O essencial deste relatório assenta em concepções que não subscrevemos.
Há aspectos que não nos suscitam discordância, embora devam ser relativizados no contexto geral do relatório.
O relatório propõe uma definição das Indústrias Culturais e Criativas (ICC) segundo a qual estas “assentam em valores culturais, criativos, individuais, competências e talento, susceptíveis de criar riqueza e emprego através da valorização da propriedade intelectual. Arquitectura, arquivos e bibliotecas, artesanato, audiovisual (incluindo cinema, televisão, jogos vídeo e multimédia), património cultural, design, indústrias do luxo orientadas para a criatividade e indústria da moda, festivais, música, artes performativas, livros e edição, rádio e artes visuais”. No fundamental, todas as áreas da actividade cultural que vêm sendo objecto de mercantilização, e áreas da produção de mercadorias a que agora se pretende atribuir um estatuto “cultural”. Basta olhar para o nosso país e imaginar as consequências que teria, num quadro cultural já tão degradado, a classificação do património, dos arquivos e bibliotecas, das artes em geral no universo das indústrias culturais, ao lado da moda, da joalharia, dos festivais e dos jogos vídeo, competindo com eles na “criação de riqueza e emprego através da valorização da propriedade intelectual”. Tratar-se-ia da consagração de uma concepção mercantilizadora da cultura que é, só por si, razão para rejeitar este relatório.