Intervenção de Honório Novo na Assembleia de República

"Vão continuar a fazer «cócegas» fiscais à banca?"

Sr.ª Presidente,
Sr. Ministro,

Quem não surpreende é o Sr. Ministro. Aliás, não surpreende rigorosamente nada. Custa-lhe muito reconhecer que errou, custa-lhe imenso reconhecer que errou, mas, nos últimos dias, implicitamente, o senhor veio «dar o braço a torcer», veio dizer que estava errado, que a derrapagem orçamental é uma questão incontornável.

Porém, isso não é novidade, Sr. Ministro, porque, há cerca de oito meses, tínhamo-lo avisado que estávamos perante uma espiral recessiva e uma expetativa, que hoje se confirma, de uma verdadeira exaustão fiscal do País. Ora, o Sr. Ministro e o seu Governo não fizeram caso e aumentaram todos os impostos, desde o IVA a todos os impostos diretos e indiretos.

Aliás, o Sr. Ministro, o seu Governo, o PSD e o CDS-PP já bateram todos os recordes do Eng.º Sócrates — aquilo a que o Dr. Paulo Portas, há dois anos, chamava de «recordes do Eng.º José Sócrates».

Recordo-lhe que o Sr. Ministro agora não tem dois recordes, tem três: o primeiro é o maior desemprego de sempre — há dois anos eram 700 000, agora são 1,2 milhões —; o segundo é a maior carga fiscal de sempre sobre quem trabalha, sobre os reformados e as pequenas empresas; e o terceiro é o Governo que mais vezes disse que ia baixar os impostos, o Governo que mais vezes disse que ia lutar contra a subida dos impostos, o Governo que mais vezes disse uma coisa e fez exatamente o contrário.

Portanto, face à derrapagem orçamental iminente, os senhores admitem agora novas medidas de austeridade que há três meses não eram precisas — no mês passado também não, mas agora já as admitem. É sempre assim, Sr. Ministro É sempre assim com os programas de recessão da troica. Como disse, é a espiral recessiva e a exaustão fiscal em marcha.

Pergunto: nas novas medidas — porque elas vão acontecer, Sr. Primeiro-Ministro, tenha paciência, mas elas vão acontecer —, o que é que os senhores pensam fazer? Vão continuar a fazer «cócegas» fiscais à banca? Vão continuar a fazer «cócegas» fiscais aos grandes grupos económicos? Vão continuar a fazer «cócegas» fiscais à especulação bolsista? Vão continuar a fazer «cócegas» fiscais aos rendimentos mobiliários? Vão continuar a fazer «cócegas» fiscais aos patrimónios de luxo dos ricos e dos poderosos e, ao invés, vão continuar a aumentar a carga fiscal sobre os trabalhadores, sobre os reformados, sobre as pequenas empresas?

Vão continuar a fazer cortes sociais no subsídio de desemprego? Vão continuar, de facto, a prosseguir com o vosso código genético de injustiça fiscal, que é a vossa marca genética ideológica?

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