Intervenção de João Frazão, Membro da Comissão Política do Comité Central, Conferência Nacional do PCP «Tomar a iniciativa. Reforçar o Partido. Responder às novas exigências»

A acção do Partido. A luta de massas. As Organizações Unitárias de Massas, o seu papel e reforço

Ver vídeo

''

Tomar a iniciativa!

Eis a consigna que encabeça o lema da nossa Conferência Nacional e que não é uma mera declaração de intenções, antes corresponde a um caminho concreto, a um rumo bem definido para todas as organizações do Partido.

Queremos um Partido mais forte, não é para ter e para mostrar, nem para fazer prova de vida, que essa é garantida pelos mais de 100 anos ao serviço dos trabalhadores, do povo e da pátria.

Nós precisamos de um Partido mais forte exactamente para “Tomar a iniciativa”. Para, ligando-nos mais às massas, aos trabalhadores e ao povo, aos jovens, às mulheres, aos pequenos e médios agricultores e empresários, aos pensionistas e reformados, aos trabalhadores e agentes da cultura, e a tantos, tantos outros, que são vítimas da política de direita de agravamento da exploração, para com eles, desenvolver a luta em defesa das suas aspirações.

É esse o sentido de um Partido Comunista que nasceu, se organizou, resistiu às mais sérias provações e cresceu apenas para se colocar ao serviço dos interesses de classe daqueles que representa.

Sim, Tomar a iniciativa sempre que o patrão se recusa a aumentar os salários, decide intensificar os ritmos de trabalho, procura cortar nos direitos, tenta desregular os horários de trabalho. Tomar a iniciativa a partir da reunião da célula do Partido, envolvendo os outros trabalhadores na denúncia da precariedade e na exigência de melhores condições de trabalho e de vida.

Tomar a iniciativa contra o aumento do custo de vida, denunciando a especulação e o aproveitamento que o grande capital sempre faz, ontem da epidemia, hoje das sanções e da guerra, amanhã, sabe-se lá do quê.

Tomar a iniciativa na reunião da Comissão de Freguesia, da Comissão Concelhia, em torno dos problemas mais sentidos pelas populações. Do buraco da rua, do autocarro que não passa, da creche para garantir o direito de todas as crianças a creche gratuita, da habitação degradada, do centro de saúde que não tem os profissionais necessários ao lar que faz falta para dar resposta aos idosos, do campo de jogos em más condições, do posto dos Correios que não funciona.

Cada problema, cada reclamação das populações é susceptível de ser transformado em movimento organizado.

Tomar a iniciativa para dar vida às nossas terras, dinamizando, com as gentes que lá vivem, eventos no plano cultural, desportivo, recreativo e social.

Estar onde estão as massas, trabalhar e aprender com elas, e com elas agir na defesa dos seus interesses.

Sabemos que toda a história da humanidade, como bem assinalaram Marx e Engles no Manifesto, é a história das lutas de classes.

Sabemos que foram elas, que foi a luta das massas organizadas que garantiu cada conquista, cada avanço nos direitos, cada impulso na satisfação das suas aspirações, das revoltas dos escravos na antiguidade à Revolução Socialista de Outubro, de que agora assinalámos o 105º aniversário.

Foi sempre a luta das massas, mesmo quando as elites conspiravam para manter os seus privilégios, que assegurou impetuosos avanços na história da humanidade.

Foi assim para levar o Mestre de Aviz ao poder, foi assim na Revolução Republicana de 1910, foi assim em Abril, e tem sido pela determinada, combativa e corajosa acção das massas populares que impedimos, ao longo destes já quase 50 anos, que levassem mais longe o projecto de destruição de Abril, dos seus valores e das suas conquistas. Foi com a luta dos trabalhadores e do povo que derrotámos o PSD e o CDS, quando parecia que a sua maioria absoluta esmagaria tudo e todos.

Será também com as massas populares organizadas que seremos capazes de enfrentar os projectos reaccionários do grande capital que os seus representantes nos sucessivos Governos querem levar a cabo.

O capital lida bem com explosões de raiva, de cólera, por muito violentas que sejam, se forem momentâneas, passageiras e inconsequentes. Até são mesmo capazes de as animar para assegurar a descompressão de uma indignação geral que se vai acumulando na exacta medida em que se acentuam as desigualdades e as injustiças.

O que o Capital verdadeiramente teme é a luta organizada das massas, é a força de um que se transforma na força de todos, é a luta que eleva a consciência de classe dos trabalhadores e das próprias massas, é a luta com objectivos concretos e imediatos, mas que se insere na luta mais vasta pela transformação revolucionária da sociedade.

E é para dinamizar essa luta, para lhe assegurarmos a vanguarda, que assumimos o compromisso de virar tudo e todos para as massas, desde logo, garantindo o reforço das suas organizações unitárias, fundamentais para expressar, desenvolver e elevar a democracia participativa, a intervenção e a luta, sem as quais o poder instituído promove o retrocesso e trava o futuro.

Organizações unitárias de massas onde se destaca a organização da classe operária e dos trabalhadores em geral, a maior, a mais activa e mais determinada organização social no nosso País, a CGTP-IN e o conjunto do Movimento Sindical Unitário.

CGTP-IN, sindicatos de classe e Comissões de Trabalhadores, que queremos mais fortes para cumprir o seu papel de representação dos interesses de classe dos trabalhadores portugueses, para os organizar e mobilizar para a luta por uma vida melhor.

Cada trabalhador tem de encontrar no seu sindicato, na sua Comissão de Trabalhadores o esclarecimento, a resposta aos problemas que enfrenta, o estímulo à acção e ao protesto e a combatividade na luta de classes que tem nas empresas a sua face mais aguda.

CGTP-IN, sindicatos e Comissões de Trabalhadores que daqui saudamos, saudando neles todos os trabalhadores portugueses e todas e cada uma das lutas que travam.

Daqui dizemos a todos os trabalhadores que estão em luta que podem contar connosco. Podem contar com o Partido Comunista Português, com o Partido da Classe Operária e de todos os trabalhadores, na solidariedade, no apoio e na sustentação da vossa luta.

Mas também as organizações dos pequenos e médios agricultores, de produtores florestais e pecuários, de compartes dos baldios, movimento que, ao defender os seus sagrados direitos à terra e a produzirem, o direito à sua sobrevivência, estão também a defender a sobrevivência do próprio mundo rural.

As organizações dos pequenos pescadores e armadores e dos pequenos e médios empresários, que lutam contra os monopólios e os seus objectivos de concentração da riqueza.

As organizações da juventude e dos estudantes, o movimento juvenil e estudantil, com o dinamismo, criatividade e generosidade próprios desta camada.

As organizações das mulheres que lutam contra as discriminações e pela igualdade no trabalho e na vida.

Mas também o movimento associativo popular, com a sua extraordinária rede de estruturas associativas, com a sua ligação a centenas de milhar de pessoas por todo o país e com a sua intervenção diversificada no plano social, cultural, recreativo e desportivo.

Cada Colectividade, cada Comissão de Utentes, de Moradores, de luta ou de Festas contém em si um extraordinário potencial de envolvimento e participação popular que não pode ser desperdiçado.

Aos comunistas coloca-se um caminho único, sindicalizarem-se, associarem-se, disponibilizarem-se para serem eleitos como dirigentes, como delegados sindicais, intervirem nestas estruturas, alargando a unidade, emprestando-lhe toda a energia e dando-lhe o conteúdo da acção reivindicativa que a realidade impõe.

Organizações de outras classes e camadas sociais antimonopolistas cuja acção, orientação, dimensão, enraizamento e capacidade de mobilização influenciam a defesa e avanço de interesses e direitos, a liberdade, a democracia e o progresso social.

A todos reafirmamos, contem connosco e juntem-se a nós.

Juntem-se a esta força que aqui se apresenta, ciente das imensas exigências do tempo presente, mas com toda a confiança nos tempos que hão de vir.

Confiança nos que se levantam contra a exploração, nos que resistem às injustiças e desigualdades, nos que não desistem perante nenhuma adversidade.

Confiança desde logo nos trabalhadores, que no último mês deram mostra de grande determinação em greves, plenários, concentrações, e tantas outras formas de luta pelos salários, pelas carreiras, por condições de trabalho, pelos horários, contra os despedimentos:

Os trabalhadores do Casino de Chaves,
da Caetano Auto e da Caetano Fórmula,
da Euroresinas,
da Emel,
das IPSS, Misericórdias e Mutualidades,
do Hospital de Loures,
do Grupo Águas de Portugal,
da Transtejo,
da indústria têxtil e do calçado,
da Altice,
da Administração Pública,
do Metropolitano de Lisboa,
da Grande Distribuição,
dos CTT,
da Webmob,
do Grupo Inditex,
das Águas e Resíduos da Madeira,
da COFACO,
do comércio e grande distribuição da Ilha Terceira,
da Alsa/Todi,
da Promotorres,
da Schnellecke,
da Santa Casa da Misericórdia de Serpa, e da de Lisboa,
os Enfermeiros,
os Professores e educadores,
os profissionais das forças de segurança,
e tantos, tantos outros,

com o justo destaque para as manifestações nacionais em Lisboa e no Porto no passado dia 15 de Outubro, pela combatividade, pelo nível de participação, pela diversidade de trabalhadores e de reivindicações que expressaram.

Confiança inabalável, inquebrantável nos trabalhadores e no nosso povo, no povo que se levantou em Abril e que hoje encara o futuro não com a resignação que nos querem impor, não com o conformismo que nos dizem natural, não com a desistência que afirmam inevitável, não com o medo que todos os dias semeiam à nossa volta, mas o povo que toma a iniciativa com a esperança de quem se ergue e luta por um futuro melhor.

Com a força das massas populares, com a força da nossa razão, sabemos que será nossa a vitória final!

Viva a Conferência Nacional!
Viva a JCP!
Viva o PCP!

  • Conferência Nacional do PCP 2022
  • Central