Eu quero, em primeiro lugar, em nome dos vereadores do PCP, em nome da CDU, manifestar as nossas profundas e sentidas condolências às vítimas desta tragédia, particularmente, e queria sublinhar isso também, ao trabalhador da Carris, o Guarda-Freio da Carris, e os trabalhadores da Santa Casa da Misericórdia, que estão já confirmados entre as vítimas mortais. Há que prestar também solidariedade e condolências a todos os afetados. Em segundo lugar, quero assinalar a importância das operações e o empenho que foi colocado por um número muito grande de profissionais. Tiveram uma resposta pronta de grande dimensão à altura desta tragédia, que foi fundamental para assegurar um socorro pronto às vítimas. É necessário apurar tão rapidamente quanto possível as causas e as responsabilidades por esta tragédia, sendo certo que não deve ficar à margem de uma avaliação que agora tem que ser feita, a opções, e opções de gestão que, ao longo dos anos, foram sendo tomadas e que tiveram impactos, desde logo, nos serviços de manutenção destes equipamentos. A opção por privatização, externalização de serviços de manutenção alterou uma realidade que se manteve durante mais de 100 anos. Durante mais de 100 anos, os trabalhadores da Carris asseguraram não apenas a operação destes equipamentos, mas também a sua manutenção regular. A partir do momento em que se tomou a decisão política de destruir a capacidade oficinal e de manutenção da Carris, externalizando este serviço, nós tivemos ao longo dos anos, e este é o momento também de não esquecermos isso, fomos tendo sinais de que algumas coisas poderiam estar a não estar a correr bem. Logo após a decisão de externalização, os trabalhadores da empresa manifestaram a sua preocupação relativamente a problemas que estariam a surgir ao nível da manutenção e que tiveram uma repercussão visível num acidente, felizmente, de pequenas dimensões, no elevador da Bica. Nós tivemos também há não muitos anos, em 2018, um descarrilamento do elevador da Glória. A CDU desde sempre que se opôs a esta opção e aquilo que defendemos é que a empresa, neste caso a Carris (mas isto passa-se noutras empresas do setor público, nomeadamente nos transportes), readquiram a capacidade também no domínio da manutenção, para permitir uma melhor interação entre a operação e a manutenção, um maior conhecimento, uma maior experiência, e uma transmissão desse conhecimento e dessa experiência que não se pode adquirir quando a manutenção é entregue a empresas que a fazem durante três anos e depois passados três anos pode vir outra empresa, depois outra e nos intervalos outra ainda. Temos que aguardar pelos resultados dos trabalhos que estão a decorrer e teremos que depois apurar todas as responsabilidades, volto a dizer, inclusivamente no plano político.
Declaração de João Ferreira, Vereador do PCP na Câmara Municipal de Lisboa
Sobre o acidente ocorrido no elevador da glória
