Intervenção de Miguel Tiago na Assembleia de República

O Orçamento do Estado e diversas razões que justificam a comissão parlamentar de inquérito ao processo do BANIF

Sr. Presidente,
Sr. Deputado João Almeida,
Queria cumprimentá-lo pela sua intervenção.
Em primeiro lugar, como, aliás, já foi referido pelo meu camarada Paulo Sá, a avaliação que o PCP fará do Orçamento apresentado enquadra-se precisamente na avaliação da capacidade de resposta desse Orçamento à concretização da posição conjunta entre o PS e o PCP e na apreciação sobre a inversão do rumo político de empobrecimento e de aumento da exploração que vinham sendo impostos pelo PSD e pelo CDS a pretexto das imposições estrangeiras. No entanto, ao longo do tempo, fomos verificando que eram aplicadas com particular empenho e fervor por parte de um PSD e de um CDS bastante aplicados em castigar os portugueses pelos desmandos e pelas aventuras dos banqueiros e dos grandes grupos económicos nacionais.
O Sr. Deputado também falou do contexto em que esta avaliação é feita. Ora, o PCP entende esse contexto como um contexto de chantagem das instituições europeias sobre a soberania nacional.
O Sr. Deputado diz que ninguém pode questionar o patriotismo de ninguém. Mas, Sr. Deputado, a nossa pátria é diferente: a sua pátria é a dos grandes grupos económicos e a dos lucros dos acionistas; a pátria do PCP é a pátria dos trabalhadores, é a vida dos trabalhadores, o bem-estar dos reformados e pensionistas.
Não medimos o bem-estar da pátria portuguesa nas bolsas de valores, nem no valor das ações dos grandes grupos económicos e muito menos limitamos o patriotismo a andar por aí de bandeira nacional na lapela a prestar vassalagem à Alemanha.
Portanto, Srs. Deputados, sobre patriotismos, temos conceitos diferentes, certamente.
Sr. Deputado Pinho de Almeida, sobre o BANIF, tem razão quando diz que é preciso apurar todas as condições e todos os factos em que o processo se desenrolou e para isso o PCP dará todo o contributo.
Certamente que é preciso aclarar os factos sobre a parte à qual o Sr. Deputado se referiu, nomeadamente à parte da resolução, mas é também preciso apurar os factos relativos ao processo que nos conduziu até aqui. E se é verdade, ao que tudo indica, que o processo de resolução, quer do ponto de vista da DGComp, das instituições europeias, quer do ponto de vista da ação do Governo, em tudo contribuiu para que o banco fosse entregue já limpinho dos seus ativos tóxicos ao Santander, resta ainda apurar se o anterior Governo PSD/CDS não fez tudo e não andou a empurrar o lixo para debaixo do tapete precisamente para que o desfecho fosse esse e só esse: entregar um banco já limpinho ao Santander.

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