas ao mesmo tempo que não apresenta as suas propostas o PS desencadeou sucessivas operações de mistificação e chantagem, como a da semana passada, procurando por um lado construir uma imagem de vitimização e por outro demonstrar uma vontade de diálogo que não se concretizou, pelo menos com o PCP.

O PS sabe muito bem que não nos furtamos ao diálogo, desde que ele vise reais mudanças na política seguida. Mas não participamos em encenações em que o resultado final pretendido seja legitimar a continuação da mesma política. E até agora não houve qualquer disponibilidade do PS para a inverter.

Ao contrário do que o PS tem vindo a afirmar, a linha divisória não está no Parlamento entre o Governo e a oposição, mas entre os que defendem a política de direita e os que exigem uma política de esquerda.

As matérias que foram aprovadas na generalidade contra a vontade do PS, para além de escassas e até agora quase todas inconclusivas, correspondem a necessidades objectivas de correcção de medidas erradas do Governo PS. Não se compreende, a não ser para obter de forma deliberada e calculista um fictício capital de queixa, que o Governo e o PS tenham passado semanas a invectivar iniciativas meramente aprovadas na generalidade, em vez de, respeitando a nova configuração parlamentar, se empenharem em contribuir para soluções concretas na especialidade e nos textos finais a obter.

Aliás o PS e o Governo, que tanto protestaram contra os adiamentos e suspensões, designadamente a propósito do Código Contributivo, já promoveram pelo menos três adiamentos de entrada em vigor: do Código Florestal, do regime das taxas dos municípios e do regime do processo de inventário, para além da apressada revogação de duas taxas moderadoras criadas por si mesmo no anterior mandato.

E há de facto nos últimos dias convergências na Assembleia da República. Convergiram PS e PSD para adiar a votação na especialidade da eliminação do Pagamento Especial por Conta da devolução mais célere do IVA às pequenas e médias empresas. Convergiram PS e PSD no bloqueio ao agendamento, sucessivamente proposto pelo PCP em conferência de líderes, dos projectos de alargamento do subsídio de desemprego. E certamente se preparam outros e mais amplos acordos visando manter e aprofundar a política de direita.

No momento particular que vivemos da vida política e do calendário parlamentar, o Grupo Parlamentar do PCP realiza as suas Jornadas pela primeira vez no distrito de Viseu, um distrito fortemente penalizado pela política de direita e em que se cruzam diversas questões de importância nacional, como a situação dos sectores produtivos, as acessibilidades e infra-estruturas fundamentais, o Ensino, os direitos dos trabalhadores, a situação das micro, pequenas e médias empresas, a situação das instituições de saúde e o ambiente.

E naturalmente, entre outras matérias, a preparação da discussão do Orçamento do Estado para 2010 ocupará parte substancial dos nossos trabalhos e da nossa reflexão. É o momento de grandes opções para o ano em curso e também para os próximos. É o momento em que se clarificará se a intenção do Governo é continuar a política de direita e quem o apoiará nessa orientação.

Como sempre, estas Jornadas far-se-ão em amplo contacto com a realidade e com muitas e diversas instituições relevantes deste distrito de onde retiraremos certamente muita matéria para a intervenção parlamentar.

Vamos estar com uma cooperativa agrícola de produção de fruta e vinho, com representantes dos baldios e de associações de agropecuária, com a Associação de Comerciantes de Viseu para debater as suas questões específicas e também as condições para o desenvolvimento da cidade, com o Instituto Politécnico, instituição de referência do ensino superior na região, com serviços de saúde no Hospital de Lamego e no Centro de Saúde de Vouzela, numa unidade industrial de importância nacional – a Citröen – com os representantes de trabalhadores dessa unidade e com a União de Sindicatos de Viseu, nas Termas de S. Pedro do Sul e ainda na Urgeiriça contactando com o grave problema ambiental e de saúde pública aí existente.

Assim damos corpo e conteúdo ao exercício pleno do mandato parlamentar.

Ao trabalho.

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