Intervenção de Carina Castro, Membro da Comissão Política do Comité Central, Conferência Nacional do PCP «Tomar a iniciativa. Reforçar o Partido. Responder às novas exigências»

A comunicação e propaganda do Partido

Ver vídeo

''

Falar da comunicação e da propaganda do Partido exige a consciência de que as ideias são expressão de uma realidade económica e social de um momento histórico, que a ideologia dominante é sempre de quem detém o poder económico e o poder político, e todos os condicionamentos que isso comporta.

Enfrentamos um quadro de enorme desenvolvimento dos instrumentos da classe dominante para a luta ideológica, uma desproporção colossal de meios entre explorados e exploradores, desde a comunicação social, ao sistema educativo, a produção cultural, os diversos centros de produção de conteúdos de entretenimento, e as comunicações electrónicas.

Trata-se de um quadro ideológico, em diversas frentes articuladas, criando as condições para uma ilusão de consenso, impondo à escala de massas o pensamento e valores dominantes, mesmo que cada um se julgue um pensador livre.

Enfrentamos uma ofensiva antidemocrática de pendor anti-comunista que se tem intensificado e que, tendo como alvo preferencial o PCP, ataca igualmente os trabalhadores, o povo e os seus direitos. Pretende conduzir à paralização da acção colectiva e individual, à alienação, ao conformismo e à aceitação do estado de coisas.

Partimos deste ponto, porque quando falamos de propaganda, precisamos de reconhecer que a nossa mensagem não se desenvolve em campo neutro, em que o receptor está apto a compreender e apreender o que comunicamos. Não estamos apenas a falar da forma como a mensagem do Partido passa, os méritos ou deméritos da frase ou do grafismo, nem apenas da forma como é intermediada ou deturpada, nomeadamente pela comunicação social, mas sobretudo qual a teia de valores e de antivalores, de comportamentos e concepções, camadas de preconceito e de manipulação ideológica que determinam a forma como essa mensagem é apreendida, e que se confrontam em antagonismo com o que o PCP diz, propõe e se propõe transformar.

Temos que avançar na propaganda, sim, como em todas as frentes de trabalho, o que não podemos é atribuir a uma suposta ineficácia de comunicação do Partido, o que resulta da ofensiva que enfrentamos.

Camaradas,

Eles podem muito, mas não podem tudo - é na elevação da consciência de classe e política, na ligação do Partido às massas e no alargamento da sua influência e prestígio que está a chave. Precisamos de avançar com confiança e determinação. Precisamos de uma acção audaciosa, confiante, sem pessimismos, que rejeite paternalismos, sectarismos e sobrancerias, olhos nos olhos.

Devemos colocar duas questões: a quem nos dirigimos e como chegamos a eles. A nossa mensagem deve partir da análise rigorosa da realidade, das posições e experiência do PCP, formular uma síntese e avançar uma posição, justa e eficaz, para a luta, para transformar o mundo, para reforçar a intervenção e o Partido. A nossa mensagem deve caracterizar-se pela abordagem de classe, pelo rigor e coerência, verdade e seriedade. Deve ser directa, curta e apelativa. Não basta denunciar o problema, temos de denunciar os responsáveis, e temos de apontar a solução; não basta constatar que tal situação é difícil, precisamos de motivar à acção e à possibilidade real de concretização do que propomos. Porque a nossa propaganda deve ser factor de mobilização, sim, mas também de confiança e de elevação de consciência social e política.

Sabemos da importância da propaganda de rua para fixar linhas da nossa intervenção – mais objectiva e directa – são centenas de outdoors e milhares de mupis por todo o País; sabemos da importância dos folhetos nacionais com a possibilidade de chegar a milhares de pessoas com uma mesma mensagem unificada; sabemos da importância da preparação cuidada das iniciativas, do seu enquadramento e concepção, mobilizando os meios adequados à sua dimensão e conteúdo; sabemos como conta a nossa intervenção nas comunicações electrónicas como mais um factor de agitação e mobilização, e também como instrumento de apoio aos quadros.

Mas nada disto é comparável ao contacto directo, em que a distribuição do folheto não pode ser o fim em si mesmo, mas deve ser o pretexto para a conversa. O prestígio de cada um no meio em que se insere é factor decisivo para ganhar disponibilidade do outro para ouvir e ser ouvido, para vencer barreiras e preconceitos, para conhecer o que o PCP diz, pela voz do PCP, e também dar ao PCP o conhecimento da sua realidade concreta, as suas inquietações e aspirações.

As actuais exigências e complexidades do trabalho de informação e propaganda, as questões de conteúdo e iniciativa, a articulação entre os diversos meios e objectivos e a articulação entre as organizações regionais e o trabalho central impõem a necessidade de uma discussão a concretizar no segundo semestre do próximo ano e a realização de uma iniciativa nacional em Novembro de 2023. Será seguramente uma oportunidade para darmos passos em frente.

Mas a intervenção do Partido nesta frente não pode esperar. Concretizar as linhas de trabalho desta Conferência Nacional é avançar de imediato com a intervenção de cada um e de cada organização. Nós não precisamos, em abstracto, de melhor propaganda, precisamos é de intervir mais prontamente nos problemas concretos. Precisamos de ter mais mupis sobre o contrato precário à porta da empresa, precisamos do A3 fixado no poste sobre os horários desumanos daquela fábrica, porque sabemos que quando o folheto trata o problema daqueles trabalhadores concretos é mais bem recebido, porque quando tratamos o problema concreto, isso prevalece sobre o preconceito. Isso é o Partido vivo, a escancarar portas, a ganhar disponibilidades para conhecer, intervir, recrutar, dinamizar a luta. Isso é o trabalho de informação e propaganda a contribuir para maior ligação às massas, a organizar o contacto directo com os trabalhadores e o povo. Precisamos de conhecer para agitar, e quando agitamos conhecemos mais e acumulamos força para intervir e transformar.

Comunicaremos melhor colectivamente se todos formos responsáveis pela agitação no dia-a-dia: quando falamos com o vizinho que tem de escolher entre comprar a carne e pagar a luz, sobre os lucros que não param de aumentar e a emergência de aumentar salários; quando partilhamos que PS e PSD rejeitaram a nossa proposta de valorização das carreiras no SNS, lá no grupo dos enfermeiros da nossa terra. Produzimos melhor propaganda quando apreendemos o conteúdo de um folheto nacional e concretizamos com rapidez na organização uma versão local, quando fazemos o folheto apontando a solução para o problema dos transportes públicos na freguesia, quando dinamizamos a luta em defesa do balcão da CGD no nosso bairro.

Camaradas,

A vida tem provado que o Partido conta fundamentalmente com os seus meios próprios para fazer chegar as suas posições aos trabalhadores e ao povo, e isso não é fraqueza, mas uma força cheia de potencialidades, assente na imensa medida da nossa organização. O trabalho de informação e propaganda é mesmo tarefa de todo o Partido e de todos os militantes, e não apenas responsabilidade central ou daquele camarada que vai falar na televisão.

A melhor forma de enfrentar o momento que vivemos é mobilizar energia, inteligência, rasgo, criatividade, sentido de humor e militância numa maior ligação do Partido à vida, aos problemas concretos, aos sonhos e aspirações dos trabalhadores e do povo, convocando-os a fazer das injustiças força para lutar.

Viva a Juventude Comunista Portuguesa!
Viva o Partido Comunista Português!

  • Conferência Nacional do PCP 2022
  • Central