Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral, Sessão Evocativa do Centenário do nascimento de Alfredo Diniz (Alex)

Alex: Um revolucionário, cuja entrega e dedicação à causa dos trabalhadores e do povo o Partido não esquece

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Foi aqui evocada a história de vida e de combatente revolucionário de Alfredo Diniz, o camarada Alex, neste dia em que assinalamos a passagem dos 100 anos do seu nascimento. A história de uma vida que sendo breve, porque os fascistas o mataram na flor da idade, é a história de um homem politicamente maduro, convictamente determinado na realização do projecto de libertação e emancipação social dos trabalhadores e do nosso povo protagonizado pelo seu Partido – o PCP. A história de um militante operário, profundamente conhecedor da realidade concreta do mundo que o envolvia e onde se inseria e agia com a sensibilidade dos que sentem o pulsar da vida e se identificam com as mais genuínas aspirações a uma vida digna dos homens e das mulheres da sua condição e do seu povo. A história de um revolucionário, cuja entrega e dedicação à causa dos trabalhadores e do povo, mais de setenta anos passados desde a sua morte, o Partido não esquece e a história do movimento operário e do nosso povo pela liberdade e a democracia, registará para sempre e lhe reservará um lugar, ao lado de muitos outros, no quadro de honra dos heróicos combates contra o fascismo.

Lutador incansável, devemos-lhe esta homenagem pelo que foi, mas também pelo que projecta como exemplo de dedicação, coragem e saber feito na escola da vida e luta por uma vida melhor da classe operária e dos trabalhadores da vasta região de Lisboa, do lado de cá e de lá do Tejo, mas também do Ribatejo.

Nesse tempo de duras condições de trabalho e violenta exploração. Nesse tempo de muita e larga pobreza, da tuberculose infantil, dos fiados na mercearia do estritamente necessário para sobreviver, porque a quinzena era longa e os salários parcos. Nesse tempo das “marchas da fome”, das enormes desigualdades e flagelos sociais que o fascismo alimentava.

Pronunciamos o nome de Alex e ao pronunciá-lo é, desde logo, a luta e a organização da classe operária e dos trabalhadores, das suas organizações de classe, o papel e a importância do Partido na organização dessa luta que passa em frente da nossa memória e se coloca no horizonte dos nossos olhos e do nosso trabalho.

Essa luta e esse papel tão decisivos e importantes na luta pelo salário e pelo pão, contra a exploração e opressão nesses primeiros anos da década de 40 que Alex conheceu, viveu intensamente e deu um exemplar contributo para a sua organização e condução e que hoje permanecem, tal como ontem, como questões centrais e determinantes não apenas para a defesa dos interesses imediatos dos trabalhadores e das camadas populares do nosso povo, mas para afirmar a alternativa que o País precisa para vencer o atraso e promover o seu desenvolvimento.

Alfredo Diniz foi um notável organizador que levava à prática de forma exemplar a orientação do Partido, que operou naquele período uma importante mudança que conduziu ao êxito da mobilização de milhares de trabalhadores para a luta por uma vida melhor: - estar onde estão as massas e trabalhar com elas e com elas agir em defesa dos seus interesses era a palavra de ordem, tão válida ontem como hoje, que exigia e exige prioritariamente um trabalho em profundidade dirigido à organização partidária nas empresas e locais de trabalho e ao desenvolvimento da organização unitária dos trabalhadores para defesa dos seus interesses aos mais diversos níveis, da empresa ao sector, da região ao todo nacional. Prioridade para um partido de classe que sabe que é no interior da empresa que se afrontam, em primeiro lugar, o trabalho e o capital, as duas grandes forças antagonistas da sociedade capitalista. Que sabe que a célula da empresa do Partido é uma força impulsionadora da unidade e da luta, a força provada na longa vida deste Partido, um instrumento indispensável e uma garantia para o êxito da acção reivindicativa, cimento agregador nos pequenos e grandes combates, sejam eles travados dentro ou fora de portas, unidade básica de ligação do Partido aos trabalhadores, ponto de junção e confluência, onde se dá e recebe orientação, força e ânimo, se recolhem ensinamentos e constrói o sentido da acção, nessa relação dialéctica entre o Partido revolucionário de vanguarda e a classe de onde emana e quer representar com o seu projecto político para uma sociedade nova liberta da exploração.

Alex é ainda inspiração para os nossos trabalhos de hoje. Esse reconhecimento é a maior homenagem que lhe prestamos. O Partido, os trabalhadores, a luta do nosso povo precisa do contributo, da dedicação, do esforço de muitos Alex, não para morrer, mas para viver e conduzir o êxito e levar cada mais longe esse trabalho tão necessário e que permanece como uma prioridade – o trabalho partidário junto das empresas e locais de trabalho, o trabalho de reforço das organizações unitárias de classe, onde sobressai a CGTP-IN, a grande central sindical dos trabalhadores portugueses. A força indispensável de resistência e luta dos trabalhadores, a força social herdeira das tradições de luta da classe operária e dos trabalhadores portugueses, a força social que une e liga esse Maio das grandes greves de 1944 que o trabalho, o saber e a dedicação de Alex ajudaram a erguer, ao 1º de Maio que hoje precisamos de construir, com uma mobilização a partir da acção reivindicativa por objectivos concretos em cada uma das empresas e sectores, afirmando este Maio que se aproxima, comemorativo do dia dos trabalhadores, como uma grande jornada de luta dos trabalhadores portugueses!

Unidade, luta e organização é ontem como hoje o caminho da vitória. O reforço das organizações e movimentos de massas e a sua convergência numa vasta frente social de luta em que decididamente os comunistas se empenham era da maior importância ontem, é da maior importância hoje, nesta luta que temos em mãos e precisamos de continuar pela defesa, reposição e conquista de direitos.

Poder-se-á dizer que vivemos uma realidade diferente da que Alex conheceu. Que o mundo mudou, que Portugal dos anos quarenta não é o Portugal desta segunda década do século XXI.

Mudou sem dúvida muito.

Mudou muita coisa em resultado das alterações operadas na economia, nas forças produtivas e nas relações de produção, com o processo de expansão da exploração capitalista a nível planetário. Mudaram até os termos com que denominam o sistema de exploração com a imposição de uma novilíngua ou novafala para lhe adocicar o seu carácter opressor, transmutado em economia de mercado, da livre empresa, “civilizado”, “flexível” que fala de direitos sociais como privilégios e dos direitos laborais colectivos, como interesses corporativos. Essa novafala que semeava os ventos tempestuosos da desregulação e da precariedade, para impor a lei da selva no trabalho e na vida dos homens.

Mudou muito com o desenvolvimento técnico e científico. Desenvolvimento que permitiu criar mais riqueza, fazer crescer o PIB no mundo e em Portugal entre esses anos e hoje, mas ano para ano, apesar do aumento imenso da riqueza criada, os mais ricos tornaram-se mais ricos e os pobres ficavam sempre um pouco mais pobres.

Mudou Portugal sob o impacto da Revolução de Abril para a qual Alfredo Diniz afincadamente trabalhava, para apressar a sua chegada, com a dinamização da luta de massas, tão certo e seguro estava da importância dessa luta, como força motora da história. Revolução que restituindo as liberdades, abriu as portas a novas e grandes conquistas e a profundas transformações sociais a favor dos trabalhadores e do povo, que nestes últimos anos estiveram sob o fogo intenso da uma inaudita ofensiva do grande capital e dos seus aliados políticos com a imposição do agravamento da exploração e a liquidação dos direitos laborais e sociais. Uma situação que representa uma dramática regressão social e civilizacional.

Mudou muito e muitas coisas, mas não mudou a natureza exploradora, predadora e destruidora do capitalismo, nem desapareceram os dramas e os flagelos sociais que produz e que tem na política de direita que o serve em Portugal o instrumento para a sua eternização e agravamento.

Vimos isso nestes anos de ofensiva de recuperação capitalista e restauração monopolista contra Abril promovida por governos do PS, PSD e CDS e insuflada pela Europa do capital e dos monopólios, e que conheceu uma particular amplitude e intensidade nestes anos de PEC e de Pacto de Agressão, com consequências dramáticas na vida da grande maioria dos portugueses.

Uma situação social crescentemente degradada com níveis de desemprego, de precariedade, emigração e pobreza inaceitáveis, uma desvalorização acentuada dos rendimentos do trabalho, baixos salários e baixas reformas e restrições no acesso a serviços públicos essenciais à vida e ao bem-estar das populações, nos domínios da saúde, da educação, da segurança social, da cultura.

Anos que deixaram igualmente o País e a sua economia, os seus sectores produtivos seriamente debilitados, comprometendo não apenas o presente, mas o futuro e a vida dos portugueses.

É por isso que todas as causas que davam sentido aos combates de Alex e do seu Partido, o nosso Partido Comunista Português, são as causas que dão sentido aos combates de hoje pela construção de um mundo melhor e mais justo, por um Portugal desenvolvido, livre e soberano.

Desde logo à causa da defesa dos trabalhadores e do povo, dos seus justos interesses e direitos, contra a ofensiva e prepotência do grande capital, apesar dos passos positivos dados, nesta nova fase da vida política nacional, na reposição de direitos e rendimentos que travaram o caminho do declínio, mas que está aquém do era necessário e possível assumindo outra política. Um causa que, na sua realização, exige acção e luta pelo aumento dos salários; pelo combate à desregulação dos horários; contra a precariedade; pela defesa dos direitos consagrados na contratação colectiva; pela revogação das normas gravosas da legislação laboral – designadamente da caducidade das convenções colectivas –; e pela reposição do princípio do tratamento mais favorável aos trabalhadores. Pela valorização das pensões de reforma, pelo direito à reforma sem penalização nas longas carreiras contributivas, a reposição da protecção social e dos apoios sociais, a garantia dos direitos do povo português à saúde, à educação, à segurança social, à justiça e à cultura.

Questões essenciais que vão ao encontro da grande causa que Alex e o seu Partido permanentemente tinham em mãos: - a do combate às desigualdades e injustiças sociais. A causa dos que têm o compromisso, como nós, de lutar e organizar a luta para lhes pôr termo. A causa dos que sempre souberam que nunca nada foi oferecido, tudo foi conquistado, e que assim será no futuro!

Mudou muito a situação, o fascismo acabou derrotado, mas a causa da liberdade e da defesa da democracia assumem hoje uma crescente preocupação. Ontem inexistente, hoje mutilada em muitas das suas dimensões, a democracia e as liberdades são crescentemente confrontadas com os avanços das soluções autoritárias e fascizantes na Europa e no mundo e com o crescimento da xenofobia e do racismo que a política dominante perigosamente alimenta.

Mudou muito a vida que nos separa daqueles anos, mas a luta pela defesa do desenvolvimento económico, tendo como elemento integrante o progresso social, permanece como outra causa, que reclama a urgência de uma política alternativa - patriótica e de esquerda, como a que defende o PCP. Uma política que implica recuperar a soberania económica, monetária e cambial perdidas no desastroso processo de integração capitalista da União Europeia e na adesão ao Euro e romper com o domínio monopolista na vida nacional.

Não vivemos esses trágicos anos da primeira metade da década de quarenta. Não temos uma guerra declarada e em marcha generalizada, mas a defesa da causa da paz e da amizade e cooperação entre os povos não nos pode deixar descansados, quando sopram fortes os ventos da militarização, envolvendo as principais potências capitalistas e se apresenta uma situação internacional crescentemente instável e inquietante, cada vez mais marcada por uma violenta ofensiva do imperialismo.

Sim, mudou muito e muita coisa, mas permanece o Partido que Alex também ajudou a construir e que honrou com a sua dedicação e coragem. Permanecem o projecto e as causas, bandeiras da nossa luta que Alex honrou como militante deste Partido e como membro do seu Comité Central. Alfredo Diniz pagou com a vida a sua coerência na entrega à causa da liberdade, da democracia, da construção da sociedade nova, à causa da afirmação dos valores elementares como a igualdade de direitos, a fraternidade, a justiça social e a solidariedade humana. Um combate que assumiu e travou com uma inabalável confiança nos trabalhadores, no povo e na sua luta, percorrendo os incessantes caminhos da vitória sobre a injustiça e as desigualdades, e na procura da concretização desse sonho que é o nosso da construção de uma sociedade liberta da exploração do homem pelo outro homem.

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