Intervenção de António Filipe, Membro do Comité Central, Encontro Nacional do PCP sobre eleições e a acção do Partido

Sondagens, um instrumento de pressão

Sondagens, um instrumento de pressão

Muitos amigos e camaradas ficam preocupados com as notícias sobre sondagens.

A preocupação é justa. Não pelos resultados que vaticinam, sejam eles quais forem, mas por serem instrumentos de pressão sobre os eleitores visando influenciar os seus sentidos de voto. Mais do que apresentar estudos de previsão de resultados, o que se pretende com a publicitação de sondagens é a fabricação de resultados, procurando fazer com que muitos eleitores decidam o seu sentido de voto não em função das suas experiências de vida ou das suas convicções, mas em função de supostos resultados ditados por sondagens.

Para nós, que não andamos cá para ver passar as sondagens, mas para lutar por uma vida melhor para o povo português, a preocupação tem de ser como intervir para construir um bom resultado, não nas sondagens, que não elegem deputados, mas nas eleições, cujos resultados vão decidir o futuro do país nos próximos anos.

As sondagens não são mais que exercícios virtuais, incapazes de prever com um mínimo de certeza os resultados eleitorais. Por muito criteriosa que seja a amostra selecionada, a elevada taxa de recusas de resposta que sempre se verifica, distorce a sua validade, tornando-a inevitavelmente aleatória.

Depois, entre os inquiridos que respondem, há os que respondem, mas não votam; há os que não respondem, mas votam; há os que respondem uma coisa e depois e votam outra, e há os que se declaram indecisos e que em regra, são muitos.

Só que como os indecisos não decidem e não fazem manchetes, alguém tem de decidir em seu nome. E como, adaptando um ditado popular, quem os indecisos reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte, bem podemos dizer que uma sondagem depois de torturada, confessa sempre.

E o objetivo dos torturadores é claro: usar os supostos resultados não como elemento informativo, que não é, mas como um instrumento de pressão sobre os eleitores para que decidam o seu voto não em função da realidade, mas em função de um cenário manipulado. O objetivo não é prever resultados, mas produzir resultados. Os exemplos que nos dão as últimas eleições realizadas em Portugal são muito claros.

Nas eleições legislativas de 2022, todas as sondagens davam um empate técnico entre o PS e o PSD. Era esse o cenário que interessava a ambos. Ao PSD para animar as hostes e ao PS para apelar ao famigerado voto útil agitando o papão da vitória da direita. O resultado foi uma diferença de 14 pontos percentuais entre o PS e o PSD e uma maioria absoluta que nenhuma sondagem previa.

Poucos dias depois veio a público um dos mentores da campanha eleitoral do PS dizer que nunca houve empate técnico nenhum. O que houve foi uma distribuição manipulada dos indecisos.

Mais recentemente, nas eleições para a Assembleia Legislativa da Madeira, todas as sondagens vaticinavam que a CDU iria perder o seu Deputado e todos os órgãos de comunicação social que as publicitaram deram esse palpite como um dado adquirido. A CDU não só perderia o Deputado como ficaria atrás do BE, da IL e do PAN. Mas afinal a CDU, não só não perdeu o Deputado como teve mais votos que o PAN, que o Bloco e que a Iniciativa Liberal.

Faltam dois meses para as eleições legislativas. Não sabemos o que vão ditar as sondagens, mas o que sabemos é que há muitos indecisos a convencer e há muitos votos a ganhar para a CDU. Há muitos votos a ganhar para a CDU, não porque as sondagens sejam boas ou más, mas porque os salários e as reformas precisam de ser aumentados, porque os serviços públicos têm de funcionar no respeito pelos direitos dos utentes e dos profissionais, porque é preciso garantir o direito à saúde, à educação, à habitação e à justiça, porque é preciso reforçar quem luta pela paz, quem quer mesmo combater a corrupção, quem luta pela justiça social e por uma alternativa de esquerda para Portugal.

E como escreveu Ary, o que é preciso é termos confiança. Isto vai, amigos, isto vai.

Viva a CDU!