Plenário de Quadros da Organização Regional de Lisboa

O Partido a discutir o Congresso

O Partido a discutir o Congresso

Centenas de militantes do PCP participaram, faz hoje uma semana, na Casa do Alentejo, numa reunião de abordagem ao documento proposto para a primeira fase de discussão do XX Congresso do Partido, que se realiza a 2, 3 e 4 de Dezembro deste ano.

Muitos dos que estiveram presentes vieram directamente da manifestação nacional convocada pela Interjovem/CGTP-IN, realizada na tarde de quinta-feira, 31 de Março. Não poucos chegaram dos seus locais de trabalho ou de residência, de múltiplas tarefas no quadro da intensa intervenção política desenvolvida pelos comunistas e os seus aliados. Um e outro factos confirmando que a discussão das teses por parte de um Partido revolucionário decorre ligada à vida e à luta, sendo um processo indissociável da acção e propósitos imediatos e estratégicos do PCP.

Digno de relevo, ainda, o método, o estilo e os conteúdos de uma tal discussão. Sofia Grilo, do executivo da Direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP (que dirigiu os trabalhos numa mesa onde estavam também Elisabete Santos, Rui Braga, Gonçalo Tomé e Jaime Rocha, igualmente do executivo da DORL; Armindo Miranda e Francisco Lopes, dos organismos executivos do Comité Central, e Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP), começou por propor o tempo de duração da iniciativa e de cada intervenção. Apelou, depois, à participação de todos quantos o quisessem fazer. Quanto aos conteúdos, o ponto de partida são os tópicos propostos pelo Comité Central Partido na reunião de 4 e 5 de Março, sublinhou.

Ser estimulado a participar na elaboração das Teses/Projecto de Resolução Política que vai reger a vida do seu partido nos próximos anos; fazê-lo a cerca de oito meses do Congresso, não ocorre em mais nenhuma outra organização partidária nacional.

Tal não foi esquecido por Jerónimo de Sousa, que a abrir os trabalhos também reiterou apelos à «mais ampla participação» considerando que «uma opinião comporta sempre uma riqueza», bem como à persecução de uma discussão fraterna «sem juízos de valor, sem rótulos, sem abdicação da crítica construtiva».

O documento proposto pela direcção do Partido, não se demitindo, dessa forma, das suas atribuições, frisou o líder comunista, não é «um trabalho acabado». Mas tão pouco é «uma folha em branco, do género “digam lá”, algo que foi experimentado por vários partidos comunistas resultando na sua descaracterização política e ideológica. Não é um projecto pronto a subscrever e a servir, do género moção intocável do chefe ou do candidato a chefe que decidiu dos lugares da direcção», insistiu.

O texto cuja discussão decorre até ao final do mês de Maio, é, ao invés, «um documento que não criando fronteiras nem limites, enquadra as questões específicas e as fundamentais», sendo, por conseguinte, «a base da discussão pelas organizações e militantes», cuja «participação e contributo determina o grau de democracia interna», esclareceu Jerónimo de Sousa.

Antes de conceder a palavra aos militantes comunistas presentes, o Secretário-geral do PCP acrescentou ainda algumas palavras quanto à necessidade de dar resposta às grandes questões e desafios nacionais e internacionais, à afirmação do projecto e ideal comunistas e ao enquadramento do XX Congresso como contributo para o reforço do Partido, tarefa fundamental que está colocada ao grande colectivo partidário e à qual, a par de outras, é preciso continuar a dar resposta, uma vez que não fechamos portas para balanço.

A força do colectivo

Depois da primeira intervenção de Jerónimo de Sousa, seguiram-se cerca de dezena e meia de outras proferidas por quadros da Organização Regional de Lisboa do PCP. Com diferentes níveis de estruturação, reflectiram um elevado conhecimento concreto, preocupação para com a situação nacional e mundial, vontade e empenho em reforçar a luta dos trabalhadores e do povo e a sua organização de vanguarda – o PCP, Partido da classe operária e de todos os trabalhadores que organiza igualmente nas suas fileiras outros sectores e camadas não-monopolistas, como, aliás, é expresso no Programa e Estatutos.

No que à situação internacional diz respeito, a tónica dominante incidiu na identificação da agudização da crise estrutural do capitalismo, da qual decorre a actual ofensiva contra os trabalhadores e os povos, concordaram os intervenientes, e no quadro da qual se desenvolvem, por um lado, projectos destinados a concentrar o capital e o poder político que serve os seus interesses, caso da União Europeia, assim como tentativas de subversão de processos ou desestabilizarão de países que, em diferentes medidas, são obstáculos à hegemonia imperialista.

De acordo estiveram, também, na identificação da social-democracia como componente orgânica do sistema (e por isso surge bem no documento associada ao imperialismo, notou um militante). Pese embora a sua reconfiguração, realçou-se a necessidade de dar combate às falsas ilusões que resultam da sua natureza e objectivos. Claro ficou, ainda, que para os comunistas o reforço das tarefas internacionalistas no contexto do movimento comunista internacional e das forças anti-imperialistas é uma prioridade.

Boa parte do debate centrou-se na situação nacional. É claro para a maioria que para a corrente solução governativa e o novo quadro político-institucional pós eleições de 4 de Outubro contribuiu decisivamente o PCP e a luta de massas. Evidente, é, do mesmo modo, que o actual é um governo do PS com o programa daquele partido, e que, como viria a salientar no encerramento Jerónimo de Sousa, o grau de compromisso do PCP depende do grau de convergência que seja possível alcançar.

Porém, não poucos militantes notaram a importância de insistir na clarificação do papel, propostas e posicionamento do PCP na actual fase da vida nacional; de aproveitar as potencialidades criadas para aumentar a luta reivindicativa e de massas, bem como aprofundar o combate à política de direita cujo ciclo não foi interrompido; de denunciar as limitações do actual governo PS e a sua fidelidade aos condicionalismos impostos pela UE, afirmando, em contrapartida, as propostas do PCP e a alternativa patriótica e de esquerda que propõe indissociável da luta pela construção do socialismo e do comunismo.

Noutro plano, e a par do levantamento de questões sectoriais e específicas, muitos oradores preocuparam-se em relevar a importância do reforço orgânico do PCP, elevando a militância, aproveitando disponibilidades e garantindo a identidade e independência do PCP; de reconstruir laços quebrados de unidade com vastos sectores sociais e potenciar o prestígio e autoridade do Partido; de quebrar rotinas e esquematismos na concretização de tarefas, criando uma cultura de trabalho e intervenção mais eficaz; de usar os novos instrumentos de informação e propaganda, mas com semelhante audácia valorizar a imprensa do Partido – o Avante! e o Militante – e os materiais e formas de propaganda, sem que nenhum deles substitua o contacto directo e a presença entre as massas laboriosas; de manter a crítica e a autocrítica como traves da análise e aperfeiçoamento construtivo da acção do PCP; de incrementar a formação ideológica tendo por base a mais ampla politização da intervenção quotidiana; de consciencializar as massas para a alternativa possível e necessária.

No campo da batalha das ideias, emergiu a importância de valorizar o processo histórico de construção do socialismo na URSS e dar centralidade às conquistas que frutificaram não apenas para os povos soviéticos mas também para a emancipação social e nacional de outros povos.

«A batalha das ideias está na ordem do dia», concluiu o Secretário-geral do PCP, que dirigindo-se aos presentes exortou-os a que levem este debate o mais longe possível tendo presente as regras de funcionamento do PCP.

Publicado no Jornal Avante!

  • XX Congresso do PCP
  • XX Congresso do PCP