Intervenção de Francisco Lopes, membro da Comissão Política e deputado do PCP à Assembleia da República

Sessão Pública "O Partido com Paredes de Vidro: o Partido, o Ideal e o Projecto Comunista" - Francisco Lopes

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Esta sessão pública integra-se no ciclo de iniciativas de evocação de Álvaro Cunhal. Uma evocação que envolve hoje aqui várias vertentes: o seu exemplo de vida e de luta; os cinco anos sobre a homenagem histórica que a classe operária, os trabalhadores, o povo português lhe prestaram; o Partido com Paredes de Vidro quando passam 25 anos sobre a sua primeira edição e tudo isto, lembrando a história, para se reflectir hoje e projectar no futuro, nesta luta exigente, motivante, indispensável, sempre associada ao Partido, ao ideal e ao projecto comunistas.

Passam amanhã cinco anos sobre a homenagem prestada a Álvaro Cunhal quando do seu falecimento, um acontecimento que recordamos e recordaremos pelo seu significado e dimensão.

A homenagem indissociável do seu exemplo de luta e de vida, do seu compromisso com a classe operária e os trabalhadores, da sua inserção no grande colectivo que é o Partido Comunista Português, o seu Partido de sempre, do seu compromisso de luta pela liberdade e a democracia, pelo ideal e projecto comunistas.

A homenagem ao exemplo de alguém que dedicou a sua vida aos interesses dos trabalhadores e do povo português, que deu expressão prática a uma concepção da acção política, oposta ao aproveitamento próprio ou ao serviço do capital, a opção pelos trabalhadores, o povo e o País que cada vez mais Portugal precisa.

Evocamos Álvaro Cunhal, o seu exemplo de vida e de luta, a sua contribuição prática, a sua obra teórica. Uma obra que é preciso ler mais, estudar mais, apreender mais, para a conhecer e utilizar como elemento de reflexão e intervenção, para identificar métodos e linhas de análise, como instrumento para interpretar e responder às questões de hoje e do futuro, na luta que continua, pela democracia e o socialismo. 

Uma vasta obra que integra o ensaio “O Partido com paredes de vidro”, uma das mais notáveis abordagens do partido comunista e do seu projecto, um elemento de grande interesse no plano nacional e internacional para a luta dos comunistas.
 
O Partido com paredes de vidro, partindo da realidade concreta e do seu desenvolvimento, quer das condições objectivas da realidade em que se actua, quer da experiência da acção partidária, da organização, dos quadros e militantes, aborda a questão do Partido. Aborda-o enquanto instrumento de acção revolucionária transformadora, formado por homens mulheres de diferentes gerações, com uma profundidade e abrangência notáveis e com uma dimensão humanista que é intrínseca ao projecto comunista e elemento indispensável na concepção e funcionamento do Partido.

Partido marcado inevitavelmente pelas características do ser humano, nos aspectos positivos e negativos, que por sua vez assume dimensões que são influenciadas pelas situações históricas, as formas de funcionamento e os objectivos.

O Partido que é também uma escola, que forma os seus quadros e militantes, estimula o seu aperfeiçoamento, em que objectivos políticos são objectivos a alcançar, mas são também valores de referência, que puxam pelas melhores características dos homens e mulheres que por eles lutam. 

O livro “O Partido com paredes de vidro” sendo da autoria de Álvaro Cunhal é considerado colectivamente pela Comissão Política do PCP, antes da sua edição em 1985, dada a natureza da abordagem que envolvia a apreciação da experiência e a sistematização de elementos essenciais sobre o Partido, o Ideal e o Projecto Comunistas.

Amplo nos temas que trata, denso e profundo, o livro parte da afirmação do projecto comunista, um ideal pelo qual vale a pena lutar, indissociável da teoria revolucionária – o marxismo-leninismo –, com a sua base dialéctica e fala-nos do Partido, a classe e as massas, do Partido como vanguarda, com a sua natureza de partido da classe operária e de todos os trabalhadores e simultaneamente o que melhor defende os interesses e direitos de todas as classes e camadas anti-monopolistas.

Define o grande colectivo partidário, contribuição particularmente importante, elevando a concepção do trabalho e da direcção colectivos à dimensão de todo o Partido, aborda as questões da democracia interna, dos princípios de funcionamento do Partido de forma criativa, aprofunda as matérias referentes à direcção e à autoridade, critica o culto da personalidade, revela uma grande sensibilidade na abordagem dos quadros e contribui para o que é a sua definição no conjunto dos membros do Partido, desenvolve a decisiva questão da organização, como expressão e instrumento do Partido e da organização e trabalho de massas.

Fornece elementos sobre a questão da formação moral dos comunistas, que radica em valores que se opõe à ética e à moral que decorre da exploração capitalista, considera a disciplina como imperativo de acção e maneira natural de agir, refere a unidade e os seus fundamentos e afirma o Partido com as características de partido independente e soberano, patriótico e internacionalista.

«O Partido com Paredes de Vidro» foi lançado em 1985 antes das derrotas do socialismo no Leste da Europa e numa determinada fase da vida nacional. Dezassete anos depois, em 2002, aquando da 6.ª edição portuguesa, Álvaro Cunhal faz um prefácio que é em si uma nova contribuição para o Partido e o ideal comunistas.

Olhando para uma realidade que tinha mudado muito; verificando o que as derrotas do socialismo tinham significado de retrocesso não só para os povos daqueles países mas para os povos de todo o mundo, reflecte, nas novas condições concretas, as questões que tinha adiantado anos antes. Faz uma análise crítica e auto-crítica. Aponta as limitações, contradições e a natureza exploradora e agressiva do capitalismo e reafirma a importância do projecto e do ideal comunista.

A leitura do prefácio da 6ª edição ligado ao conteúdo do livro mostra-nos também o seu método de análise na apreciação da realidade e a determinação, em cada momento, mas nunca ao sabor das circunstâncias, do rumo e das linhas de força necessárias para maximizar a eficácia da acção dos comunistas, da luta dos trabalhadores e dos povos, ao mesmo tempo que evidencia uma grande confiança no futuro.

Assinalar hoje o Partido com Paredes de Vidro é prosseguir a análise e definir conclusões a partir da realidade objectiva, é afirmar o Partido e a sua identidade comunista.

Assinalar hoje o Partido com Paredes de Vidro é concretizar a acção “Avante! Por um PCP mais forte, com o carácter integrado das várias direcções de trabalho, para cumprir o seu papel de Partido Comunista para com os trabalhadores, o povo e o País, ligando as questões de direcção, quadros, organização, estruturação, particularmente junto da classe operária e dos trabalhadores nas empresas e locais de trabalho e das organizações de base e o reforço dos meios próprios, ao propósito de reforçar a acção e alargar a influência e ligação às massas, afirmando o PCP e a sua identidade própria.

Assinalar hoje o Partido com Paredes de Vidro é preparar o PCP, esse grande, generoso e determinado colectivo partidário, dotando-o dos meios ideológicos, políticos e organizativos necessários para cumprir o seu papel, sejam quais forem as condições em que tenha que vir a actuar.

A situação que temos no País, na Europa e no mundo, a situação que enfrentamos e vamos enfrentar, exige essa capacidade, exige essa prontidão. Estamos e estaremos preparados. Lutamos e lutaremos pela ruptura com a política de direita, por uma política patriótica e de esquerda, pela democracia avançada e pelo socialismo.

Viva o Partido Comunista Português!