Intervenção de Jorge Machado na Assembleia de República

Voto de pesar pelo falecimento do pintor Ângelo de Sousa

(voto n.º 116/XI/2.ª)
Sr. Presidente,
Srs. Deputados:
Ângelo de Sousa nasceu em 1938, em Moçambique, na cidade de Maputo, e faleceu recentemente, a 29 de Março, na cidade do Porto, cidade onde se fixou com 17 anos de idade e que escolheu para viver e trabalhar.
Aluno brilhante da Escola Superior de Belas-Artes, foi nela Professor Catedrático durante 37 anos, tendo sido um dos dois primeiros professores catedráticos da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.
Pintor, escultor, desenhador e pedagogo, com obra que correu o mundo, realizou a sua primeira exposição em parceria com Almada Negreiros, era ainda estudante de Belas-Artes.
A meio da década de 60 do século passado foi um dos fundadores da Cooperativa Árvore, e integrou, com Armando Alves, Jorge Pinheiro e José Rodrigues, o famoso grupo «Os quatro vintes» — todos jovens artistas de Belas-Artes do Porto licenciados com a classificação máxima — e foi responsável pela realização de sucessivas exposições colectivas que marcaram as artes plásticas no final da década de 60 do século XX.
Realizou exposições colectivas e individuais um pouco por todo o mundo: da Cooperativa Árvore à Bienal de Veneza, à Bienal de São Paulo, para citar apenas alguns dos espaços de maior relevância onde apresentou a sua vasta obra. Esta, sempre reconhecida, está representada nos principais museus de arte contemporânea e foi premiada em múltiplas ocasiões: na Bienal de São Paulo, em 1975, e na Fundação Calouste Gulbenkian (por duas vezes), tendo recebido ainda o Prémio EDP, no ano 2000, e o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, em 2007.
Ângelo de Sousa era um vanguardista e um experimentalista. Ao longo da sua vida, usou diversas técnicas e suportes: o desenho, a ilustração, a edição, a pintura e a escultura — as «pequenas engenhocas em metal», como o autor designava muitas das suas peças —, mas também a fotografia, o filme o vídeo.
A sua ecléctica e multifacetada intervenção artística levou-o a participar na Mostra Internacional de Arquitectura de Veneza, onde, com o arquitecto Eduardo Souto de Moura, representou Portugal, em 2008.
Assim, Sr. Presidente, Srs. Deputados, o PCP não tem qualquer dúvida em afirmar que com a morte de Ângelo de Sousa a arte e a cultura ficam mais pobres, em Portugal.

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