Intervenção de Jerónimo de Sousa na Assembleia de República

"Para onde foi o dinheiro que sacaram a quem trabalha ou trabalhou?"

Na abertura do debate do Estado da Nação, Jerónimo de Sousa afirmou que com o governo PSD/CDS, acentuou-se o fosse entre ricos e pobres, aumentou a divida e o défice, o desemprego disparou e voltou a emigração forçada. Os senhores têm menos vidas do que pensam, estão derrotados tendo em conta o vosso isolamento social, político e eleitoral, concluiu.
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Sr.ª Presidente,
Sr. Primeiro-Ministro,
Situemo-nos na realidade e discutamos o verdadeiro estado da Nação, da situação do País, do povo português, com base, como disse, em factos e consequentes questionamentos.
Pergunto-lhe, Sr. Primeiro-Ministro: é ou não verdade que, com o seu Governo, se acentuou o fosso entre ricos e pobres na razão direta em que aumentou e concentrou a fortuna nas mãos de alguns poucos e aumentou a pobreza para muitos?
É ou não verdade que os problemas da dívida e do défice, o alfa e o ómega das razões invocadas para aceitar a intervenção externa, não foram resolvidos e que, no caso da dívida, foram mesmo agravados?
É ou não verdade que temos de recuar ao tempo da 2.ª Guerra Mundial para comparar o nível acumulado de 6% de recessão económica em três anos?
É ou não verdade que o desemprego é hoje estruturante e que só a emigração em massa e os desencorajados que perderam o subsídio de desemprego ou que não encontram trabalho permitem leituras distorcidas da estatística?
Sr. Primeiro-Ministro, a redução da taxa de desemprego não é sinal de recuperação, é sinal de emigração como se tem verificado.
É ou não verdade que os cortes nos salários, nas pensões, nas reformas, a carga brutal de impostos, o congelamento e a desvalorização do salário mínimo nacional empurraram centenas de milhares de trabalhadores, reformados e pensionistas para o limiar da pobreza ou mesmo para a pobreza?
Para onde foi o dinheiro que sacaram a quem trabalha ou a quem trabalhou? Quanto foi transferido para o capital financeiro? Diga, para vermos o estado da Nação!
E admira-se o Sr. Primeiro-Ministro da quebra da taxa de natalidade que se verifica no nosso País, quando, hoje, as novas gerações veem o seu futuro tão incerto e tão sem futuro!?
É ou não verdade que, hoje, as populações, particularmente as do interior, ao verem encerrados a unidade de saúde, o hospital, a escola, os correios, o tribunal sentem que vão piorar as suas condições de vida e que são discriminadas já não só em relação à sua origem social mas também em relação ao sítio onde nascem, onde crescem, onde vivem e onde trabalham?
A propósito, Sr. Primeiro-Ministro, permita-me, tendo em conta a homenagem de hoje a Sophia de Mello Breyner, que lhe pergunte: que sincera homenagem pode este Governo fazer a esta figura ímpar, na medida em que este Governo trata a cultura como um encargo, como uma despesa, prejudicando a cultura, os seus criadores, os seus agentes?
Dir-me-á, Sr. Primeiro-Ministro, que tivemos de ficar pior para ficar melhor. Apontará, como já o fez, o dedo à bancada do PS ou até a Governos anteriores do seu partido. Alguma razão terá! Mas estamos melhor? Ficámos melhor? Como assim, Sr. Primeiro-Ministro?! Como assim?! É capaz de voltar a afirmar que tivemos uma saída limpa, que nos libertámos da troica e das amarras externas e das políticas de austeridade?
Acha, Sr. Primeiro-Ministro, que o Banco de Portugal está errado quando afirma que até 2019 é preciso mais austeridade de 7000 milhões de euros? Acha que está certo o exercício do Presidente da República quando profetiza a austeridade até, pelo menos, 2030?
A traço rude, eis, Sr. Primeiro-Ministro, o estado da Nação.
Sabemos que o Sr. Primeiro-Ministro lida mal com os factos ou procura distorcê-los.
Queria terminar com esta ideia: há quem considere que este Governo é incompetente. Nós consideramos que não. Não é uma questão de incompetência, é uma questão de opção.
Desde o princípio do seu Governo que, mais do que a exploração e o empobrecimento dos portugueses, que são uma consequência da vossa política, foi sempre, desde a primeira hora, um objetivo central deste Governo aumentar a exploração e o empobrecimento dos portugueses. Por isso, os senhores têm menos vida do que pensam e estão derrotados, tendo em conta o vosso isolamento social, o vosso isolamento político e até o vosso isolamento eleitoral.

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