Declaração de Albano Nunes, membro do Secretariado do Comité Central, Conferência de Imprensa

A paz e o desarmamento - 56 anos depois de Hiroshima

1. Cumprindo-se hoje mais um aniversário sobre o lançamento em Hiroshima da primeira bomba atómica, o PCP considera oportuno associar-se a quantos, no Japão e por todo o mundo, assinalam a trágica efeméride de 6 de Agosto de 1945.

Fazemo-lo com um convite à reflexão sobre um dos acontecimentos mais trágicos que a história contemporânea regista, sobre um dos mais monstruosos crimes praticados pelo imperialismo, sobre o horror a que pode conduzir o militarismo e a guerra. Centenas de milhar de pessoas tiveram morte imediata , morreram no meio de indizíveis sofrimentos ou ficaram para sempre marcadas pelos terríveis efeitos da radioactividade que ainda hoje,56 anos depois, se fazem cruelmente sentir. Não é por acaso que é no Japão que existe um dos mais poderosos e massivos movimentos pela abolição das armas nucleares e pela paz que daqui fraternalmente saudamos.

Manter viva a memória da monstruosa dimensão do crime praticado pelos EUA em Hiroshima, e três dias depois em Nagasaki - tanto mais grave quanto nenhuma consideração de ordem militar o justificava pois o Japão imperial estava já derrotado - é indispensável para impedir que semelhante tragédia volte a repetir-se.

2. É necessário e urgente que a vigilância da opinião pública desperte para os perigos que resultam da existência de enormes arsenais nucleares, e que a luta dos povos pela paz e o desarmamento, e em primeiro lugar o desarmamento nuclear, ganhe um novo e vigoroso impulso. Tanto mais quanto os EUA e a NATO, persistindo em estratégias militares ofensivas e na teoria da " dissuasão nuclear", não só recusam o objectivo da completa abolição das armas nucleares, como prosseguem linhas de investigação e aperfeiçoamento das armas nucleares, preparando-se mesmo para a sua instalação no espaço. Uma tal situação, que ignora cinicamente a trágica lição de Hiroshima, torna imperioso e urgente que na agenda da ONU e demais fóruns internacionais seja de novo colocado o problemas das armas nucleares e adoptado um programa visando a sua total eliminação. O PCP continuará a bater-se firmemente por um tal objectivo e a intervir, dentro e fora das instituições, para que, dando cumprimento à letra e espírito da Constituição Portuguesa, a voz do Estado Português se faça ouvir com independência e clareza na arena internacional, em defesa da paz e do desarmamento, e em primeiro lugar do desarmamento nuclear.

3. O PCP alerta para a gravidade do projeto norte-americano dito de "Defesa Anti Míssil" que a administração Bush se obstina em implementar, apesar do coro de protestos internacionais e divergências com os próprios aliados, apesar do movimento de crítica nos próprios EUA de que é significativa expressão a condenação deste projecto por 50 cientistas norte-americanos laureados com o Prémio Nobel. Visando assegurar a supremacia militar incontestada dos EUA, um tal projecto afronta provocatoriamente a legalidade internacional e arrasta consigo o desmantelamento do Tratado ABM de 1972, uma nova corrida aos armamentos nucleares, o agravamento da tensão internacional, o reavivar da ameaça de holocausto nuclear.

O PCP considera por isso com a maior seriedade a necessidade de isolar a administração dos EUA na sua arrogância imperial e neste seu insensato projecto agressivo. E considera que o Governo português tem a mais estrita obrigação de esclarecer cabal e frontalmente as dúvidas suscitadas pelas declarações do ex-Embaixador dos EUA em Portugal quanto à disponibilidade que teria sido manifestada para uma eventual utilização de território nacional pelo Sistema Anti-Míssil norte-americano.

O que veio a público quase três semanas depois do requerimento apresentado pelo PCP na Assembléia da República é manifestamente insuficiente. Seja em termos das responsabilidades internacionais de Portugal, seja em termos de soberania nacional, esta é uma questão demasiado grave para que sobre ela possa subsistir a mínima dúvida ou ambiguidade.

4. 56 anos passados sobre a tragédia de Hiroshima e Nagasaki continuam a ser delapidados recursos colossais na produção de armas cada vez mais sofisticadas, mais mortíferas, mais destruidoras. Os grandes consórcios da indústria armamentista disputam ferozmente entre si as maiores fatias do florescente mercado de armamentos. Em ligação com os negócios da morte, desencadeiam-se guerras de agressão, alimentam-se sangrentos conflitos internos, florescem as máfias de variado tipo, a corrupção e o crime organizado ganham posições na esfera do poder político. Simultaneamente alastram por todo o mundo numa dimensão sem precedentes as chagas do desemprego, da fome, da doença, do analfabetismo. Aprofunda-se numa escala nunca vista o fosso entre ricos e pobres. Novas e velhas formas de exploração e de tráfico humano lançam num inferno de miséria e degradação milhões e milhões de pessoas.

É um escândalo, um insulto à inteligência e à dignidade humana, que sejam gastos na produção de um só bombardeiro quantias que chegariam para salvar muitos milhares de vidas. Ou que em Génova, mesmo no quadro da gigantesca manifestação de protesto anti-globalização em que o PCP participou, o chamado G8 se tenha atrevido a apresentar como dádiva generosa para o combate à SIDA uma quantia escandalosamente baixa, tanto pela tremenda dimensão do flagelo, como em comparação com os biliões e biliões de dólares que cada ano são acrescentados aos orçamentos militares dos EUA e de outras grandes potências. Esta é uma realidade chocante que torna inevitável o alargamento da luta popular e da contestação da "globalização" imperialista neoliberal, e em particular a luta contra o militarismo e a guerra, pelo desarmamento e a paz.

5. Na passagem de mais um aniversário do criminoso lançamento da bomba atómica sobre as populações civis de Hiroshima e Nagasaki, o PCP alerta os trabalhadores, a juventude, o povo português para os perigos resultantes do militarismo e do intervencionismo imperialista e para a exigência de uma política externa e de defesa de independência e soberania nacional, componente indispensável de uma alternativa de esquerda.

O PCP reafirma o compromisso dos comunistas portugueses com os valores da paz, da cooperação, da solidariedade internacional dos trabalhadores e da amizade entre os povos.

O PCP confia em que, pela vigilância e pela luta de todas as forças amantes da paz, será possível inverter o perigoso rumo militarista da evolução mundial, recolocar na agenda internacional a candente questão do desarmamento nuclear, impedir os EUA de concretizar o demencial projecto de "guerra das estrelas" e assegurar que " Hiroshima nunca mais!".

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